Enquanto, o percentual de deputados federais que tentam a reeleição bateu recorde neste ano, chegando aos 87,5%, a parcela dos que não irão disputar a continuidade no cargo, por outro lado, é o menor da história recente. Dos 513 congressistas, apenas 15, ou seja, 2,9%, abandonaram os palanques ou, em alguns casos, se farão presentes apenas como coadjuvantes.
O índice chama atenção uma vez que a eleição deste ano para o parlamento tem sido encarada como uma das mais acessíveis à continuidade de mandatos.
Um levantamento da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais indica alguns fatores para o otimismo frente às reeleições. O primeiro deles é o índice médio de aproveitamento dos parlamentares da Casa: 65%, dentro de uma série histórica iniciada em 1990.
Em seguida, estão as vantagens – visibilidade, estrutura, verbas de gabinete e emendas para repasses aos municípios – de quem está no exercício do mandato; mudanças na legislação eleitoral e partidária e o ambiente político desta eleição que “embora seja de renovação para a eleição presidencial, não está tão pressionado por mudanças no Congresso Nacional como ocorreu em 2018”, tal qual observa Antônio Augusto de Queiroz, ex-diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) e idealizador e coordenador da publicação Cabeças do Congresso.
Os motivos alegados por aqueles que desistiram de concorrer a cargos eletivos este ano variam bastante e vão desde “motivação pessoal” e “vontade de curtir os netos”, até brigas partidárias e de federações, sem esquecer daqueles que resolveram ceder a vez a outros membros da família ou tiveram problemas com a justiça eleitoral.
Veja os deputados que abdicaram desta eleição:
- Áurea Carolina (PSOL-MG)
- Bilac Pinto (UNIÃO-MG) –
- Edna Henrique (REPUBLICANOS-PB)
- Eleuses Paiva (PSD-SP)
- Genecias Noronha (PL-CE)
- Guilherme Mussi (PP-SP)
- Henrique Fontana (PT-RS)
- Herculano Passos (REPUBLICANOS-SP)
- Jerônimo Goergen (PP-RS)
- José Mário Schreiner (MDB-GO)
- Márcio Macêdo (PT-SE)
- Pedro Bezerra (PDT-CE)
- Rogério Peninha Mendonça (MDB-SC)
- Renato Queiroz (PSD-RR)
- Sergio Toledo (PV-AL)
- Shéridan (PSDB-RR)
Partidos e federações
A negativa de legenda para concorrer a outros cargos, que não o de deputado, foi um dos motivos alegados por alguns parlamentares que desistiram da eleição deste ano. É o caso do deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), que pretendia disputar o Senado, mas como o partido apostou em outro nome, ele resolveu retornar à iniciativa privada.
Publicidade“Eu não queria parar, me preparei para disputar o Senado, coloquei o nome à disposição para isso, mas a decisão do partido foi outra. Eu preferi não romper com o partido, mas eu não tinha como voltar atrás porque já havia uma construção prévia com outros nomes, então decidi não me candidatar”, explicou Goergen. Ele afirma que vai retomar as atividades como advogado e, em paralelo, cuidar do Instituto Liberdade Econômica.
“Criei um instituto de liberdade econômica. Eu fui relator da Lei da Liberdade Econômica, que considero um legado. Então para não deixar isso morrer, pretendo seguir o trabalho estimulando outros a fazerem leis e propostas dentro desta pauta.”
Goergen estava no terceiro mandato político.
Já Bilac Pinto (UNIÃO-MG), que acumulava sete mandatos, decidiu retirar o nome das urnas também por questões partidárias. Incialmente ele era cotado para compor a chapa majoritária de Romeu Zema, junto com o Novo, em Minas Gerais.
“Nós estávamos tentando articular meu nome numa composição majoritária com [Romeu] Zema (Novo). Não conseguimos evoluir e eu estava com sete mandatos já, então decidi me aproximar mais da família em uma nova fase. Optei por não buscar mais um mandato político, mas continuo na política. Só que agora vou me dedicar a iniciativa privada”, disse.
