Celso Lungaretti *
Depois de uma canhestra e infrutífera tentativa de salvar-se do impeachment anunciado no tapetão do Supremo Tribunal Federal, nada mais resta a Dilma Rousseff afora a perspectiva de ter (pelo menos) dois terços dos deputados federais decidindo que ela faz jus ao impedimento. Era um placar negativo difícil de atingir. Ela conseguiu. Um fenômeno.
Qual a chance de, no Senado, ela não ser depois fulminada por maioria simples? Nenhuma. Zero. Game over.
Ainda assim, Dilma parece disposta a continuar esperneando até o mais amargo fim, para depois ser clicada pelos fotógrafos ao retirar-se chutada do Palácio do Planalto enquanto os adversários estiverem festejando por todo o país. Após buscar tão diligentemente a derrota, ainda vai posar de derrotada, para gaudio dos que há muito queriam ver sua cabeça empalhada exposta na parede dos troféus.
Há quem louve tal teimosia, como se fosse espírito de luta. Não é.
Guerreiros de verdade não insistem em travar batalhas suicidas, para serem dizimados junto com seus efetivos, enquanto ainda existe uma mínima possibilidade de se retirarem com uma vitória na derrota, preservando suas forças para uma futura revanche.
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O que seria uma retirada organizada, agora que barrar o impeachment se evidencia como totalmente impossível? Eis o roteiro:
- renúncia de Dilma tão logo o impeachment seja aprovado na Câmara;
- na mensagem derradeira, exortação de Dilma a Temer, no sentido de que renuncie também e dê ao povo brasileiro a possibilidade de escolher alguém em quem realmente confie para conduzi-lo neste momento dramático da vida nacional, pois até as pedras sabem que os eleitores votam em presidentes e não dão a mínima para quem seja o vice;
- imediata adesão do PT e outras forças de esquerda à campanha por uma nova eleição presidencial, revivendo o espírito das diretas já.
Uma vez que Dilma cultua tanto a imagem de Getúlio Vargas, por que não o imita?
Não precisaria abrir mão da vida, só do cargo.
Encostar o Temer na parede, apontando-o ao povo como o grande obstáculo à melhor solução para a crise, seria o equivalente à carta-testamento.
E, caso tal ato gere uma reviravolta que impeça o inimigo de colher o fruto podre de suas tramoias, o paralelo se completará.
Assim um guerreiro de verdade faria. Assim fez Vargas.
Assim fará Dilma, se ainda prezar sua dignidade e se ainda for fiel à opção, assumida meio século atrás, de colocar as necessidades e interesses do povo sofrido acima de quaisquer considerações de ordem pessoal.
* Jornalista, escritor e ex-preso político. Edita o blogue Náufrago da Utopia.
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