O deputado Delegado Waldir (PSL-GO) não mede as palavras. “Sem as emendas de relator, os projetos de reeleição de Arthur Lira para a Câmara e de Rodrigo Pacheco para o Senado estão seriamente comprometidos”, diz ele, nesta entrevista exclusiva ao Congresso em Foco.
Em seu terceiro mandato consecutivo, o delegado da Polícia Civil de Goiás evita usar o termo orçamento secreto, como ficaram conhecidas as emendas RP9, as indicações de distribuição de recursos feitas pelo relator da Lei Geral do Orçamento. Ele admite, no entanto, que falta transparência ao modelo, uma vez que não se conhece quem é, de fato, o parlamentar que destina a verba nem qual é o beneficiário final da emenda orçamentária.
O modelo, segundo Waldir, foi criado ainda quando comandavam a Câmara e o Senado Rodrigo Maia (sem partido-RJ), atual secretário de Projetos e Ações Estratégicas do governo de São Paulo, e Davi Alcolumbre (DEM-AP). Mas passou a ganhar volume mais considerável agora, como principal instrumento de barganha política com o governo. “Isso não teria problemas se fosse transparente. Porque beneficia de fato os municípios”. Mas, não sendo transparente, há garantia de que de fato a destinação chega integral aos municípios, pergunta o Congresso em Foco. “Aqui não é uma casa de santos”, responde Delegado Waldir.
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Ex-líder do PSL na Câmara, ele conhece bem como se operam as emendas. Segundo o deputado, a cada votação o governo determina quanto liberará de recursos para obter um bom resultado. A partir dessa informação, o relator do orçamento distribui os recursos em negociação com os presidentes da Câmara e do Senado. “Rodrigo Pacheco também opera, não é só Arthur Lira”, afirma ele. Os deputados e senadores negociam suas destinações com o relator do orçamento. Eles não discutem diretamente, segundo Waldir, com Lira e Pacheco.
“Se o escândalo anterior tinha criado os Anões do Orçamento, este criou os Gigantes do Orçamento”, comenta o deputado. E essa, segundo ele, é a razão pela qual resolveu tornar público o que acontece nos bastidores. Para Waldir, a forma pouco transparente como a negociação ocorre vem fazendo com que alguns parlamentares mais influentes – e as cidades da sua região – sejam fortemente beneficiados, em detrimento de outras. “Essa foi a minha razão. O meu estado de Goiás está sendo prejudicado, e eu não posso aceitar isso”. A primeira vez que o deputado falou abertamente sobre o assunto foi em entrevista ao repórter Guilherme Maziero, do Intercept. Na ocasião, ele disse que Lira assegurou R$ 10 milhões para cada parlamentar que votou nele.
Dizendo-se ainda aliado de Bolsonaro, apesar de ter brigado com o presidente e o deputado Eduardo Bolsonaro pela liderança do partido em 2019, Waldir diz que Jair Bolsonaro virou um “fantoche” e está “sequestrado” pelo Congresso. “O controle ficou na mão do presidente da Casa e do relator. Quem for amigo do rei tem emenda. Quem não for amigo do rei não tem”, afirmou.
PublicidadeVeja a entrevista de Waldir:
Procurado pelo Congresso em Foco, Rodrigo Pacheco disse que não tem ingerência sobre o Orçamento, ao contrário do que diz Waldir. “Não procede a informação. As emendas de relator são prerrogativas do Congresso, materializadas no trabalho do relator geral do Orçamento”, afirmou. A reportagem também questionou Arthur Lira, mas não houve retorno até o momento.
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