Fábio Góis
Ficou mesmo para terça-feira (7), data da próxima reunião da bancada do PT, a definição dos rumos políticos do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), pressionado por um grupo suprapartidário de senadores a se afastar do posto. Hoje, Sarney saiu da reunião com o presidente Lula sem dar declarações à imprensa, aumentando ainda mais a expectativa quanto aos próximos passos que ele dará frente à crise institucional pela qual é apontado como um dos principais responsáveis.
A interlocutores próximos, Sarney tem dito que, caso o PT lhe sirva de esteio, resistirá à pressão e não vai pedir licença ou renunciar, alegando que foi legitimamente eleito por 49 dos 81 senadores em fevereiro deste ano. Uma das personagens escaladas por Lula para operar uma força-tarefa a favor de Sarney, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) disse não concordar em “demonizar o presidente Sarney”. “Ele não pode ser responsabilizado por todas estas questões”, disse Dilma, referindo-se aos desmandos administrativos do Senado. “Concordo com a apuração, e também concordo em ver em alguns momentos o interesse de alguns, como disse o presidente, ganhar no tapetão.”
A reunião com Lula foi a portas fechadas, no gabinete presidencial provisoriamente instalado no Centro Cultural Banco do Brasil, região central de Brasília (o Palácio do Planalto está em reforma há cerca de um mês). Mas Lula está disposto a executar uma operação de salvamento da gestão Sarney no Senado, como o Congresso em Foco adiantou no início da madrugada desta sexta-feira (3), depois de reunião da bancada petista no Palácio da Alvorada.
Ex-ministra do Meio Ambiente, a senadora Marina Silva (PT-AC) disse à reportagem, ao sair da residência presidencial, que cada um dos senadores da bancada fez uma exposição sobre suas impressões sobre a situação de Sarney na cadeira de presidente de uma instituição em colapso. Segundo outro petista, Eduardo Suplicy (SP), Lula “ouviu todos com atenção”. Mas outro interlocutor de Lula revelou que o presidente fez uma longa exposição de motivos pela permanência de Sarney no posto, a começar pelas circunstâncias pré-eleitorais.
Hoje pela manhã, o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), deu entrevista coletiva para comunicar a posição da bancada quanto à situação de Sarney. Sete dos 12 petistas são a favor de uma licença de 30 dias, ao menos. Os outros compartilham com Lula a opinião de que Sarney é essencial para a governabilidade no Senado, onde o equilíbrio de forças é maior em relação à Câmara. Além disso, tanto Lula quanto os senadores do PT sabem que uma aliança nacional com o PMDB de Sarney é fundamental para os planos de Lula fazer de Dilma Rousseff a sua sucessora, com um peemedebista candidato à vice-presidência da República.
A crise instalada no Senado há meses, e intensificada com o caso dos atos administrativos clandestinos emitidos por um grupo de ex-diretores aliado de Sarney, é usada pela oposição, segundo Lula, para tentar tomar o controle do Senado. Lula sabe que, se Sarney pedir licença do cargo, um tucano assumirá em seu lugar, até que ele resolva retomar o comando: o vice-presidente Marconi Perillo (GO) ocupa a vaga até o encerramento do período de afastamento. Na hipótese de renúncia do cargo de presidente, Perillo tem cinco dias, a partir da formalização da saída, para promover novas eleições em plenário.
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