O ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Interna (GSI), general Marco Edson Gonçalves Dias, disse em audiência da CPMI dos Atos Golpistas realizada nesta quinta-feira (31) que a invasão da Praça dos Três Poderes ocorreu por erros de avaliação no acompanhamento da situação cometidos por órgãos de assessoramento da própria pasta, especificamente a Secretaria de Coordenação e Segurança Presidencial e Coordenadoria Geral de Análise de Risco.
GDias, como é mais conhecido, alegou que foi conduzido por uma má avaliação dos fatos por ter recebido informações divergentes de pessoas que trabalhavam com ele. “Essa informações divergentes me foram passadas por pessoas como o senhor Saulo Cunha [ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência – Abin], a coronel Cintia [Queiroz] da Polícia Militar do Distrito Federal, e pelo meu secretário-executivo, general Penteado, na manhã do dia 8 de janeiro.”
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O general, exonerado em 19 de abril, chamou a reportagem da CNN que causou seu afastamento do cargo de “imprecisa e desconexa”. O vídeo em questão mostra o general GDias dentro do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro de 2023 com manifestantes bolsonaristas e provocou uma crise no governo, uma vez que o militar é próximo do presidente Lula. Ele foi a primeira baixa do governo.
Segundo o militar, as informações divergentes o fizeram ir voluntariamente até o Palácio do Planalto para entender o que estava acontecendo. GDias afirmou que a primeira semana do ano foi tranquila, mesmo diante da posse de Lula.
Sem convite
Segundo ele, o GSI ficou fora da reunião convocada para o dia 6 de janeiro pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal para discutir a situação do acampamento montado em frente à sede do Exército.
PublicidadeConforme Gdias, o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), sob guarda-chuva da Abin, tinha como canal oficial de troca de mensagens a ferramenta Correio SISBIN e durante os primeiros dias do governo, do dia 2 a 8 de janeiro, não foi passado nenhum relatório de inteligência pelo meio de comunicação.
“Com apenas cinco dias na função, trocava mensagens esporádicas com o senhor Saulo via WhatsApp do meu celular pessoal. Um aplicativo aberto não corresponde à forma correta para transmitir informações institucionais e sensíveis sobre a segurança nacional. Somente após o dia 8 tomei conhecimento que Abin adotou um grupo de WhatsApp para transmitir informações no qual estavam o centro de inteligência da Marinha, do Exército e da Força Área, o setor de inteligência do ministério da Defesa e a diretoria de inteligência do ministério da Justiça.”
Plano Escudo
O general enfatizou que houve ineficiência dos agentes que atuavam na execução do Plano Escudo, aprovado com a coordenação de diversos órgãos civis, militares e de segurança pública.
“Seria mais duro do que fui na repressão. Eu faria diferente, embora tenha plena certeza de que fiz todos os esforços e ações que estavam ao meu alcance para mitigar danos e preservar as vidas de cidadãos brasileiros sem derramamento de sangue, sem nenhuma morte.”
O ex-ministro afirmou que, no dia 8 de janeiro, foram cometidas agressões impensáveis à democracia brasileira e assumiu que teria agido de forma distinta, se possível.
“Eu era ministro-chefe do GSI e cabia a mim, funcionalmente e como cidadão brasileiro, preservar a sede do Poder Executivo do estado brasileiro, o Palácio do Planalto. No dia 8 de janeiro, com mais de 44 anos de cursos e experiências vividas dentro e fora do Exército, exerci efetivamente minha ação de comando na defesa e preservação do palácio presidencial em meio a um levante antidemocrático. Foi um ataque único e inédito e inimaginável para todos que são democratas e respeitam a Constituição.”
Polícia Militar do DF
Para o militar, o consórcio de ações da forças policiais da Polícia Militar do Distrito Federal é que não foi eficaz no cumprimento das atividades sob responsabilidade prevista no Protocolo de Ação Integradas (PAI).
GDias acrescentou que em reuniões prévias que tratavam da segurança na Esplanada dos Ministérios, convocadas pela Secretária de Segurança Pública do Distrito Federal, previa-se impedir o acesso de pessoas e veículos à Praça dos Três Poderes com o intuito de evitar que manifestantes chegassem ao Planalto.
“Eu determinei que o Plano Escudo se mantivesse ativo desde o dia 5 de janeiro e o confirmei na noite do dia 6 [de janeiro], sexta-feira. Todas essas medidas nos davam a segurança de que o planejamento e proteção estavam sendo executados e cumpridos, sem possibilidade de um evento daquela magnitude no dia 8.”