Expedito Filho, de Nova York |
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Para o bem e para o mal, durante os dois dias que passou em Nova York, Lula fez questão de demarcar a diferença entre ele e seu antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas acabou revelando muita semelhança. FHC foi um espectro sempre presente no discurso do presidente. Imagine, primeiro, o Hotel Waldorf Astoria, na Park Avenue, cenário de tantos filmes holywoodianos. Ali, cercado de representantes das maiores empresas do mundo globalizado, o presidente do Brasil esqueceu por instantes o objetivo de sua viagem, que era o de motivar empresários a investir no BrasiL, e começou o ataque. “Eu não fiquei dez anos no poder e deixei de fazer a reforma da Previdência por medo”, disse Lula. Ainda na mesma cena, as pessoas se entreolharam e perceberam que o discurso ganhou um caráter eleitoral. Bem, não era o cenário adequado, mas o presidente é político e pode, aqui e ali, falar como homem de partido, ou, como se diz no interior do Brasil, como chefe político. Publicidade
Em outro trecho de seu discurso, Lula, o presidente operário, orgulho nacional, deu outra estocada. “O Mercosul deixou a retórica do governo anterior e agora integra toda América do Sul”, disse o presidente. Publicidade
Entre lustres e holofotes, o presidente seguiu a mesma linha, sempre sangrando a imagem de seu antecessor, se é que isso é possível. Mas uma mudança ocorreu sem o presidente se dar conta. No uso do gogó, ele acabou parafraseando o discurso de governo de seu antecessor. Primeiro, usou uma frase que era do ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan, ou talvez fosse a preferida do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, mas fato é que ela agora pertence a Lula, com todos os seus direitos autorais. “O governo vai manter uma política fiscal austera, não vai gastar mais do que arrecada”, disse Lula. PublicidadeA turma de Wall Street que estava ali na Park Avenue primeiro se entreolhou, depois vibrou e aí começou a ver tudo diferente. Caberia a dúvida, ou dúvidas: Seria o Lula? Talvez o FHC, ou o Malan ou Armínio, mas decididamente não era mais “a temida voz rouca das ruas”. Afinal, essa coluna pode, a exemplo de Lula, usar uma outra frase de FHC. Em outro encontro, em uma universidade, Lula fez um discurso para emigrantes brasileiros e acabou aplaudido de pé. O problema aqui é que a frase que provocou aplausos era uma das favoritas de FHC: “Nao se resolve em um ano e seis meses os problemas dos últimos 500 anos”. Durante oitos anos, nós ouvimos essa ladainha, que só perde para aquela outra: “O Brasil tem rumo”. Pode-se dizer que os presidentes gostam de falar e que até são sinceros. Na fileira oposicionista, o líder petista defendeu com unhas e dentes o aumento do salário mínimo. Agora, com a faixa presidencial, Lula fez quase uma confissão e disse que todo mundo sabe que o salário mínimo não pode ser aumentado por causa da Previdência, mas que todos pedem o aumento do mínimo em campanha eleitoral. Foi ou não foi honesto? Para a turma de Wall Street, o Lula que passou por aqui está definitivamente exorcizado e muito parecido com seu antecessor. |