Antonio Vital
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O eleitor não está nada satisfeito com os deputados e senadores. Depois de derrotar 63 (68,5%) dos 92 dos parlamentares que concorreram às prefeituras país afora no primeiro turno, moradores das cidades com mais de 200 mil habitantes se preparam para rejeitar outros tantos daqui a pouco mais de uma semana. Suas excelências podem argumentar que a eleição é para o Executivo e que muitos dos candidatos têm perfil, digamos, mais legislativo, o que não faz das derrotas um sinal automático de reprovação. O argumento não é desprezível, mas o resultado das urnas pode servir de alerta, sim, a parlamentares que pouco apareceram em plenário no segundo semestre, que ainda não explicaram direito aos eleitores súbitas mudanças de posição desde que tucanos e petistas inverteram papéis no governo ou que representam notórios e inconfessáveis interesses. Publicidade
Afinal, 68% de derrotas é um índice muito superior ao de renovação do Congresso em 2002. Nas últimas eleições para a Câmara e para o Senado, o percentual de insucesso de parlamentares que tentavam a reeleição foi menor. Na ocasião, 46% dos deputados não conseguiram novo mandato. No Senado o resultado foi pior: dos 32 senadores que concorreram, 18 (56%) foram ejetados de seus gabinetes. Publicidade
O resultado das eleições municipais, para os congressistas, se aproxima do que aconteceu em 1994, quando a guilhotina das urnas cortou mais da metade (54%) dos que tentavam manter seus gabinetes em Brasília. Naquela época, porém, os parlamentares atingiram talvez o nível mais baixo de aprovação pública, com a descoberta das atividades criminosas dos chamados Anões do Orçamento. Entre os derrotados de agora estão nomes conhecidos e nem todos podem ser acusados de irregularidades ou de usar o mandato em benefício próprio. O alto índice de rejeição parece indicar, isso sim, que os plenários da Câmara e do Senado deixaram de ser palanques suficientes e caminhos naturais para o político que pretende percorrer passo a passo os degraus do poder. PublicidadeO desencanto dos eleitores com seus representantes no Parlamento pode ou não ter a ver com os seguintes fatores: – Até ontem, os deputados tinham ficado 72 dias – desde 11 de agosto – sem votar sequer um projeto em plenário. Só apreciaram, nesse intervalo, quatro medidas provisórias que trancavam a pauta. Ainda faltavam 16. – Esse desempenho pode ser atribuído à campanha eleitoral nos estados, mas existem outros ingredientes menos nobres. Peemedebistas ligados ao senador Renan Calheiros (AL), por exemplo, querem mais é que nada aconteça até o fim do ano para impedir a aprovação da emenda da reeleição das duas casas. Além disso, parlamentares que se endividaram nas eleições só pensam na convocação extraordinária do Congresso em janeiro para ter como pagar dívidas. Sobretudo, aliados do governo cobram a liberação de recursos para suas emendas orçamentárias, sem o quê não votam nada ou votam a contragosto. – Das 119 leis sancionadas este ano, só onze foram elaboradas pelo Congresso: seis por deputados e cinco por senadores. E por aí vai. Os resultados do primeiro turno atingiram de maneira parecida governistas e oposicionistas, mas os aliados do presidente Lula levam desvantagem. Primeiro, 70% dos parlamentares filiados a partidos formalmente da base perderam, contra "apenas" 63,1% dos oposicionistas. Em segundo lugar, as derrotas governistas são mais visíveis, já que os partidos aliados lançaram 73 parlamentares candidatos, contra apenas 19 da oposição. Sofreram, portanto, 51 derrotas – contra doze. O segundo turno virou uma pedreira para alguns parlamentares que restam na disputa. A deputada Maria do Rosário (PT-RS), vice do petista Raul Pont em Porto Alegre, vê José Fogaça (PPS) se distanciar na liderança. O senador César Borges (PFL-BA) está muito atrás de João Henrique (PDT) em Salvador. Também correm contra o tempo os deputados Rubens Otoni (PT) em Anápolis (GO), José Ivo Sartori (PMDB) em Caxias do Sul (RS) e Moroni Torgan (PFL) em Fortaleza. Resta aguardar 2006. |
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