Os deputados e o mensalão
– Roberto Jefferson
Pivô da maior crise política do governo Lula ao denunciar o suposto esquema de pagamento de mesada a parlamentares em troca de apoio no Congresso, o presidente do PTB é acusado de comandar um esquema de corrupção nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). O dinheiro arrecadado seria destinado ao financiamento de campanha eleitoral do partido. Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara e à CPI dos Correios, Jefferson admitiu não ter declarado à Justiça Eleitoral o recebimento de R$ 4 milhões, supostamente doados pelo PT no ano passado. Por causa disso, ele também é investigado por crime eleitoral.
– José Janene
Um dos sete deputados acusados nominalmente por Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser beneficiário do suposto mensalão, o líder do PP na Câmara, José Janene (PR), também é acusado de ser um dos operadores do esquema, ou seja, participaria da distribuição do recurso entre os parlamentares.
– Pedro Henry
Ex-líder do PP na Câmara, o deputado Pedro Henry (MT) é acusado de receber o mensalão e de ter feito a oferta da distribuição de dinheiro em troca de apoio ao governo ao PP.
– Valdemar Costa Neto
Presidente do PL, o deputado paulista também é apontado por Jefferson como um dos beneficiários do mensalão. Ele teria levado a proposta aos deputados do seu partido.
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– Carlos (Bispo) Rodrigues
O deputado, que trocou o nome parlamentar de Bispo Rodrigues para Carlos Rodrigues após ser afastado da Igreja Universal do Reino de Deus, é outro acusado de liderar o mensalão na Câmara. Segundo Jefferson, Rodrigues teria comandado esquema semelhante na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
– Sandro Mabel
O deputado goiano, que é líder do PL na Câmara, seria outro beneficiário do mensalão, de acordo com a denúncia do presidente do PTB. Mabel teria oferecido à deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) a importância de R$ 30 mil por mês, além de R$ 1 milhão em “luvas”, para que ela trocasse a oposição pelo PL. A denúncia foi reiterada pela deputada ao Conselho de Ética da Câmara. O líder partidário confirma a conversa sobre migração de partido, mas nega ter oferecido dinheiro à atual secretária de Ciência e Tecnologia de Goiás.
– João Pizzolatti
Ex-presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara, o deputado pelo PP de Santa Catarina é outro acusado por Roberto Jefferson de receber mesada para votar com o governo. Segundo o petebista, parlamentares entravam e saíam do gabinete da presidência da comissão no ano passado com pacotes de dinheiro.
Os ministros e o escândalo
– José Dirceu
Ministro da Casa Civil do governo Lula durante dois anos e meio, Dirceu voltou para a Câmara na segunda quinzena de junho após ser acusado pelo deputado Roberto Jefferson de ser o mentor do suposto mensalão. Jefferson acusa o ex-ministro ainda de estar por trás das denúncias de corrupção nos Correios. Na fita, o chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho – que aparece cobrando propina de R$ 3 mil – diz participar de um esquema comandado pelo presidente do PTB. Segundo Jefferson, Dirceu teria pedido à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que gravasse o vídeo para comprometê-lo.
– Luiz Gushiken
Apesar de não ter sido acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB) de participar do suposto mensalão, o ministro da Secretaria de Comunicação de Governo teve seu nome relacionado ao caso dos Correios pelo ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material da estatal, Maurício Marinho.
Segundo Marinho, funcionário de carreira flagrado em vídeo cobrando propina, haveria irregularidades nos contratos firmados entre a pasta de Gushiken e as agências de propaganda contratadas pelos Correios. A Secom teria mudado regras de licitação para beneficiar uma das empresas de Marcos Valério Fernandes, suposto operador do mensalão.
O ministro chegou a colocar o cargo à disposição de Lula na primeira semana de julho, após divulgação de reportagem que associava o nome dele a supostas operações irregulares com fundos de pensão. De acordo com a denúncia, a Globalprev – empresa da qual Gushiken foi sócio até 2002 – teria registrado aumento de 600% no seu faturamento desde o início do governo Lula, ao firmar contratos com fundos de pensão de grandes estatais, como o Petros (de funcionários da Petrobras) e o Postalis (dos Correios).
