Na audiência pública promovida hoje pela Comissão de Serviços de Infra-Estrutura (CI) do Senado para debater a crise da Varig, o representante dos funcionários da companhia aérea, Márcio Marsillac, apresentou aos parlamentares uma proposta para salvar a empresa, que depende da participação direta dos funcionários.
A idéia é que, com a redução de salários, demissões e uso da poupança previdenciária, os funcionários possam colaborar com um total de U$ 100 milhões para sanear a empresa. Cerca de 30% desses recursos, de acordo com a proposta, seriam usados para pagamentos de rescisões trabalhistas; os outros 70%, seriam destinados a colocar em funcionamento dez das 20 aeronaves que se encontram paradas. Marsillac aproveitou para lembrar que a Varig possui R$ 4,6 bilhões em créditos a receber da União e outros R$ 1,2 bilhão, dos estados.
“Como vamos explicar a lei de recuperação de empresas com a falência da Varig? Não encontro condições para explicar a falência da Varig”, argüiu o senador Ramez Tebet (PMDB-MS), defendendo a empresa. Segundo ele, a Lei de Recuperação de Falências contém um aspecto social justamente para evitar a quebra de empresas. Ele ressaltou que é uma “questão patriótica” recuperar a Varig.
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Situação de pré-falência
Segundo o representante dos funcionários da Varig, um conjunto de fatores desencadeou a atual conjuntura pré-falimentar, entre os quais, os diversos planos econômicos, o congelamento das tarifas nos anos 80 e a abertura para empresas de aviação estrangeiras operarem no Brasil.
Marsillac disse que a Varig está com a metade do patrimônio paralisado, operando com apenas 53 aeronaves. Observou que, atualmente, enquanto o mundo expande o mercado de aviação, o Brasil retrai. “Falta uma visão estratégica para a aviação nacional”, reclamou.
PublicidadeSobre as notícias de que o salário dos pilotos da empresa giraria em torno de R$ 50 mil, Marsillac negou a informação. “Isso não é uma realidade, não ganhamos nem metade disso. Pode ser para uma casta que tomou conta da Fundação Ruben Berta, desviando a sua função”, denunciou.
Marsillac também informou que a direção da empresa, ligada à fundação, foi afastada e o processo de estruturação está sendo realizado pela empresa Alvarez e Marsal.
“A Varig não quer dinheiro público”
O gerente-geral da Alvarez e Marsal, Marcelo Gomes, frisou que a empresa não pediu reforço de dinheiro público para salvar a Varig. Ele detalhou o plano para recuperar a empresa, explicando que o projeto já foi aprovado pelos credores, investidores e pelo fundo de pensão dos funcionários da Varig, o Aerus.
O diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Elnio Borges, disse que os trabalhadores da Varig estão dispostos a todos os sacrifícios para salvar a empresa. “Eles passaram cem dias na companhia tentando trabalhar com redução de sua folha de pagamento”, revelou.
O diretor-geral da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Sérgio Silveira Zuanazzi, observou que acredita ser possível achar uma solução para salvar a empresa, mediante ampla negociação.
As negociações para a recuperação da empresa não se esgotaram nessa sessão e o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), presidente da Comissão de Infra-Estrutura, marcou para a semana que vem a continuação das discussões. Na seqüência, ele quer ouvir o juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro; o economista e consultor dos Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), Paulo Rabelo de Castro, entre outros.
Heráclito ainda deve agendar uma data para ouvir a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, e o ministro da Defesa, Waldir Pires, sobre a crise da Varig. Dilma seria ouvida hoje, mas Heráclito preferiu marcar uma data para ouvir a ministra com a presença de menos convidados.