No fundo, vencer a eleição para o comando do Senado nunca fora a pretensão do grupo de oposição que lançou a candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) contra a reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Como contou o Congresso em Foco, o plano principal era enfraquecer a vitória de Pacheco, torná-la menor, como um teste a estabelecer de que tamanho será a oposição parlamentar ao governo Lula, especialmente a sua posição mais extremada.
Nesse sentido, a tarefa posta, não confessada oficialmente, era fazer com que Rodrigo Pacheco vencesse com menos de 50 votos. Esse objetivo os oposicionistas conseguiram. Pacheco foi eleito com 49 votos. Seu adversário, Rogério Marinho, após a desistência de Eduardo Girão (Podemos-CE), teve 32 votos.
Esse é, então, o tamanho da pedra oposicionista colocada no sapato de Lula a partir do Senado? Para os principais articuladores do governo envolvidos na negociação com o Congresso, não. Entre os votos dados a Rogério Marinho, há outras motivações além do sentimento de oposição ao governo. Relacionadas a questões internas, especialmente ao grande poder dado ao senador Davi Alcolumbre (União-AP). Tais motivações não estão ligadas às pautas de interesse do governo e se dissipam agora diante da reeleição de Pacheco.
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Emendas e CPIs
Assim, o governo trabalha com uma base de 53 senadores que teriam disposição de diálogo diante da agenda e das propostas que serão feitas por Lula, especialmente a reforma tributária. “Trabalhamos com a possibilidade de uma base de 53 senadores”, confirmou ao Congresso em Foco o senador Humberto Costa (PT-PE). “Serão 53 votos”, reforçou em outro momento o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, que tomou posse como senador pelo PT do Piauí.
“Se serão 53 votos, o governo tem uma base para aprovar emenda constitucional”, observa o cientista político Ricardo de João Braga, um dos responsáveis pelo Painel do Poder, pesquisa trimestral que o Congresso em Foco Análise realiza, sempre com 70 dos principais líderes da Câmara e do Senado. “Mas a oposição, então, tem 28 votos. Ou seja, ela tem votos para instalar uma comissão parlamentar de inquérito. Esse é o quadro. Essa é a correlação de forças”.
Para o ex-senador paraense Paulo Rocha, que liderou a bancada do PT na legislatura que agora se encerrou, o tamanho de fato de uma oposição mais sistemática ao governo no Senado ficará em torno de 20 votos, sendo 16 aqueles mais extremados, com os quais o governo Lula não conta em hipótese nenhuma, como Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e Damares Alves (Republicanos-DF).
PublicidadeJogo de cintura
Tudo terá de ser negociado caso a caso. E aí deverá valer a propalada capacidade de negociação de Lula, forjada na sua história de líder sindical. Paulo Rocha compara, então, essa capacidade com a que tinha a ex-presidente Dilma Rousseff. “Lula, diferentemente de Dilma, tem jogo de cintura. Por todas as suas características, o governo será a junção da esquerda que o compõe com o centro democrático, e é dessa forma que as coisas vão evoluir. Por exemplo, combinar a questão fiscal, que é ponto de honra para esse centro, com a nossa filosofia de desenvolvimento social. É por aí que o diálogo será construído”.
“Nós vencemos”, comemorava ao final da eleição o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. “Nem de longe os 32 votos dados a Rogério Marinho representam o tamanho da oposição”, completa. “Acho que a oposição sólida ao governo são os 8% da sociedade que apoiou a tentativa de golpe no dia 8 de janeiro. Para além dessa minoria absoluta, as coisas serão negociadas caso a caso”.
Nesse ponto, concorda um eleitor de Rogério Marinha, o senador Alessandro Vieira (PSDB-SE). “Os 32 votos obtidos por Rogério Marinho são expressivos. Mas eles se destinam a dar recados internos. Recados sobre a necessidade de renovação dos métodos dentro do Senado. Não tem nenhuma relação com a discussão dos temas da agenda que vier a ser apresentada pelo governo”, considera.
Alcolumbre
O principal ponto dessa insatisfação interna chama-se Davi Alcolumbre. Principal articulador da candidatura à reeleição de Pacheco, Alcolumbre foi o seu antecessor. E os adversários agora de Pacheco afirmam que o plano de Alcolumbre é voltar a presidir o Senado daqui a dois anos, quando acabar o novo mandato de Pacheco. Em seu discurso como candidato, Rogério Marinho fez questão de reforçar isso. “Será possível que em uma casa com 81 senadores, teremos somente dois se alternando no poder por dez anos?”
Eufórico após a vitória de Pacheco que ajudou a construir, Alcolumbre não negou nem confirmou suas pretensões de retorno após o fim do mandato de Pacheco. “Quero que Deus me dê saúde. Mas eu não sei como será o dia de amanhã”, afirmou. “O que de fato importa é que Rodrigo Pacheco comportou-se com altivez na presidência do Senado, e foi isso o que de fato esteve em jogo. A campanha de Rogério Marinho deixou de falar de Rodrigo Pacheco para falar de mim. Eu fui espancado por uma semana”.
Outro dos principais articuladores da campanha de Pacheco, que fez questão de agradecer por esse empenho, o senador Otto Alencar (PSD-BA) admite que se esperava uma votação um pouco maior do que a que houve. “Esperávamos 52 votos”, disse ele. “De qualquer modo, é uma vitória expressiva que coroa a condução de Pacheco no seu primeiro mandato. O ex-presidente Bolsonaro queria um presidente do Senado em posição de genuflexão a ele, e não obteve isso de Pacheco. E essa mesma altivez prossegue agora. Se houve uma renovação grande de senadores, tenho convicção que a grande maioria deles é constituída de pessoas de juízo, que vêm para o Senado com a intenção de contribuir para o país”.