Lula não aceitou o pedido de Gushiken e o manteve à frente da Secom. Gushiken, entretanto, perdeu ontem o status de ministro na reforma ministerial e ficará subordinado à Dilma Rousseff, atual ministra-chefe da Casa Civil.
Dirigentes do PT
– Delúbio Soares
Tesoureiro do PT e homem próximo do ex-ministro José Dirceu, Delúbio é acusado por Jefferson de ser um dos operadores do mensalão. Ou seja, um dos responsáveis pela distribuição do dinheiro – supostamente arrecadado das estatais – entre os parlamentares, em troca de apoio no Congresso. Delúbio renunciou ao cargo na primeira semana de julho, depois que se descobriu que ele e o presidente do partido, José Genoino, recorreram ao publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza para avalizar um empréstimo para o PT. Valério é apontado por Jefferson como outro operador do mensalão. Descobriu-se, em seguida, que ele deu aval a dois financiamentos para o Partido dos Trabalhadores.
– Sílvio Pereira
Acusado de ser, ao lado de Dirceu e Delúbio, gerenciador do suposto mensalão, o secretário-geral do PT se afastou do cargo na primeira semana de julho, após forte pressão de membros do partido. Silvinho, como é chamado pelos correligionários, também é apontado por Jefferson como o responsável pela distribuição dos cargos da administração federal entre os partidos, apesar de não ocupar, oficialmente, nenhuma função no governo. Pressionado, foi o primeiro da cúpula petista a se licenciar do cargo.
– José Genoino
Presidente do PT desde o início do governo Lula, o ex-deputado teria conhecimento da distribuição de cargos e dinheiros a aliados. Ele supostamente acertou com Roberto Jefferson, no ano passado, o repasse de R$ 20 milhões para o financiamento de campanha eleitoral do PTB. Segundo Jefferson, só R$ 4 milhões teriam sido repassados. A transação não foi declarada à Justiça Eleitoral. Caso seja comprovada a denúncia, os dois responderão na Justiça por crime eleitoral.
A situação de Genoino no partido ficou insustentável na primeira semana de julho, quando se descobriu que ele assinara dois contratos de empréstimo bancário em favor do PT, avalizados pelo publicitário Marcos Valério Fernandes, acusado de ser um dos operadores do mensalão. No dia 8, um assessor de um irmão de Genoino foi preso quando tentava embarcar num avião, em São Paulo, com uma mala com R$ 200 mil e US$ 100 mil sob a cueca. Genoino renunciou ao cargo no dia seguinte, antes do encontro da Executiva Nacional do PT.
O publicitário
– Marcos Valério Fernandes de Souza
Dono de duas agências de comunicação, a DNA e a SMP&B, o publicitário é acusado de participar do suposto esquema de arrecadação de dinheiro nas estatais para o pagamento do mensalão. Entre os clientes dele, estão o Banco do Brasil, os Correios e a Câmara dos Deputados. De acordo com o deputado Roberto Jefferson, Valério faria o transporte de “malas de dinheiro” para Brasília e o repasse entre os deputados e lideranças partidárias da base aliada. A acusação foi reforçada por uma ex-secretária dele, Fernanda Karina Somaggio, a quem ele processa por tentativa de extorsão.
As suspeitas contra Valério aumentaram com a descoberta do elevado volume de dinheiro sacado de suas empresas e por causa de sua evolução patrimonial. De acordo com relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), nos últimos dois anos, as agências do publicitário movimentaram cerca de R$ 1,2 bilhão. Desse total, R$ 450 milhões teriam origem desconhecida. Nesse mesmo período, teriam sido sacados, em “dinheiro vivo”, R$ 21 milhões – movimentação considerada muito elevada.
