O ministro da Educação, Milton Ribeiro, pediu nesta segunda-feira (28) demissão da pasta ao presidente Jair Bolsonaro. Sob o comando do pastor, o órgão da educação foi holofote de crises, que atingiu em cheio a pasta e às autarquias e empresas vinculadas. O ministro também se notabilizou por proferir falas consideradas homofóbicas e preconceituosas, a exemplo das críticas à inclusão de crianças com deficiência na educação escolar.
O pastor e professor Milton Ribeiro foi o quarto ministro da Educação no governo Bolsonaro. Ele assumiu a pasta em julho de 2020, após a gestão de Carlos Alberto Decotelli, que deixou o cargo cinco dias depois de ser nomeado. Antes, estiveram à frente do ministério: Ricardo Vélez Rodríguez (janeiro a abril de 2019) e Abraham Weintraub (abril de 2019 a junho de 2020).
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Com perfil considerado discreto e moderado em relação aos seus antecessores, o ex-ministro seguiu à risca os moldes de Jair Bolsonaro se encaixando na ala ideológica que agrada o chefe do Executivo.
Suspeita de favorecimento indevido
O principal motivo da queda de Milton Ribeiro veio à tona na última semana, quando uma série de reportagens dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo denunciarem a existência de um “gabinete paralelo” formado por pastores, que controlariam a liberação de verbas e a agenda do Ministério da Educação. Em uma das matérias é divulgado uma conversa gravada em que Milton Ribeiro disse, em encontro com prefeitos, que o governo prioriza amigos de pastores a pedido do presidente Jair Bolsonaro.
Na conversa, segundo o ministro, a prioridade é atender prefeituras que tenham pedidos de liberação de verba negociados pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que integram suposto gabinete paralelo dentro do Ministério da Educação.
PublicidadeCrise no Inep
A menos um mês da realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em novembro de 2021, 37 servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do MEC responsável pela prova, pediram demissão dos seus cargos.
Em documento encaminhado à diretoria do Inep, os funcionários atribuíram a saída pela “fragilidade técnica e administrativa da atual gestão máxima” do órgão. Também foram mencionados episódios de assédio moral.
Na mesma época, também foi relatado uma tentativa de interferência na montagem do Enem. Servidores afirmaram ter sofrido pressão psicológica e velada para que evitassem escolher questões polêmicas que eventualmente incomodariam o governo.
Crianças com deficiência
Em entrevista à TV Brasil, em 9 de agosto de 2021, Milton Ribeiro afirmou que há crianças com “um grau de deficiência que é impossível a convivência”. Segundo ele, quando um aluno com deficiência é incluído em salas de aula comuns, ele não aprende e ainda “atrapalha” a aprendizagem dos colegas.
A fala, ocorrida em uma agenda na cidade de Recife, foi recheada de críticas ao inclusivismo. “Nós temos hoje 1,3 milhão de crianças com deficiência que estudam nas escolas públicas. Desse total, 12% têm um grau de deficiência que é impossível a convivência”, disse o ministro. Esta foi a segunda vez que o ministro se posicionou contra a postura inclusiva: no início do mesmo mês, o ministro disse – sem nenhuma base científica – que crianças com deficiência “atrapalhavam, entre aspas” o ensino de crianças sem deficiência.
A fala irritou senadores – entre elas Mara Gabrilli (PSDB-SP), uma das poucas pessoas com deficiência com mandato no atual Congresso. “Senhor Milton Ribeiro, em primeiro lugar, estude a nossa Constituição e aprenda que ela é inclusivista, sim, e nós, no Senado, e toda a sociedade brasileira iremos defender o direito à igualdade na educação. É um direito fundamental da nossa Constituição”, disse. “E, já que o senhor não reconhece o valor da diversidade na sociedade, torna-se impossível reconhecê-lo como ministro da Educação.”
Gays são de “famílias desajustadas”
Em setembro de 2020, Milton Ribeiro, disse que jovens homossexuais são consequência de “famílias desajustadas”. A declaração foi dada em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo.
“Acho que o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (sic) tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe. Vejo um menino de 12, 13 anos optando por ser gay, nunca esteve com uma mulher de fato, com um homem de fato e caminhar por aí”, disse.
Na mesma entrevista, o ministro criticou a educação sexual em escolas, afirmando que “é importante falar sobre como prevenir uma gravidez, mas não incentivar discussões de gênero”.
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