Marcos Magalhães*
Muita gente gosta de ver nas eleições – especialmente as municipais – as pistas para futuras eleições. Que partidos se posicionam melhor para montar novas alianças, que candidatos saem fortalecidos (para as próximas eleições) de urnas que acabam de ser abertas. Que políticos tiveram os sonhos adiados e quais novos eleitos têm pela frente um grande futuro. Faz parte do jogo político. Nada vai substituir, pelo menos não tão cedo, essa emoção de torcedor, de ativista, simpatizante ou militante. E é bom que seja assim.
Mas as eleições municipais são mais do que sinais do futuro. Elas são o retrato de um presente político em cada cidade do país. O resultado de uma espécie diferente de luta política, uma luta muitas vezes menosprezada pelo que conteria de local, provinciana. Daí porque as grandes análises políticas entre os dois turnos das eleições deste ano quase sempre resvalam para os reflexos de 2008 em 2010.
É verdade, uma vitória de Gilberto Kassab em São Paulo pode ajudar a candidatura do governador paulista José Serra (PSDB) à Presidência da República. Assim como a ausência de uma vitória acachapante em Belo Horizonte, no primeiro turno, pode ter adiado o plano de vôo do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, em direção a Brasília. Também se pode dizer que o PT fez de tudo, em 2008, para garantir o PMDB em sua chapa nas eleições presidenciais de 2010.
Mas, e as cidades? Aqui neste modesto presente, ainda longe das ambições presidenciais, aqui onde se escolheram os prefeitos de pequenos municípios e de grandes metrópoles, aqui estiveram ou estão em jogo as condições de vida de milhões de brasileiros. Esses prefeitos que estão saindo das urnas vão cuidar de temas nada triviais, como a educação de nossos filhos, a saúde de nossos velhos, o transporte do dia-a-dia de nossos trabalhadores.
É nas cidades que começa a se desenhar o que vai ser o mundo neste novo século. As maiores metrópoles do mundo, ao longo das próximas décadas, estarão quase todas em países chamados emergentes, ou de Terceiro Mundo, se preferirem. Cidades de países como China, Índia, México e Brasil, que ainda têm pela frente um longo caminho de desenvolvimento social, precisam encontrar alternativas. As condições de vida em cada uma delas dependem, naturalmente, da realidade global e das escolhas nacionais dos países onde se encontram. Mas dependem também – e não em pequena escala – das opções de seus próprios governantes.
O futuro de nossas duas grandes metrópoles, por exemplo, está em jogo nesse segundo turno. São Paulo, a maior delas, se posiciona como candidata a cidade global, com todas as vantagens e os desafios que o título representa. O seu sucesso nessa trajetória vai depender, em grande escala, de como vai gerir a cidade, nos próximos quatro anos, a pessoa que vier a se sentar na principal cadeira da prefeitura. O que pensam disso Marta Suplicy e Gilberto Kassab?
PublicidadeO Rio tem pela frente problemas mais graves. Tem que superar de uma vez por todas o ciclo de decadência que se abriu com a transferência da capital para Brasília. Precisa voltar a ser o lugar acolhedor que sempre atraiu gente de todo o mundo. Deve conter a violência e a favelização, reduzir a ilegalidade no transporte, recuperar o sistema de saúde pública e modernizar a educação. Mas necessita sobretudo projetar para si mesma um novo futuro, um novo lugar no Brasil e no mundo. Eduardo Paes se apresenta como candidato a síndico. Fernando Gabeira pretende fazer do Rio um grande centro de produção de conhecimento. Os eleitores dirão que futuro preferem para a cidade.
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