A eleição para a presidência da Câmara será realizada apenas em 1º de fevereiro de 2025, mas as articulações para a escolha do sucessor de Arthur Lira (PP-AL) já estão a todo vapor. Duas festas nesta semana mobilizaram ministros de Lula (PT), parlamentares e presidentes de partidos em torno de dois dos principais postulantes ao cargo: os líderes do PSD, Antonio Brito (BA), e do União Brasil, Elmar Nascimento (BA).
Elmar é um antigo aliado e o nome apoiado por Lira, ainda que não de forma oficial por enquanto. Brito, líder do PSD, é o potencial desafiante, com imagem positiva entre parlamentares de centro e proximidade com o governo Lula.
As festas em Brasília são uma forma tradicional de se aproximar dos deputados, de líderes ao baixo clero. Outro pré-candidato importante, Marcos Pereira (Republicanos-SP), fez o mesmo em abril. Mas as festas de Brito e Elmar, uma seguida da outra, mostraram que ambos estão vivos na disputa.
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Brito e os aniversariantes do PSD
As demonstrações de força começaram na terça-feira (9), com a comemoração dos aniversariantes do mês no PSD em um restaurante no Lago Sul, região nobre de Brasília. Logo na entrada do local, porém, o real objetivo do evento ficava claro: Brito, que nasceu em janeiro, fez questão de receber os convidados na porta, sorrindo e posando para fotos.
O espaço ficou apertado para a grande quantidade de convidados que passaram por lá. A lista de presença incluiu 9 ministros do governo Lula, incluindo o titular da Justiça, Ricardo Lewandowski, e o chefe das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Dois dos três ministros indicados pelo PSD também passaram por lá: Alexandre Silveira (Minas e Energia) e André de Paula (Pesca). Dos correligionários no governo Lula, apenas Carlos Fávaro (Agricultura) não compareceu.
Dos parlamentares de diversas correntes políticas que prestigiaram o evento, havia ainda grande número de deputados bolsonaristas. Quando perguntados, os congressistas evitavam responder se já tinham escolhido um candidato para chamar de seu, mas apontavam o bom relacionamento de Brito com todos.
PublicidadeTambém chamou a atenção a presença dos presidentes do PSD, Gilberto Kassab, e do PL, Valdemar Costa Neto, no evento. Os dois caciques da política conversaram por alguns minutos. Valdemar, inclusive, afirmou a jornalistas ter brincado com seu ex-colega de Câmara: “Vou meter o ferro em você”, em referência às eleições municipais.
Lira esteve no evento, mas fez uma visita protocolar: chegou por volta das 21h, conversou com algumas pessoas – dentre elas, Valdemar – e foi embora pouco mais de 30 minutos depois.
Elmar Nascimento, principal advsersário de Brito, teve postura semelhante. Chegou por volta de 23h30, quando o evento já estava quase no fim, e saiu rapidamente durante a apresentação da cantora baiana Gilmelândia, sucedendo o sambista Dudu Nobre.
Ao final do evento, um feliz Antonio Brito comemorava a passagem de “600 pessoas” pela comemoração. E com a promessa de que, se eleito presidente da Câmara, tornaria o clima da Casa mais leve.
Os 54 anos de Elmar
No dia seguinte, Elmar Nascimento deu sua demonstração de força – mesmo com a agenda política concentrada na votação do projeto de lei para regulamentar a reforma tributária na Câmara. A festa para comemorar os 54 anos do líder do União Brasil foi um grande evento, com palco, e lotou uma casa espaçosa também no Lago Sul.
O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, esteve no evento cedo, antes do próprio aniversariante chegar. Alckmin não esteve na festa de Brito no dia anterior. Questionado se sua presença sinalizava apoio do governo à candidatura de Elmar, Alckmin negou e disse que estava ali apenas para “dar um abraço” no líder do União Brasil. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, outro ausente no evento de Brito, argumentou na mesma linha: “Isso aqui é um aniversário. Não é ato de lançamento de campanha”.
Ao todo, 11 ministros compareceram, incluindo todos os indicados pelo União Brasil. Alguns, como os petistas Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Luiz Marinho (Trabalho), repetiram a dose e foram em ambas as comemorações.
Após a aprovação da regulamentação da reforma tributária, os deputados começaram a aparecer. Antonio Brito chegou às 21h20. Lira chegou por volta das 22h30 e ficou até depois da meia noite, mais tempo que no dia anterior. Por enquanto, o presidente da Câmara indica a aliados que só vai indicar seu sucessor em agosto. Mas Elmar é tido como o favorito do deputado alagoano.
Figuras influentes do União Brasil compareceram. O presidente da sigla, Antônio Rueda, o ex-prefeito de Salvador e vice-presidente do partido, ACM Neto, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Também estiveram presentes Valdemar Costa Neto, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
A música ficou a cargo da banda de axé Timbalada. No final da apresentação do grupo, Elmar, bastante sorridente, foi cercado por uma rodinha de amigos que pulavam ao som do frevo “Vassourinhas”, um clássico do Carnaval.
Novamente, ninguém quis cravar um resultado sobre a disputa à presidência da Casa. Um dos congressistas brincou reservadamente que, se a eleição fosse resolvida pelo tamanho das festas, Elmar estaria na frente.
Há um pouco de razão na observação do parlamentar. Enquanto a disputa pela sucessão de Lira não se torna pública, as festas são um indicativo de poder – mostram a capacidade dos pré-candidatos de agregar nomes de peso em torno de si. Pelo menos regionalmente, a corrida vai se afunilando: tanto Brito quanto Elmar são políticos baianos. Será a primeira vez que um representante da Bahia toma posse da Presidência da Câmara exatos 30 anos depois de Luís Eduardo Magalhães, último representante do Estado a ocupar o posto.