Lúcio Lambranho – Enviado especial
Tegucigalpa (Honduras) – A rádio Globo, uma das únicas emissoras hondurenhas que condenam o golpe de estado, foi invadida por militares nas primeiras horas da manhã do dia 28 de junho quando o presidente Manuel Zelaya foi retirado do país. Rony Martinez, um dos apresentadores da emissora, classifica como “pesadelo” as quatro horas que ele e seus colegas de trabalho ficam sob custódia dos militares.
“Quando olhamos a rua em frente vimos atiradores de elite apontando para o prédio. Romperam as portas à força e mandaram todo mundo ficar deitado no chão. Disseram que não se podia falar em golpe enquanto o mundo todo já sabia o que estava acontecendo”, relembra o jornalista e apresentador do programa Notícias Rádio Globo.
Há apenas 10 anos no mercado, a emissora teve suas transmissões cortadas depois do golpe cada vez que colocava no ar entrevista com ministros do governo deposto ou com o próprio Zelaya. Nesta rápida entrevista concedida segunda-feira (13) ao Congresso em Foco, Martinez dá sua versão sobre o golpe e acredita que a crise só será resolvida com a volta do presidente deposto.
Congresso em Foco – O que deve acontecer nos próximos dias em Honduras? Os protestos serão mais violentos ou devem diminuir de intensidade?
Rony Martinez – O povo hondurenho é muito pacífico. E não se mobilizou nos últimos governos que insistiram em golpear a população com seguidos aumentos de preços de produtos básicos e de impostos. Existiam apenas vozes dissonantes e parece que agora o povo despertou. A violência aconteceu por parte dos golpistas.
Você acha que o presidente Zelaya deve voltar ao país mesmo sob a ameaça de ser preso?
Ele tem que voltar para que tudo seja resolvido. Zelaya tentou voltar e o avião dele foi impedido de pousar no aeroporto da capital. Por que então eles não deixaram ele pousar para depois prendê-lo? Por isso, essa ameaça não faz muito sentido. Ele disse que pode ser preso, mas desde que ninguém mais morra por isso.
Os cortes na transmissões da emissora continuam?
Não, mas no domingo em que o jovem foi morto eles colocaram comunicados em cadeia nacional, um atrás do outro, interrompendo a todo o tempo a cobertura da manifestação que reuniu mais de 500 mil pessoas.
O governo acusa a emissora de apoiar o presidente Zelaya e de ser parcial?
Mais de 90% dos meios de comunicação de Honduras estão alinhados como o novo governo. Tratamos aqui de mostrar para o povo que existiu um golpe de estado.
Você acha que a negociação mediada pelo presidente da Costa Rica vai gerar resultados?
Não acredito. Concordo com o presidente Hugo Chavéz quando diz que essa negociação é um golpe e que tem influência dos Estados Unidos. Isso apesar de acreditar que o presidente Arias é uma pessoa de boa intenção.