O senador Renan Calheiros (MDB-AL) usou a gráfica do Senado para imprimir um livro com 489 páginas em que defende sua biografia e apresenta “reflexões que a grande mídia não vê ou prefere não ver”. A publicação foi distribuída nos gabinetes dos senadores e deputados e a parlamentares eleitos que assumirão em 1º de fevereiro. Embora negue publicamente que será candidato à presidência da Casa, cargo que já ocupou por três vezes, Renan articula nos bastidores a sua candidatura.
“Neste livro você irá se deparar, aqui e ali, com fatos, relatos e reflexões que a grande mídia não vê ou prefere não ver. Coloco-as à disposição e ao juízo do leitor. Espero que o ajude a compreender decisões e atitudes que tomei e as consequências delas advindas”, diz o senador na introdução de Democracia Digital. “Sirva-se do livro. Leia-o nas férias e bom proveito”, sugere na apresentação.
“Tradição”
O Congresso em Foco teve acesso a trechos da publicação, cuja existência foi revelada pelo site Poder360. Segundo a assessoria do senador, a impressão de um livro anual é espécie “tradição” de Renan. Nenhum atingiu, porém, essa quantidade de páginas. De acordo com o gabinete, a publicação retrata a “fase tuiteira” do senador.
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Os senadores têm uma cota de uso da gráfica do Senado para publicações ligadas às suas atividades parlamentares. Procurado, o Senado não informou se permanece o valor de R$ 8,5 mil que vigorava em 2014, conforme registro em página antiga da Casa. Até o momento, já foram impressos 2 mil exemplares do livro. Renan diz que vai mandar imprimir outros 2 mil, em uma segunda edição, pois ficou insatisfeito com alguns pontos da obra. O emedebista alega que, por ter economizado nos gastos anteriormente, o crédito na gráfica do Senado dava direito a rodar até 4 mil exemplares.
O livro reúne projetos de lei, a íntegra de discursos do senador, postagens nas redes sociais – nas quais o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, autor de acusações contra ele, é um dos principais alvos –, além de entrevistas dadas à imprensa. Renan também fala de sua experiência nas redes e faz propaganda de suas páginas.
PublicidadePapel perante a história
O emedebista, que renunciou à presidência do Senado em 2007 em meio a um bombardeio de denúncias, filosofa ao dizer que pretende compartilhar com os colegas, veteranos e novatos, sua experiência em quatro décadas na política. “Nesta altura da vida, entendo que meu papel perante a história e à luz da experiência desses últimos 40 anos é ajudar a conectar o mundo abstrato e rarefeito do limite dos Poderes com a concretude da vida e mostrar o esforço permanente para fazer a minha parte”, escreve.
O livro também reproduz imagens inspiradas em xilogravuras e o cordel de um poeta alagoano que apresenta Renan como um “senador moderno” que virou alvo de “ataques e perseguições” por causa de sua atuação política. “Talvez a minha maior contribuição foi ter um olhar livre, leve e solto para não me render aos clichês das circunstâncias”, afirma o ex-presidente do Senado. Ele afirma que preserva suas origens e sua “sede de conhecer a realidade”.
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Renan também faz um análise do atual e do novo Congresso. Segundo ele, a legislatura que se encerra foi “demolida pelas urnas”. “A palavra de ordem desses tempos é reinvenção. É recomeçar a partir de um novo patamar. A política exige de nós esse exercício diário e cotidiano. Temos que entender, digerir e metabolizar as mensagens e lições deixadas pela eleição de 2018”, avalia.
Cuidado com ciladas
Alvo de 13 investigações no Supremo Tribunal Federal, a maioria da Lava Jato, o ex-presidente do Senado também dá conselho aos colegas que estão chegando e aos veteranos que não têm intimidade com o mundo digital para que não caiam em “ciladas”. “O grande desafio é entender esse poderoso e instigante instrumental (redes sociais), evitar suas armadilhas, neutralizar suas ciladas, intrigas, mentiras e colocar todo o seu imenso potencial positivo de conhecimento e opinião a serviço da democracia brasileira, do fortalecimento das instituições e do equilíbrio entre os Poderes”.
Mesmo com as negativas públicas, Renan articula nos bastidores sua candidatura à presidência do Senado. Como mostrou o Congresso em Foco nesta manhã, o senador se move nos bastidores para que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, mantenha a votação secreta para o comando da Casa. O desejo do emedebista deve ser atendido.
Toffoli decidiu nesta tarde negar pedido do deputado eleito Kim Kataguiri (DEM-SP) para que a votação na Câmara fosse aberta. A tendência é que o mesmo entendimento seja aplicado em relação à eleição no Senado.
Pressão por votação secreta
Segundo fontes ouvidas pelo Congresso em Foco em condição de anonimato, o alagoano está em Brasília e tem feito forte pressão – inclusive por meio de terceiros – para que Toffoli reveja a posição do ministro Marco Aurélio, que determinou a abertura da votação. Nesse caso, todos saberão como cada senador votou.
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A avaliação é de que, caso a votação seja fechada, pelo menos outros seis senadores poderão negociar apoio a Renan por baixo dos panos. Já a votação aberta, por esse mesmo raciocínio, criará constrangimentos a apoiadores do ex-presidente do Senado e poderá tirar votos dele. O emedebista é alvo de 13 inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), quase todos relacionados às investigações da Operação Lava Jato.
Renan já tem pelo menos cinco adversários na corrida pela presidência do Senado: Tasso Jereissati (PSDB-CE), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Major Olímpio (PSL-SP), Alvaro Dias (Podemos-PR) e Esperidião Amin (PP-SC). Também corre por fora o nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS), que não formalizou sua candidatura ao cargo, mas é vista como candidata competitiva entre diversos colegas.