O documentário “A Câmara” (veja o trailer acima) estreia no Distrito Federal em sessão gratuita no Cine Brasília na próxima segunda-feira (19) às 19h. A exibição do filme dirigido por Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão será seguida de debate com a equipe do filme, mediado por Sylvio Costa, jornalista e fundador do Congresso em Foco.
A obra acompanha deputadas federais de diferentes partidos políticos no último ano do governo Jair Bolsonaro, em 2022. Ao direcionar a câmera às mulheres que ocupam a Câmara dos Deputados, o longa reflete também a sub-representação delas no Congresso Nacional. Embora representem mais da metade da população brasileira, as mulheres ocupam apenas 18% das cadeiras do Legislativo. Esta é, ainda assim, a maior bancada feminina da história do Congresso Nacional.
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Conforme ranking da União Interparlamentar (UIP), entre 193 países listados, o Brasil está na 131ª posição em relação à participação de mulheres na política. Tendo em vista essa distribuição discrepante entre homens e mulheres no parlamento, a diretora Cristiane Bernardes explica que a importância do projeto está em demonstar a falta de representação feminina, que mesmo sendo mais de 50% da população brasileira ainda é uma minoria política.
“O filme tem esse objetivo de mostrar um pouco o trabalho das mulheres, a diversidade das mulheres que ocupam essas posições e também a injustiça que é nós não ocuparmos proporcionalmente, com equidade, essas posições de poder”, explica a diretora.
Ao longo dos 89 minutos do documentário essa diferença na representação no Congresso pode ser observada nas discussões sobre temas como direitos reprodutivos, Estado laico e polarização política sob um recorte das parlamentares. Com raízes na perspectiva documental do cinema observacional, “A Câmara” vai do público ao privado, dos discursos nas comissões e plenário às articulações e conversas nos corredores e gabinetes.
Publicidade“Nossa aposta foi em um filme pautado no cotidiano e na observação dos pequenos detalhes. O filme tenta abarcar a complexidade do jogo performático e de relações que impera no Congresso”, diz o diretor Tiago de Aragão. “Foi desafiante porque a agenda do Congresso é bem instável, mesmo com planejamento junto aos gabinetes, a gente sabia que tudo poderia ir por água abaixo”.
Com rodagem em festivais, como o Festival DocLisboa, onde estreou mundialmente em outubro de 2023, a 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes e o 5º PiriDoc, “A Câmara” também teve sessões na Inglaterra, França e em universidades brasileiras. O documentário é o primeiro longa-metragem da produtora brasiliense Sal e contou com apoio do Congresso em Foco durante a produção.
Além disso, “A Câmara” também se relaciona com a pesquisa acadêmica na área. O longa é um dos resultados da pesquisa internacional “Etnografia Global Comparada de Parlamentos, Políticos e Cidadãos” (Global Comparative Ethnographies of Parliaments, Politicians and People), coordenada pela antropóloga Emma Crewe, da Universidade de Londres (SOAS). A pesquisa e também o filme foram financiados pelo Conselho Europeu de Pesquisa (European Research Council).