Texto escrito por Julia Varela Morais *, Laura Zicatto Valente ** e Renato Monseff Perissinotto ***
Quais são os atributos que aumentam as chances de sucesso eleitoral para o cargo de deputado federal? Essa pergunta norteou uma pesquisa abrangente que analisou as eleições para a Câmara dos Deputados de 2010 a 2022. Para responder a essa questão, não nos limitamos a estudar o cenário institucional, mas também investigamos os perfis dos candidatos e dos eleitos, buscando entender como se forma a elite política parlamentar brasileira e quais fatores favorecem ou dificultam o ingresso de novos membros.
Entre as variáveis estudadas, os fatores políticos, especialmente a incumbência e a profissionalização, destacam-se como os principais preditores de sucesso eleitoral. A incumbência – a condição de já exercer o mandato – mostrou-se uma variável cada vez mais influente ao longo do período, culminando em sua maior relevância nas eleições de 2022. Esse dado reforça a ideia de que a continuidade no cargo político não só aumenta as chances de sucesso eleitoral, mas também contribui para a estabilização da elite política. Em outras palavras, a permanência nos cargos eletivos tende a fortalecer as bases do poder e a criar barreiras para a entrada de novos candidatos, o que ajudaria a consolidar a estrutura do sistema político ao longo do tempo.
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Além das variáveis políticas, características sociais e demográficas dos candidatos também exerceram influência. A escolaridade, especialmente o nível superior completo, mostrou-se uma vantagem em todas as eleições analisadas: candidatos com formação universitária tendem a obter mais votos, o que sugere que o eleitorado valoriza um certo nível de qualificação. Quando observamos as profissões dos candidatos, engenheiros e empresários emergem como perfis de sucesso eleitoral elevado, enquanto profissões historicamente prestigiosas, como a advocacia, perderam influência ao longo dos anos.
No entanto, a questão de gênero revelou um paradoxo. Houve um aumento no número de candidatas ao longo dos anos, mas esse crescimento não se refletiu de maneira proporcional no número de mulheres eleitas. Mesmo com a implementação de medidas institucionais, como a reserva de 30% do fundo partidário para candidaturas femininas, a sub-representação feminina persiste no parlamento brasileiro, evidenciando que apenas mudanças institucionais não são suficientes para garantir uma representação mais equitativa. Questões culturais e estruturais também precisam ser enfrentadas para que se atinja uma verdadeira igualdade de gênero na política.
A ideologia partidária também foi analisada e trouxe achados interessantes: candidatos de centro e direita enfrentaram impacto negativo em algumas eleições, enquanto candidatos de esquerda oscilaram entre resultados positivos e negativos ao longo do período. Esses dados sugerem uma volatilidade ideológica que merece investigação adicional em futuras pesquisas.
Em resumo, a pesquisa revelou que o sucesso eleitoral dos deputados federais no Brasil está intimamente ligado à experiência política e ao profissionalismo dos candidatos, com o apoio de fatores sociais e demográficos, como escolaridade e ocupação. No entanto, mudanças em curso, como o aumento das candidaturas femininas e a oscilação dos fatores ideológicos, indicam que o cenário eleitoral pode passar por transformações significativas nas próximas eleições.
* Graduanda de Ciências Sociais na Universidade Federal do Paraná e bolsista de Iniciação Científica do INCT ReDem.
** Graduanda de Ciências Sociais na Universidade Federal do Paraná e bolsista de Iniciação Científica do INCT ReDem.
*** Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, professor de Ciência Política da UFPR e coordenador do Eixo Elites Políticas do INCT ReDem.
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