Bezerra Couto
É longo o rabo da crise. Ele começa pelos Correios, ali onde ficou exposta pela primeira vez a cauda que ligava o PTB de Roberto Jefferson e o PT de Lula a malfeitos vários. Deu longas voltas, serpenteando por instituições públicas como Ministério da Fazenda, Eletronorte, Furnas, Casa da Moeda, IRB e Banco do Brasil. Abalroou empresas privadas várias, desde as notórias SMP&B e DNA ou a antes desconhecida Gamecorp até grandes companhias tipo Usiminas, Telemig Celular e GDK.
Passou por esquemas ilegais de financiamento político que atingem parlamentares de diversos partidos: PP, PFL, PL, PMDB, PSDB… sem falar dos já citados PTB e PT, todos irrigados por recursos ilícitos de origem não inteiramente esclarecida. Deu uma parada técnica nos animados eventos de Dona Jeane Mary Córner. Finalmente, incluiu o mensalinho de Severino, capítulo que permitiu dar a conhecer as estranhas relações entre o poder público e seus fornecedores, além da bela estampa da Sra. Buani.
Sabe lá Deus até onde irá esse rabão comprido (o da crise, bem entendido). Uma coisa, porém, já ficou clara para quem transita pelos bastidores do Congresso: a tênue fronteira que separa acusadores e acusados na terra do sol e dos escândalos.
Nada a opor à galeria de personalidades já destinadas a sentar na cadeira de réu. Que os atos de José Dirceu, João Paulo, Janene, José Mentor, Pedro Corrêa, Severino, Pedro Henry e cia. lhes custem, no mínimo, a perda de mandato. Tomara, ainda, que as investigações avancem, a ponto de alcançar outras pessoas – dentro e fora do governo – que incorreram em práticas delituosas.
O problema são os acusadores. Tudo bem. Gente como Gustavo Fruet (PSDB-PR) e Fernando Gabeira (PV-RJ), para ficar somente com dois exemplos, nos dão a necessária esperança de que nem tudo está perdido.
Agora, o que dizer do deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG) posando de relator da CPI do Mensalão? Não deveria ele antes esclarecer a denúncia dos R$ 150 mil que a contabilidade do valerioduto lhe atribui?
PublicidadeE como explicar a ausência do senador mineiro Eduardo Azeredo, presidente nacional do PSDB, da lista de cassáveis preparada pelas CPIs dos Correios e do Mensalão? Caramba! O próprio Azeredo admitiu ter se beneficiado do generoso caixa 2 operado por Marcos Valério. Dizer que ele não pode ser punido por fatos sem relação com o exercício do atual mandato parlamentar significaria dar a Dirceu um argumento de defesa irrespondível.
Outro esquecido é o deputado Ronivon Santiago (PP-AC), envolvido na compra de votos na eleição de 2002. Há, também, o caso de Gonzaga Patriota (PSB-PE), sobre quem pesa a acusação de envolvimento com o mesmo mensalinho que pode levar à renúncia de Severino.
Tem mais. Cá pra nós, como confiar em investigações entregues a parlamentares com o perfil, digamos, de Rodrigo Maia (RJ), o líder do PFL na Câmara que confundiu as bolas e fez acusações falsas,
Ou, ainda, do senador Heráclito Fortes (PFL-PI), que cada dia mais se notabiliza como alguém empenhado, sobretudo, em defender o banqueiro Daniel Dantas, suspeito de financiar o mensalão, e atacar os dirigentes dos fundos de pensão que ousam desafiar o controvertido dono do Banco Opportunity?
Aliás, o Pefelê fazendo as vezes de investigador é uma graça. Cês viram o Jairo Carneiro (PFL-BA) ter a cara-de-pau de justificar a cassação de Jefferson – que já foi tarde, mas por outras razões – com o argumento de que ele foi leviano ao fazer a denúncia do mensalão?
Daí minha convicção de que precisamos, eu, você e todos aqueles que torcem por um desfecho digno para essa malcheirosa crise, formar uma espécie de CPI virtual. Acompanhando os trabalhos da CPIs, enviando e-mails para parlamentares, opinando em sites como este bravo Congresso em Foco, fiscalizando a ação de cada deputado ou senador. É preciso manter dupla vigilância: sobre os investigados e os investigadores. Insisto que sou pela punição severa de todos aqueles que plantaram podridão. Mas, sinceramente, não vejo em alguns acusadores mais virtudes do que enxergo nos acusados.
Para usar certas palavras da moda quase intragáveis, poderíamos nos engajar em um esforço coletivo para “refundar” a “república”, “blindando” a nação contra as peripécias dos enganadores de ontem e de hoje. Que uma dispersa e democrática CPI coletiva mostre aos demagogos o seu “núcleo duro”!!!
Ilusão? Talvez. Mas a outra alternativa possível é se render a quem pretende nos condenar a ser o mesmo Brasilzinho de sempre: injusto, devagar e vergonhosamente corrupto.
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