Em visita ao Plenário do Senado para uma audiência sobre temas econômicos atuais com os senadores, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a taxa de inflação anual deve vir mais alta nos próximos meses por conta da baixa nos preços registrada no segundo semestre de 2022 – ou seja, a base de comparação vai ficar mais baixa. Ele também admitiu que a taxa de juros real no Brasil é alta em comparação à de outros países da América Latina, mas ponderou que a diferença vem caindo nos últimos dez anos.
Durante mais três horas, Campos Neto apresentou indicadores sobre a política monetária do país e respondeu aos questionamentos de 17 parlamentares. Seu comparecimento ao Senado atendeu a uma determinação da Lei de Autonomia do Banco Central (Lei Complementar 179, de 2021), que prevê a apresentação de relatórios semestrais ao Senado.
Segundo o economista, o possível aumento da inflação deve ser analisado no âmbito da baixa da inflação causada pela desoneração tributária que os combustíveis sofreram em 2022 no governo Bolsonaro e mantida no início do governo Lula. O presidente do Banco Central também mencionou estudos sobre como a inflação prejudica os mais pobres. Campos Neto lembrou que reajustes salariais foram feitos nos últimos meses.
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“A gente tem que olhar a inflação de 12 meses levando em consideração que no último semestre a desoneração de combustível teve um efeito baixista [na inflação]. A inflação vai ter movimento de alta de 12 meses já agora até o fim do ano. A inflação é um ‘imposto’ que afeta as classes mais baixas e gera um aumento da desigualdade, isso tem sido demonstrado em vários estudos. [Mas] os trabalhadores começaram a ter reajuste [salarial] ligeiramente acima da inflação.”
Sobre os juros altos, Campos Neto afirmou que de 2014 a 2019, a taxa de juros no Brasil era 3,6% acima da média. Entre 2021 e 2023, foi 2,9%. Hoje, é 2% acima da média. “Então, a taxa de juros real do Brasil hoje é alta? É. Mas ela é bem menos alta em relação à média do que foi no passado. Essa crítica de que a taxa de juros é muito alta é verdadeira, mas não resiste à análise comparativa intertemporal”, disse Campos Neto.
Pouso suave
Roberto Campos Neto diz que o BC atuou corretamente ao promover um “pouso suave” da inflação. Conforme o economista, o Banco Central fez um bom trabalho em termos de “pouso suave”, que é trazer a inflação para baixo com o mínimo de custo possível. “Se a gente comparar o que caiu com a inflação no Brasil, proporcional ao que gerou ou ao que aconteceu no emprego e o que aconteceu com o crescimento econômico, a gente tem dificuldade de achar um outro país no mundo que tenha conseguido reduzir a inflação nessa mesma proporção, quase sem alteração no crescimento e com geração de emprego no mesmo período.”
PublicidadeO senador Eduardo Braga (MDB-AM) cobrou do Banco Central a busca pelo pleno emprego. O líder do MDB no Senado ressaltou que esse é um dos objetivos do órgão disposto na Lei Complementar 179, de 2021.
“O Banco Central também tem por objetivo fomentar e zelar pelo pleno emprego. Se tornou independente, mas não se tornou intocável. Se a história do Brasil é de juros altos e de crescimento baixo, fruto também desses juros altos, não vamos gerar emprego e renda se continuarmos com esse binômio.”
Apesar de concordar com a condução da política monetária do Banco Central e com a gestão de Campos Neto, o senador Esperidião Amin (PP-SC) defendeu que haja uma checagem nos “radares” dos cenários brasileiros e internacionais para que a política de juros não seja conduzida de “maneira tão dispendiosa”.
Amin apresentou um cálculo indicando que, desde a adoção do Plano Real, o Brasil apresenta uma taxa de juros 7,4% a mais que a média dos países do Ocidente. O que representa, segundo o senador, que o Brasil já pagou, em juros, mais de US$ 1 trilhão a mais que nos outros países. “Isso representa três vezes mais do que as nossas reservas internacionais”, alertou.
Circulação de papel moeda
O volume de papel moeda em circulação no Brasil é de R$ 285 bilhões, isso representa R$ 10 bilhões a menos do que o verificado em 2022. Questionado pelo senador Angelo Coronel, o presidente do Banco Central disse que a digitalização da moeda por meio de ferramentas como o PIX e o recém-lançado Drex tende a reduzir a circulação de dinheiro em espécie.
“Umas das coisas que a gente tem uma economia grande é porque não precisa gastar tanto tempo e tanto dinheiro imprimindo papel moeda. Por outro lado, a gente gasta mais em tecnologia. O PIX tem um custo de manutenção que vai subindo, porque são R$ 140 milhões de negociações por dia. A medida que isso vai acontecendo, o papel tende a diminuir. Se vai deixar de existir, é difícil fazer essa previsão”, afirmou Roberto Campos Neto.
*Com informações da Agência Senado