O reinado de Arthur Lira ainda não se encerrou, mas seu substituto já se coloca no centro das atenções do debate público com declarações que sugerem um mandato com mais flexibilidade e composição com forças partidárias para além do Centrão.
Com a consolidação do apoio da maioria das bancadas, das mais governistas à mais oposicionista, o relativamente jovem Hugo Motta (Republicanos-PB) atrai cada vez mais futuros pretendentes, ávidos a selar o casamento político no altar da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.
Algumas características de Hugo Motta o aproximam, contudo, não de Lira, mas sim de seu antecessor – Rodrigo Maia, eleito na esteira da cassação de Eduardo Cunha e do impeachment de Dilma Rousseff.
Maia também era relativamente novo e seu partido, o então democratas e atual União Brasil, era apenas a 8ª bancada em tamanho no Plenário da Câmara dos Deputados, colocando-se como uma opção de centro-direita e tendo mandatos à frente da Casa marcados por diálogo com a Minoria e cumprimento de acordos.
Lira, por contraste, também cumpriu acordos, mas apenas os fechados com o cartel de partidos que estava na base de seu poder, dando de ombros sistematicamente à Minoria e pautas a ela simpáticas, como as ambientais – à exceção daquelas em que havia interesse do Agro.
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O processo sucessório de Lira, todavia, gerou pequenas fraturas no Centrão, o arranjo político que o sustentava. Mesmo que agora esteja consolidado em torno de Motta, as disputas entre partidos como PSD, Republicanos, PP, União Brasil e MDB poderão crescer com a proximidade de 2026 e sua divisão estratégica para a disputa das eleições.
Neste cenário competitivo, o poder de atração do Executivo e a perspectiva de poder serão fundamentais para definir as forças gravitacionais da política brasileira, causando marés com capacidades de inundar a presidência de Motta, dificultando acordos para definir pauta e ritmo de votações no Plenário.
Nome | Partido | Membro da Coalizão | Posição da Bancada |
Antônio Paes de Andrade | PMDB | Sim | 1ª |
Ibsen Pinheiro | PMDB | Sim | 1ª |
Inocêncio de Oliveira | PFL | Sim | 2ª |
Luís Eduardo Magalhães | PFL | Sim | 2ª |
Michel Temer | PMDB | Sim | 3ª |
Aécio Neves | PSDB | Sim | 2ª |
João Paulo Cunha | PT | Sim | 1ª |
Severino Cavalcanti | PP | Não | 5ª |
Aldo Rebelo | PCdoB | Sim | 11ª |
Arlindo Chinaglia | PT | Sim | 2ª |
Michel Temer | PMDB | Sim | 1ª |
Marco Maia | PT | Sim | 1ª |
Henrique Alves | PMDB | Sim | 2ª |
Eduardo Cunha | PMDB | Sim | 2ª |
Rodrigo Maia | DEM | Sim | 8ª |
Arthur Lira | PP | Sim | 4ª |
Hugo Motta (?) | Republicanos | Sim | 7ª |
Será, portanto, um biênio com muitas armadilhas e para o qual um político pouco experiente talvez não esteja bem equipado, ainda mais por não contar com forte base partidária própria.
Conforme mostra a tabela, se Hugo Motta for de fato eleito, será a 6ª eleição seguida (três com Maia e duas com Lira) em que as maiores bancadas da Câmara não conseguem fazer a presidência, o que exige grande coordenação de forças partidárias para sustentar suas decisões.
A resposta, o significado mais profundo disso, paulatino à redução da fragmentação partidária, ainda é distante. Contudo, o tom a ser adotado por Hugo Motta poderá nos ajudar a entender melhor alguns pontos, em especial qual a causa da concentração de poder na presidência da Câmara dos Deputados.
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