Bilac é secretário-geral do União em Minas, cargo que manterá.
Família
Também entre os motivos recorrentes para as saída da corrida eleitoral esteve a decisão de ceder lugar para outros membros da família, seja por barreiras judiciais, seja por projetos futuros.
Herculano Passos (Republicanos-SP) e Shéridan (PSDB-RR) abriram mão da disputa pelos respectivos conjunges que concorrem, neste ano, ao Congresso.
“Eu acredito que a política precisa ser oxigenada, de tempos em tempos. Já cumpri dois mandatos e considero que ajudei bastante o Estado e o País. Agora, vou apoiar a Rita Passos, porque, além de ser experiente e muito capacitada, é mulher e a política precisa de mais mulheres”, respondeu o deputado Herculano. Rita Passos é a esposa dele e o parlamentar mantem planos de se lançar prefeito de Itu nas eleições de 2024.
Cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), o deputado Genecias Noronha (PL-CE) também abdicou da tentativa de reeleição e lançou o filho, Matheus Noronha (PL), de 24 anos.
Ainda no Ceará, o deputado Pedro Bezerra (PDT) optou por ficar fora dos palanques e no lugar dele quem disputa é o pai, Arnon Bezerra, ex-prefeito de Juazeiro do Norte. Arnon já esteve no Congresso por sete mandatos, anteriormente. O filho dele, no entanto, exercia o primeiro mandato, tendo sido eleito como o décimo parlamentar cearense mais bem votado em 2018.
Uma “decisão pessoal”
“É uma decisão de período de vida e uma avaliação minha. Não tem regra para isso de deixar a política ou seguir. Cada pessoa tem uma avaliação pessoal e eu avaliei que ia encerrar este ciclo como deputado”, comentou Henrique Fontana (PT-RS) que está no grupo dos que, apesar de consolidados no Congresso e com vários mandatos no histórico, resolveram deixar as eleições de lado para se dedicar a “questões pessoais”.
Após de cinco mandatos consecutivos, Fontana diz que não pretende mais disputar campanhas. Nega, entretanto, que vá se afastar completamente da política, mas quer atuar no partindo apenas dando suporte a outros nomes. “Ainda não tenho muito claro como será [pós-eleição]. Não é uma decisão simples, mas chega uma hora na minha avaliação é que interessante fazer esta mudança de ciclo”, concluiu.
De maneira semelhante, após 32 anos de mandatos consecutivos o deputado Rogério Peninha (MDB-SC) segue passos semelhantes no sentido oposto ao Congresso Nacional.
“Foram oito eleições consecutivas – duas de prefeito, três para deputado estadual e três para federal. Isso dá 32 anos de mandato consecutivos e sempre defendi renovação. Então estou apoiando um jovem de 35 anos que tem mais pique e energia. Decidi que está na hora de cuidar de minha família, dos meus netos, de ter um outro ritmo de vida”, comentou Peninha.
Ele confessa que não sabe se vai cumprir a “promessa” de ficar longe da política. “A política, dizem, é uma cachaça e vicia. Eu vou continuar, está no sangue, mas preciso pensar em participação que não exija tanto”, acrescentou dizendo que por hora o único plano que tem para o próximo é passar um tempo de descanso com a família.
Em nome do amor
Antes de iniciar qualquer calendário eleitoral, ainda em 2021, o deputado federal Guilherme Mussi (PP-SP) postou na rede social Twitter que não iria concorrer mais para parlamentar. Ele namorado da atriz Mariana Rui Barbosa e, de acordo com o jornal Extra, a decisão seria para não mais expor a jovem.
Em julho de 2020, Mussi foi destaque no noticiário por ter votado pelo aumento do fundo eleitoral e fazê-lo de forma virtual, enquanto acompanhava a namorada no tradicional festival de cinema de Cannes, na França. Mariana Rui Barbosa participava do evento a convite de uma marca para a qual fazia propaganda.