Mesmo com três ministérios sob seu comando, o União Brasil atua como um partido oposicionista na Câmara. Levantamento feito pelo Radar do Congresso, ferramenta de monitoramento do Congresso em Foco, revela que o União tem a quinta bancada que mais vota contra o governo Lula. O índice de governismo da legenda é de 63,49%. Esse é o percentual das vezes em que deputados do partido votaram em conformidade com a orientação do governo. Apenas o PSDB, o Cidadania, o PL e o Novo são mais oposicionistas, isto é, votaram mais vezes de maneira oposta à recomendação do Palácio do Planalto.
A bancada mais governista, como era de se esperar, é a petista, com índice de governismo de 98,88%. Outros seis partidos somam mais de 80% de adesão ao governo. São eles: PV, PCdoB, PSB, PDT, Avante e Solidariedade. O alinhamento de toda a Câmara com o governo é de 67% (veja mais abaixo o índice de governismo de cada partido e cada parlamentar).
O levantamento considera 62 votações nominais (aquelas em que o parlamentar declara o voto) registradas de fevereiro até o último dia 25. O índice não leva em conta a aprovação do PL 490/07, nessa terça-feira (30), que limita a demarcação de terras indígenas. A aprovação dessa proposta foi considerada uma derrota para o governo, que tem enfrentado sérias dificuldades para constituir sua base aliada no Congresso.
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Os três deputados que mais votaram contra o governo até agora são Osmar Terra (MDB-RS), Marcelo Alvaro Antônio (PL-MG) e Carla Zambelli (PL-SP). Os dois primeiros foram ministros de Jair Bolsonaro.
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Descontentamento
PublicidadePara o cientista político Ricardo de João Braga, há lógica nos números encontrados, que demonstram que o centro e a centro-direita da Câmara não estão contentes com o governo e estão sendo liderados de forma eficaz para demonstrar essa sua insatisfação.
“A coisa fica um pouco interessante é no miolo: os partidos que flertam com o governo, recebem benefícios dele, e ora votam a favor, ora contra. Aí a pergunta é qual a causa dessa rejeição seletiva ao governo”, avalia o coordenador do Congresso em Foco Análise.
Ricardo mesmo responde à pergunta: “Essa manobra para demonstrar insatisfação com o governo e exigir negociação mostra-se como um movimento do dito Centrão, liderado hoje por Arthur Lira. A razão para isso é a conquista de cargos e controle da liberação de emendas, hoje presos pelo governo.”
O cientista político pondera que é preciso analisar também a diferença qualitativa entre as votações, ou seja, a importância que a deliberação tem para os planos do governo. “Essa diferença pode demonstrar que o estrago causado pelos partidos do meio da tabela podem ser maiores ou menores – precisaria ser avaliado”, destaca.
* Colaboraram Lucas Vinicius (levantamento) e Thiago Freitas (design)