Especialistas do mercado de concursos garantem que 6,84% da população brasileira está estudando para concursos. Os outros 177 milhões de brasileiros, a maioria nem um pouco envolvida com apostilas e cursos preparatórios, têm uma visão míope sobre o que são as seleções públicas.
A percepção embaçada é fortalecida pela imprensa e por denúncias de mau uso do dinheiro público. Não estou aqui para defender a qualquer custo o governo, seja ele no âmbito que tiver, mas quero alertar para a relevância do processo de seleção de servidores chancelado na Constituição de 1988.
O Brasil precisa sim de servidores públicos em todos os níveis. O bom funcionamento do país e o bom atendimento dos brasileiros que gastam bilhões em impostos devem ser revertidos em serviços de boa qualidade e, para tal, é preciso ter bons profissionais.
Como jornalista, sei que notícia boa não dá Ibope, e também estou consciente de que séculos de maus exemplos não serão apagados pelo trabalho de poucos. O certo é que o mundo dos concursos é muito maior do que aquele que é visto e mostrado por uma fresta em reportagens e conversas informais.
A chamada “indústria do concurso” gera milhões de empregos diretos e indiretos que sequer são contabilizados por pesquisas ou levantamentos oficiais. Ninguém sabe quanto o mercado movimenta com cursos online e presenciais, editoras, bancas organizadoras, aluguel de salas para aplicação de provas, fiscais e etc. Os agentes ativos do mercado não sabem, o governo não sabe.
De forma semelhante, a sociedade ignora os esforços de quem se dedica aos estudos. O quanto gastam de tempo, dinheiro, o quanto abrem mão do convívio social. Há quem diga que é perda de tempo – afinal, um concurseiro que foca um, dois, três anos se preparando por até 12 horas por dia não está produzindo nada. Outros embarcam como aventureiros vislumbrando as esperanças anunciadas de estabilidade e bons salários. O mundo dos concursos e dos concurseiros é muito maior e mais sério que isto.
Se, por um lado, a sociedade e a imprensa devem trocar as lentes para enxergar o verdadeiro propósito do concurso público, por outro, também precisam intensificar a fiscalização. Auditar o trabalho dos servidores públicos, exigir que o direito dos concurseiros seja cumprido e legislado corretamente, que os processos seletivos sejam transparentes e isonômicos. Sim, isto é papel de todos. Não basta falar, reclamar sem adotar uma postura ativa em vez de deixar a solução para poucos.
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