Márcia Denser*
Formulando teorias sobre o bloggeiro stylish de fluxo contínuo que, como não tem formato, também as idéias não se estruturam, é complicado pensar em 45 caracteres por linha, daí o sujeito não se situar na vida, na história, na geografia, na ordem das coisas, na hierarquia da realidade, na divisão da grana dos bens da propriedade, aliás essa anomia (leia-se ausência de regras) está como o diabo do sistema gosta, que te quer burro, confuso, desorientado, visto do alto da pirâmide pelos economistas, banqueiros, presidentes de corporações, latifundiários, fabricantes de armas, tipo Bill Gates ou Olavo Setúbal ou José Ermírio de Morais ou Onassis ou Rotschild, a Máfia, Hitler, Nero, Judas, Gengis Khan, Bush, Bin Laden e a Cuca - o topo da cadeia alimentar que decide que pouquíssimos ficam com tudo e ao resto, as migalhas, salvo aquela faixa cinzenta intermediária dos cães de guarda do poder alheio que recebem migalhas maiores, cuja única e exclusiva tarefa é defender o indefensável, faixa sintonizada pelos políticos neoliberais, "intelectuais de auto-ajuda", "transgressores a favor", "revolucionários conservadores", o intelectual descolado (que é a evolução do intelectual engajado), sem contar o Reverendo Moon e demais bispos universais incluindo, é claro, Padre Marcelo Rossi, os ayatolás e woytilas e espertinhos da Nova Carismática e a atmosfera geral de falcatrua. Mas deste lado da realidade, entreouço por aí aquela jornalista do Estadão se queixando de ter sido obrigada pelo patrão a meter o pau no projeto dos CÉUS e tendo que fazê-lo com total convicção e credibilidade, enquanto, na Bandeirantes, Datena dá aula magna de como agradar seus superiores, aconselhando apaixonadamente o distinto telespectador a, por favor, desvincular a atuação e a existência do PCC da cena política, dos políticos e do momento eleitoral, "porque o povo quer segurança e nada mais!". Como se grudasse. Por outro lado, leio Marco Aurélio Wessheimer na Carta Maior, que discreta e inapelavelmente transcodifica a lista de indignações de Dona Lya Luft publicada em Veja, como um inventário de alienações da dita senhora, pois esta iguala os sem-terra a facínoras, botando no mesmo saco o casal de namorados que matou os pais e "uma cartilha do MST usada por certas escolas elementares, preparando novas gerações de contraventores", alegando que em pleno século XXI fica até "anacrônico", "antigo" e "fora de moda" invadir terras – exuberantes, imensas e alheias, sobretudo alheias – como se no século XXI não só o MST, mas a exclusão, a pobreza e a injustiça social tivessem se tornado old-fashion, anacrônicos, atrasados, antigos, por aí. Realmente Dona Lya envergonha a classe, melhor enquadrá-la como essas peruas literárias que produzem (e se reproduzem) para o esquecimento, muito ao contrário de mestre Antonio Cândido, que, eternamente coerente (e acima de toda retórica e puxa-saquismo pânico), na mesma semana inaugurava a biblioteca dos "facínoras do MST". Finalmente, Mirisola em Paraty tecendo a crônica da Flip com aquele priapismo onipresente e reiteradamente frustrado, é foda. Quer dizer, não é foda. Só uma Usis e/ou metralhadora giratória.
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