O Brasil viveu, entre 2003 e 2005, uma espécie de "segundo Plano Real" em termos de redução da pobreza, de acordo com pesquisa divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O nível de pobreza teve uma queda significativa durante os três primeiros anos do governo Lula, mas ainda atinge 42,57 milhões de brasileiros, o equivalente a 22,77% da população. É o menor patamar desde que a pesquisa começou a ser feita, em 1992. Há três anos, a pobreza atingia 28,2% dos brasileiros.
O levantamento, coordenado pelo chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, Marcelo Neri, foi realizado a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada, e considera pobre todo brasileiro com renda individual de até R$ 121 por mês. A FGV compara essa redução à ocorrida no início do Plano Real, quando os índices de pobreza baixaram de 35% para 28%. A pobreza caiu 19,18% entre 2003 e 2005 e 18,24% entre 1993 a 1995.
Na avaliação do cientista político Octavio Amorim, da FGV do Rio, a queda da miséria de 2003 a 2005 ajuda a explicar os índices de intenção de voto do presidente Lula este ano, apesar dos sucessivos escândalos durante a sua gestão. Para Amorim, existe de fato um paralelismo com os índices de popularidade de Fernando Henrique Cardoso no início do seu primeiro mandato, quando a pobreza também despencou.
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Motivos da redução
A queda expressiva ao longo do governo Lula está associada, segundo o estudo, ao crescimento do emprego e da renda, à elevação da concessão de benefícios sociais como o Bolsa-Família, ao aumento de gastos previdenciários e aos reajustes do salário mínimo. O estudo destaca que, nos três primeiros anos de Lula, a redução anual da pobreza foi de 5,2%. Nos quatro primeiros anos do governo FHC, essa queda foi de 5,1% ao ano.
Mas, segundo Marcelo Néri, os dois movimentos de retração na pobreza são marcados por uma diferença básica. Enquanto no início do Plano Real o principal motivo foi o crescimento econômico; no governo Lula, a mudança ocorreu em decorrência da redução da desigualdade social.
PublicidadeEntre 1993 e 1995, a renda média aumentou 24,77%, mais do que o dobro dos 9,98% registrados nos últimos dois anos. Em compensação, nesse segundo período, a queda da desigualdade foi o dobro. "Houve um crescimento mais modesto do bolo, mas com mais redistribuição", diz o economista.
Diferenças no campo e na cidade
O estudo também mostra que a pobreza metropolitana e a rural tiveram evolução distinta, de 1993 até hoje. No campo, a queda no número de pobres foi contínua e mais regular. Nas metrópoles a oscilação foi grande, com melhora naqueles dois períodos e um aumento substancial nos dez anos de estagnação, segundo o estudo. A miséria rural caiu 10% entre os anos de 1993 e 1995; 7,4% de 1995 a 2003; e 12,6% de 2003 a 2005. A proporção de miseráveis no campo era de 62,79% em 1993, caiu para 56,5% em 1995, para 52,31% em 2003 e para 45,74% em 2005.
Já no caso da miséria metropolitana, houve uma queda de 32% no primeiro período, um aumento de 41% no segundo e nova queda de 23,7% entre 2003 e 2005. O índice era de 22,16% em 1993, caiu para 15,07% em 1995, subiu para 21,25% em 2003 e voltou cair para 16,22% em 2005.
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