Em artigo distribuído ontem (quinta, 30) às “editorias de opinião” dos veículos de comunicação – entre eles, o Congresso em Foco –, o deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) abre uma discussão que consideramos salutar sobre a atuação da mídia no caso da farra das passagens aéreas. Por isso, a seção Fórum, destinada a textos preparados por colaboradores e leitores para publicação exclusiva neste espaço, abre uma exceção e abriga o texto do parlamentar, que não reúne as garantias de ineditismo que procuramos dar ao nosso conteúdo.
O deputado não faz nenhuma referência direta ao Congresso em Foco, que levantou e publicou com absoluta exclusividade um farto conjunto de revelações à qual este site deu o nome de “farra das passagens aéreas”. Mas, além de criticar a expressão que nós e em seguida grande parte da mídia adotamos, o parlamentar nos oferece a oportunidade de esclarecer e pôr em discussão os critérios editoriais deste site.
Leia o artigo e, mais abaixo, nossos comentários e as principais matérias que publicamos sobre a farra das passagens.
Farra da desinformação
A solução é simples: colocar na internet o nome de quem usa as passagens e a razão da viagem. Mas como solucionar a farra da desinformação e da má-fé?
Dr. Rosinha*
Nas últimas semanas, senão todos os veículos de comunicação, pelo menos a maioria deles fez a maior agitação sob a expressão “farra das passagens”. É impossível acompanhar tudo o que divulgam os inúmeros órgãos e empresas de comunicação do país, mas é de se imaginar que o noticiário nacional tenha sido repercutido pela maioria de rádios, jornais e TVs regionais e locais. A internet não ficou atrás.
Ocorre que a farra das passagens virou a farra da desinformação, da generalização, da má-fé. Não vou entrar no mérito do certo ou errado, do legal ou ilegal, do moral ou imoral. Dou apenas um exemplo de como coisas diferentes foram tratadas como se fossem iguais. Tratou-se do assunto como se tudo fosse farinha do mesmo saco.
Vejamos: 1) Há o parlamentar que usou a cota de passagens para viagens de familiares; 2) Há o parlamentar que transportou namorada e pretensa sogra, ou seja, pessoas que não são parentes; 3) O que viajou a passeio e usou milhas para que a esposa viajasse com ele; 4) O que viajou a trabalho e a esposa o acompanhou, usando passagem da cota; 5) O que viajou a trabalho e a esposa o acompanhou, porém para a passagem dela foram usadas milhas; 6) O que foi lesado por funcionário corrupto, que vendeu as passagens da cota parlamentar para outrem, geralmente para uma agência de viagens.
Há casos que podem, sim, ser considerados imorais. Infelizmente, nenhum deles é considerado crime, pois, como disse o presidente da Câmara dos Deputados, não havia regras.
Como todos os parlamentares foram tratados como criminosos, creio que os que mais perderam foram aqueles lesados por seus funcionários corruptos. Saíram no noticiário como quem farreava com as passagens, e sequer sabiam que estavam sendo lesados no próprio gabinete.
A solução para o que ocorreu na Câmara é muito simples: definir a regra de uso e a cota de passagens de cada parlamentar e obrigá-lo a dar transparência à sua utilização, via internet. Ou seja, colocar na internet o nome de quem usa as passagens e qual a razão da viagem.
Com isso, solucionamos a “farra das passagens”. Mas como solucionar a farra da desinformação e da má-fé? A solução para ambas é mais difícil. Infelizmente, não há um conselho que analise a ética jornalística através do qual o cidadão poderia registrar suas queixas e pedir apuração.
Lembremos que alguns jornalistas e empresários travestidos de jornalistas criticaram e impediram a aprovação de uma lei que tratasse do tema. Parte da corporação reagiu em defesa de si própria, com se não cometesse erros, crimes e injustiças.
A desinformação, às vezes, também é resultado da própria ignorância do jornalista ou radialista. Na conturbada semana da “farra das passagens” e da desinformação, conversei com um radialista. Disse a ele que algumas esposas de deputados viajaram usando as milhas acumuladas por elas ou mesmo pelos deputados, em viagens anteriores. Ele me perguntou o que é “milha”.
Ora, se um profissional da informação, que contribui com a formação da opinião pública, não sabe o que é milha, dá para imaginar qual foi a cobertura feita por ele sobre o tema. Eu não imagino, eu sei o estrago que causou na reputação de alguns.
Nem todos que me leem neste momento sabem o que são milhas. A cada dez viagens por uma empresa aérea, o passageiro ganha geralmente uma outra viagem. Também podem somar pontos para contar como milhas de viagem a conta de telefone e o uso do cartão de crédito ou débito, por exemplo. Algumas viagens são feitas com esses pontos acumulados.
Como acabar com a desinformação? Não basta o jornalismo ser exercido por uma pessoa bem informada, é necessário que as empresas de comunicação sejam democráticas, plurais, e que, caso cometam algum crime, sejam punidas.
Estamos longe disso, mas um passo importante foi dado pelo presidente Lula ao convocar a primeira Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). A conferência nacional, que terá etapas prévias municipais e estaduais, será realizada no próximo mês de dezembro em Brasília, com o tema “Comunicação: meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital”.
Ser bem informado é um direito. Desinformar é crime.
* Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR) e vice-presidente brasileiro do Parlamento do Mercosul. E-mail: dr.rosinha@terra.com.br.
Os critérios editoriais do Congresso em Foco
O artigo do deputado Dr. Rosinha nos dá a oportunidade de prestar os seguintes esclarecimentos sobre nossos critérios editoriais e a cobertura da farra das passagens aéreas:
Não somos juízes
Em nenhum momento, as reportagens do Congresso em Foco sobre o assunto julgaram a conduta de qualquer um dos parlamentares citados. Muito menos qualificamos qualquer congressista de “criminoso”. Apenas relatamos fatos. As funções de aprofundar a investigação, denunciar, julgar ou punir cabem às autoridades competentes, inclusive do Congresso Nacional.
Farra, sim
Usamos a expressão “farra das passagens aéreas” de acordo com a consagrada prática jornalística de utilizar “selo” para a fácil identificação pelo público de um conjunto de fatos que guardam conexão entre si. Consideramos o termo apropriado para sintetizar o que ocorria em nosso Parlamento. Seja pela extensão, seja pela liberdade com que a cota de passagens vinha sendo utilizada, era mesmo, conforme a acepção encontrada no bom e velho Aurélio, uma “festa licenciosa”! Isto é, “que usava de excessiva licença, indisciplinada, desregrada”. Portanto, sem regras, como admitiu o presidente da Câmara e lembra o deputado Dr. Rosinha.
Tudo se confirmou
Tratando de tema extremamente delicado e que envolve surpreendente número de parlamentares, o Congresso em Foco publicou farto, exclusivo e explosivo material sobre o assunto e não encontrou, até o momento, nenhum elemento, fato ou prova de que tenha errado em qualquer uma das inúmeras matérias que colocou no ar sobre o assunto. Ao contrário. Outros veículos de comunicação acrescentaram detalhes novos que só reforçam a gravidade do caso, como as revelações feitas no último dia 24 pela Folha de S.Paulo e pelo Jornal Nacio