O deputado Amom Mandel (Cidadania-AM) relata ser alvo de constantes ameaças de morte e intimidações em seu estado desde 2023. Aos 23 anos, o parlamentar mais jovem da Câmara tem como uma de suas bandeiras o enfrentamento ao crime organizado na Amazônia. Em sua participação no primeiro episódio do Congresso em Foco Podcast, ele alerta para a expansão de facções criminosas em sua região, atualmente a segunda mais violenta do país.
Confira a íntegra da entrevista:
Estudos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que os estados da Amazônia alcançaram, ao longo do ano de 2022, uma média de mortes intencionais 45% superior à do resto do país. Quando observados os municípios classificados como ambiente urbano, a incidência piora, superando a média nacional em 52%. Paralelamente, 22 facções criminosas foram rastreadas na região.
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A Amazônia Legal possui 772 municípios, dos quais 178 possuem ao menos uma facção criminosa em seu território. Desses, 80 configuram zona de disputa entre diferentes grupos armados, submetendo mais de 8 milhões de habitantes ao conflito que envolve narcotraficantes, garimpeiros, madeireiros e outros atores clandestinos. Essa questão não passa despercebida pelas autoridades: no final do último mês de janeiro, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Roberto Barroso, manifestou sua preocupação em perder a soberania da região para o crime organizado.
Amom Mandel conta ao Congresso em Foco que a situação evoluiu de modo que as facções criminosas já conseguem angariar força política local. Isso ocorre principalmente em municípios onde falta poder econômico por parte do eleitorado, que fica vulnerável às garantias oferecidas por candidatos ligados ao crime organizado.
Publicidade“Às vezes, tanto nas comunidades mais carentes de Manaus quanto nos interiores, [criminosos] acabam dominando os espaços de poder elegendo vereadores, elegendo deputados, elegendo prefeitos através do assistencialismo. Como essas pessoas não têm hoje plenas condições de dar uma boa educação aos filhos, obter acesso a determinados medicamentos ou mesmo colocar comida na mesa, o assistencialismo acaba sendo um mecanismo de poder das facções criminosas”, explicou.
O parlamentar acredita que as autoridades amazonenses não são capazes de lidar com a crise de segurança pública por conta própria. “Como podemos esperar que o Estado brasileiro na esfera municipal e na esfera estadual consigam agir contra o crime organizado, quando nós temos indícios de que o próprio crime organizado é hoje o próprio Estado brasileiro ou parte do Estado brasileiro nessas instâncias?”, questiona.
As ameaças sofridas pelo deputado começaram quando ele anunciou o envio de um dossiê à Polícia Federal, elaborado por agentes da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, apontando o envolvimento de membros do Comando Vermelho com a cúpula da pasta, bem como na gestão municipal. O governo amazonense nega, e o prefeito de Manaus, David Almeida, alega falta de provas e acusa o parlamentar de calúnia para fins eleitorais. O prefeito e o deputado foram rivais na Câmara Municipal de Manaus.
Mais do que uma intervenção, Amom defende que a União assuma publicamente a agenda da segurança pública na Amazônia como uma de suas prioridades. “Enquanto as autoridades brasileiras não estiverem dispostas a ter essa exposição, a colocar a cara a tapa contra o crime organizado, o Estado brasileiro não vai ter a capacidade de se impor e combater o crime organizado”, argumentou.
Além do esforço concentrado na segurança pública, Amom defende a implementação de um trabalho multifacetado para minar a autoridade das facções locais. “Para além de uma intervenção na segurança pública, nós precisamos atuar na questão de base, como na educação, por exemplo. A ausência do Estado brasileiro na educação e saúde no Amazonas também colabora para o avanço da criminalidade”, apontou.
Apesar de aparecer nas pesquisas eleitorais para a prefeitura de Manaus, Amom conta que, no momento, não pretende disputar o cargo, tendo como prioridade seus projetos ainda em andamento no Congresso Nacional.
A entrevista também está disponível no Soundcloud: