Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com pendências judiciais ocuparão a Comissão de Comunicação da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (11) para conversar com parlamentares bolsonaristas. Por requerimento do deputado Gustavo Gayer (PL-GO), alvo de inquérito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que investiga autores de atentados contra o sistema eleitoral, o colegiado pretende ouvir, em audiência pública, o blogueiro Allan dos Santos, agitador político bolsonarista foragido nos Estados Unidos.
A audiência terá como tema a “Institucionalização da censura no Brasil”. A lista de convidados é formada em sua ampla maioria por apoiadores de Jair Bolsonaro que ganharam destaque na comunicação. Ela inclui o jornalista Alexandre Garcia, demitido da CNN por defender tratamentos ineficazes para a covid-19 durante a pandemia; os comentaristas Rodrigo Constantino e Zoe Martínez, demitidos da emissora Jovem Pan em janeiro por atraírem investigações sobre fake news no período eleitoral, entre outros.
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Um convidado que só poderá participar via videoconferência é Allan dos Santos. Investigado tanto no Inquérito das Fake News quanto no que investiga a formação de milícias digitais bolsonaristas, o blogueiro é alvo de um mandado de prisão preventiva emitido em outubro de 2021, mas permanece em solo estadunidense desde então, fora da jurisdição brasileira. Seu passaporte foi revogado em novembro de 2022.
Além dos processos no STF, Allan dos Santos conta com uma condenação por calúnia no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, decorrente de um vídeo de 2017 em que acusou sem provas a cineasta Estela Renner de oferecer drogas a crianças. O influenciador recebeu uma pena de um ano e sete meses de detenção.
O autor do requerimento que dá origem à audiência é Gustavo Gayer, outro agitador que ganhou notoriedade no governo Bolsonaro. Em maio de 2020, início da implementação de medidas de controle da covid-19, Gayer foi até Brasília para atacar a reputação de um grupo de enfermeiros que protestavam na Praça dos Três Poderes em defesa das políticas de prevenção à doença.
O até então empresário levou um jaleco consigo, e gravou um vídeo junto a uma vendedora ambulante em que acusava os profissionais de enfermagem de subornar transeuntes para que se passassem por médicos apoiadores do protesto. O vídeo viralizou, resultando ao mesmo tempo em denúncias ao Ministério Público Federal e em uma explosão de seguidores em suas redes sociais. Divulgando notícias falsas sobre política e sobre a pandemia, Gayer conseguiu lucrar cerca de R$ 40 mil em um ano com seu canal do YouTube.
PublicidadeSeu nome foi citado no relatório da CPI da Covid-19 como um dos propagadores de desinformação sobre a doença e denunciado à Procuradoria-Geral da República (PGR). Em 2022, eleito deputado federal, passou a ser investigado pelo corregedor-geral eleitoral, Benedito Gonçalves, em ação que apura o envolvimento de candidatos bolsonaristas em uma campanha coordenada com objetivo de abalar a credibilidade das urnas eletrônicas, visando assim a atacar o próprio sistema eleitoral.
Além de agitadores, a lista de convidados também inclui representantes das principais big techs contrárias ao PL das Fake News, o advogado Ives Gandra Martins, simpático a Bolsonaro, e o ex-ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), outro eleitor do ex-presidente.