O deputado Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP) ocupou a tribuna da Câmara, nessa quarta-feira (17), para homenagear o Dia Internacional da Vishyvanka, veste tradicional da Ucrânia, terra de seus antepassados. Em seu discurso, o deputado de extrema-direita exaltou a participação de seu avô, o ucraniano Bohdan Bilynskyj, como combatente na Segunda Guerra Mundial e exemplo para sua atuação política. Bohdan foi voluntário da Waffen-SS, exército pessoal do ditador alemão Adolf Hitler, fato conhecido e divulgado pelo parlamentar em suas redes sociais. Sua fala foi logo repudiada pelo Instituto Brasil-Israel, uma das instituições de representação da comunidade judaica no Brasil.
“Essas vestes são uma homenagem às minhas origens, ao meu avô Bohdan Bilynskyj, que chegou ao Brasil, em 30 de setembro de 1948, após lutar bravamente pela liberdade de seu país, invadido por russos comunistas. (…) Meu avô Bohdan, aos 20 anos de idade, lutou em uma guerra mundial para libertar a Ucrânia das garras do comunismo. E hoje, como deputado federal, ao lado de meus irmãos, luto contra a instalação de um regime comunista no Brasil”, declarou o parlamentar em plenário, sem apresentar qualquer evidência que confirme o paralelo histórico.
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A Ucrânia era uma das repúblicas que formavam a extinta União Soviética antes da Segunda Guerra Mundial. Contando com uma forte presença de separatistas, o país no leste europeu atraiu uma grande quantidade de simpáticos ao regime nazista durante o período de ocupação alemã, o que resultou na criação de unidades da Waffen-SS formadas por voluntários ucranianos. De acordo com o próprio deputado, seu avô foi um deles, alistando-se em sua 14ª Divisão de Granadeiros.
Parte dos voluntários ucranianos chegou a lutar em outras frentes, como na Itália, onde entrou em confronto com a Força Expedicionária Brasileira e as demais forças aliadas.
O historiador e sociólogo Michel Gherman, assessor acadêmico do Instituto Brasil-Israel, repudiou a fala de Bilynskyj. “Quando você se orgulha do seu avô ter lutado contra invasão russa soviética durante a Segunda Guerra Mundial, você coloca como elemento de contraponto o nazismo. Ou seja: se a ideia é lutar contra a invasão russa, a outra invasão possível é mais palatável. (…) Você está se orgulhando, deputado Bilynskyj, de seu avô ter lutado ao lado dos nazistas”, afirmou.
Gherman ainda chama atenção para a participação dos soldados ucranianos da Waffen-SS no Holocausto, política de extermínio alemã que resultou na morte de mais de 7 milhões de judeus, ciganos e outros grupos perseguidos pelo regime. “Seu avô lutou ao lado dos nazistas que massacraram, no território ucraniano inclusive, a família do meu avô. Foram responsáveis, no território inclusive, pelo massacre de judeus na Operação Barbarossa com as deportações aos campos de extermínio. É esse o motivo de seu orgulho, deputado Bilynskyj?”, questionou o historiador.
PublicidadeO pesquisador do Instituto Brasil-Israel ressalta que “quando há nazismo e outro lado, qualquer que seja, a comparação não é possível, já que o nazismo é o mal absoluto”.