Em sete anos, o patrimônio de Valério aumentou mais de 60 vezes. De 1997 a 2004, o valor dos bens declarados pelo publicitário à Receita Federal saltou de R$ 230 mil para R$ 14 milhões. A Polícia Federal e a CPI dos Correios apuram a origem de enriquecimento do empresário. Depois de negar ter qualquer relação com o PT, o empresário admitiu ter sido avalista de um empréstimo feito pelo partido. Descobriu-se, após o seu depoimento à CPI, que ele deu aval a dois financiamentos para o PT. Estima-se que os negócios de Valério com o governo Lula atinjam a marca de R$ 400 milhões.
A secretária
– Fernanda Karina Somaggio
Ex-secretária do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, Fernanda responde a processo na Justiça mineira por tentativa de extorsão. Segundo Valério, ela teria recebido dinheiro para conceder a entrevista à revista Istoé Dinheiro, na qual reforça as denúncias do deputado Roberto Jefferson contra ele. De acordo com ela, o ex-patrão se beneficiaria de relações escusas com dirigentes do PT para firmar contratos com o governo. Parte do dinheiro pago às empresas dele teria como destino o pagamento do mensalão, segundo a denúncia.
Corrupção nos Correios
– Maurício Marinho
Chefe do departamento de Contratação e Aquisição e Material dos Correios, ele aparece no vídeo recebendo propina de empresários. Em carta registrada em cartório, diz que foi vítima de armação. Na gravação, Marinho diz que agia em nome do presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). Contudo, em depoimento à Polícia Federal e à CPI dos Correios, negou ter pedido propina e isentou Jefferson de qualquer relação com o caso.
– Antônio Osório
Indicado por Roberto Jefferson para a diretoria de Administração dos Correios, Osório é apontado, no vídeo em que Marinho pede R$ 3 mil a empresários em troca de favorecimento em processo licitatório, como um dos operadores do suposto esquema de corrupção na estatal. Funcionário de carreira dos Correios, o ex-deputado federal pelo PTB da Bahia foi afastado do cargo até a conclusão de uma sindicância interna.
Os “arapongas”
– Artur Washek Neto
Suspeito de ser o mandante da gravação que denuncia o suposto esquema de corrupção nos Correios.
– Antonio Velasco
O empresário também é suspeito de ser um dos mandantes da gravação.
– José Fortuna Neves
O ex-agente do Sistema Nacional de Informações (SNI) teria sido citado por Arlindo Molina quando o militar reformado da Marinha tentava, segundo o presidente do PTB, extorqui-lo. Molina teria dito que procurava Jefferson em nome de Fortuna e pedido dinheiro em troca da entrega das fitas que comprometiam o petebista. Em depoimento à Polícia Federal, Fortuna declarou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) investigava os Correios a pedido da Casa Civil. Segundo ele, o interesse da Abin, ao gravar o vídeo, era investigar a Unisys, empresa multinacional que tem convênios com os Correios e a Previdência Social.
– Arlindo Molina
Militar reformado da Marinha, teria ido ao gabinete do deputado Roberto Jefferson com a gravação em que Maurício Marinho diz que o petebista comandava um esquema de corrupção na estatal. Jefferson o acusa de extorsão. Molina diz que sua intenção era apenas alertar o presidente do PTB.
– Jairo Souza Martins
Ex-agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), é suspeito de ser o responsável pela distribuição da fita à imprensa e pelo equipamento de gravação. Em depoimento à CPI dos Correios, Jairo confirmou a autoria das gravações, mas diz que agiu movido por patriotismo ao denunciar o caso de corrupção nos Correios à revista Veja.
IRB
– Henrique Brandão
Corretor de seguros que circulava pelo IRB e se dizia velho amigo do deputado Roberto Jefferson. Segundo a revista Veja, ele teria pedido, sem meias palavras, R$ 400 mil ao ex-presidente do instituto, Lídio Duarte, para o PTB. Ele nega. A pressão por contribuições para o partido levou Lídio a pedir demissão. Com a queda de Lídio, assumiu Luiz Appolonio Neto, indicado pelo deputado Luiz Antonio Fleury (PTB-SP). Appolonio Neto fatiou o antigo e milionário monopólio do mercado de resseguros internacionais. Uma das 23 corretoras credenciadas foi justamente a de Henrique Brandão.
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