O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez uma entrevista crítica ao governo Lula em seus últimos dias no cargo. Em entrevista ao jornal Valor Econômico publicada nesta sexta-feira (31) — véspera da eleição da nova Mesa Diretora da Casa –, o político alagoano diz que a relação do governo com a sua base “não está em ordem” e que o apoio de partidos ao governo em 2026 depende de a própria administração federal ganhar credibilidade: “Ninguém vai embarcar num navio que vai naufragar”.
Na entrevista, assinada pelos jornalistas Marcelo Ribeiro, Murillo Camarotto e Fernando Exman, o hoje presidente da Câmara faz uma série de observações sobre o atual momento da gestão Lula 3:
- perda de popularidade — “Nós estamos com um problema. É fato. Algumas pesquisas, eu não posso garantir, indicam um declínio na aprovação e credibilidade do governo. Se o governo trabalha com dados, ele tem que ver onde é que está machucando toda essa questão. Foi só o Pix? […] O segundo biênio é o momento do governo analisar. Eu penso que o presidente Lula tem bastante expertise política para saber o que fazer e o que não fazer”.
- base do governo — “O presidente precisa conversar mais com a base dele. Se não com todos os deputados, pelo menos com os líderes. Não está em ordem. Não está bem o momento. A fotografia não está adequada.”
- reforma ministerial — “Tem que começar pelo próprio PT. O presidente disse que vai começar por lá, e deve começar por lá. Inclusive, eu acho que em relação aos outros partidos aliados devia se ter uma temperança para não trocar seis por meia dúzia e não ter efeito nenhum.”
- economia — “Hoje a Selic é 13,25% ao ano, na próxima [reunião do Copom] vai para 14,25% porque já está precificada e aí aumenta a boca do jacaré: a cada ponto é R$ 50 bi na dívida interna. É um quadro preocupante.”
- apoios em 2026 — “Eu acho que o governo só tem que fazer a reforma [ministerial], só tem que dar o ministério […] para quem for apoiar em 2026 mesmo. […] Agora, para um partido entrar no navio, ele tem que sentir confiança na empresa, sentir confiança no timoneiro, saber que o navio não vai afundar e que vai chegar em algum lugar. Você pega um navio que vai afundar?”
- apoio em 2026 — “O apoio eleitoral depende de economia e de possibilidades. De novo: ninguém vai embarcar num navio que vai naufragar, sabendo que vai naufragar. Eu não faria alteração governamental de apoio para ministérios se não tivesse compromisso de base e compromisso de eleição”
Lira foi presidente da Câmara de 2020 a 2024, durante a segunda metade do governo Bolsonaro e a primeira metade do atual mandato de Lula. A eleição para presidente da Câmara, marcada para o sábado (1º), deve eleger o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) como sucessor, com o apoio de Lira.