A reunião da CPI da Covid desta quarta-feira (11) ouviu o diretor-executivo da farmacêutica Vitamiced, Jailton Batista. Em oitiva, o depoente negou que tenha vendido comprimidos de ivermectina ao Governo Federal. A comissão apura o lucro das farmacêuticas que fabricam medicamentos que compõe o “kit covid”, conjunto de remédios sem eficácia comprovada para combater a covid-19.
De acordo com o depoente, Jailton Batista, diretor-executivo da Vitamiced, a empresa patrocinou um documento “técnico e médico” a favor dos medicamentos sem eficácia. Os parlamentares também constataram o financiamento da empresa Vitamiced em publicações de artigos da Associação Médicos pela Vida a favor do tratamento precoce. “A Vitamedic foi solicitada a dar apoio e suporte à chamada associação Médicos pela Vida no patrocínio de um documento técnico, médico, e ela o fez”, confirmou.
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Além disso, os senadores confirmaram o aumento do faturamento da empresa após as recomendações do presidente Jair Bolsonaro para o uso dos medicamentos. Jailton levou apresentou a Comissão o faturamento do negócio. De acordo com relatórios de posse da CPI, as vendas da ivermectina saltaram de 24,6 milhões de comprimidos em 2019 para 297,5 milhões em 2020 — um crescimento superior a 1.105%. O preço médio da caixa com 500 comprimidos subiu de R$ 73,87 para R$ 240,90 — um incremento de 226%. Vitamedic também foi alvo de um requerimento de informações aprovado em junho pela comissão.
Em agosto de 2020 a Vitamedic anunciou investimentos da ordem de R$ 320 milhões para expansão do parque fabril no Distrito Agroindustrial de Anápolis, em Goiás. Entre os produtos que puxaram o crescimento da empresa estava, justamente, a ivermectina, medicamento sem eficácia contra a covid e que, apesar de servir apenas ao combate à vermes intestinais, foi defendido publicamente pelo presidente Bolsonaro como aconselhável para pessoas com coronavírus.
Os senadores também apontaram os crimes cometidos através das recomendações do TratCOV para superdoses de remédios sem eficácia comprovada para tratar a covid-19. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), recomendou que a população de Manaus procure a defensoria pública para pedir indenização da Vitamiced por danos a vida de entes queridos. Acompanhe os principais pontos do depoimento:
Depoimento
PublicidadeAumento nas vendas de Ivermectina
O depoente confirmou ao senador Renan Calheiros (MDB-AL) que houve um aumento nas vendas do medicamento sem eficácia comprovada contra a covid-19. Apesar disso, Jailton negou a associação do aumento das vendas as propagandas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro.
Efeitos colaterais
O executivo disse que os efeitos colaterais do remédio são mínimos. Os senadores leram a bula do remédio na CPI da Covid. Jailton confirmou ao colegiado que a ivermectina não é antiviral.
Indicação para a covid-19
Jailton confirmou ao colegiado que a empresa não produz nenhum medicamento indicado para combater a covid-19. Questionado sobre os motivos da empresa continuar vendendo a ivermectina, o depoente respondeu que a empresa atende “as demandas do mercado”. Apesar disso, o representante da Vitamiced disse não ter conhecimento sobre encontros de integrantes da empresa e membros do Governo Federal.
Médicos pela Vida
De acordo com o depoente, a Vitamiced patrocinou uma publicação da Associação Médicos pela Vida a favor do “kit covid”, conjunto de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento de covid-19. O senador Fabiano Contarato (Rede-ES), destacou que o apoio da empresa a Associação pode ser configurado como crime. “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”, disse.
Relação com o empresário Carlinhos Cachoeira
Jailton Batista confirmou que a dona da Vitamiced é ex-esposa do empresário Carlos Cachoeira, que foi investigado por uma CPMI no Congresso Nacional em 2012. De acordo com o senador Otto Alencar (PSD-BA), o primeiro nome da empresa Vitamiced foi Vitapan e pertenceu ao empresário Carlos Cachoeira.
O senador da Bahia definiu como crime o estímulo apoiado pela empresa sobre o tratamento precoce ou preventivo com os medicamentos do “kit covid”. De acordo com Otto, na Bahia a Vitamiced ergueu um outdoor para estimular os tratamentos, mas Jailton negou que a empresa financiou esse tipo de propaganda.
Superdose
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apontou alguns equívocos do TratCOV que estava sendo testado em Manaus no pico da pandemia de covid-19. Ele questionou o depoente quantos comprimidos são indicados para cada pessoa, Jailton respondeu que era de dois a quatro, a depender do peso e da prescrição médica. O próprio depoente tomou quatro comprimidos em um tratamento. O vice-líder da Comissão exibiu uma das recomendações do aplicativo idealizado por Mayra Pinheiro, secretária do Ministério da Saúde, conhecida como “capitã cloroquina”, que recomendava cinco comprimidos por dia.
O parlamentar questionou se a Vitamiced apoiou o TratCOV em Manaus e Jailton respondeu que não. Randolfe então o confrontou com uma foto de doação de 180 caixas da empresa a Manaus. O presidente da Comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), e o vice-presidente, Randolfe Rodrigues, recomendaram que a população de Manaus que perderam entes queridos devido ao tratamento precoce procurem a defensoria pública para receberem indenização da empresa.
Luis Heinze (PP-RS) x Otto Alencar
O senador Luis Carlos Heinze apresentou um áudio fora do contexto a respeito do senador Otto Alencar. Na exibição, o senador Otto defende o uso da Ivermectina contra a covid-19, mas o senador Heinze não apresentou a veracidade do material. O senador Otto não estava presente na sessão, apesar de ter registrado presença na reunião. Ele se recupera em casa da infecção por covid-19 e participou de forma virtual da oitiva.
Questionado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que estava presidindo a CPI no momento, o senador Heinze iniciou uma discussão com a parlamentar. “Esse áudio é do início da pandemia. A ciência evolui. As pessoas achavam q a terra era plana. A ciência mostrou que não é”, disse Eliziane.
Com as intervenções da senadora, o senador Heinze pediu a Eliziane respeito “por ser um senhor de idade”. A presidente da Comissão afirmou que não estava sendo respeitada e solicitou que o parlamentar respeitasse pelo menos o senador Otto Alencar que não estava presente no momento para se defender. Foi preciso suspender o microfone do senador Heinze para encerrar a discussão.
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