Antonio Vital
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Aos poucos, o PT vai descobrindo a utilidade de manter em seus quadros lideranças com posição crítica em relação ao governo. Depois de expulsar rebeldes na Câmara e ameaçar fazer o mesmo no Senado, o partido do presidente Lula descobriu agora que uma sadia oposição amiga faz bem, garante votos e esvazia o discurso da oposição em certos casos. Basta reparar nos atos do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Há uma semana, ele cobrou publicamente do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central que mantivesse a taxa de juros do jeito que estava ou, no máximo, desse um leve e imperceptível aumento preventivo. Ao dizer isso, Dirceu sabia exatamente que iria provocar irritação no Ministério da Fazenda e no próprio Banco Central. Ele sabia também da iminência do aumento dos juros, dados os sinais visíveis de volta da inflação em alguns setores da economia. Publicidade
Mas ele sabia, principalmente, que a leitura de sua cobrança, para o consumo externo, seria a seguinte: "o governo não quer aumentar os juros e, se isso vier a ocorrer, é porque existem razões técnicas imperiosas que o justifiquem". Publicidade
Dirceu pôde ainda faturar um subproduto de sua intromissão na área de Antonio Palocci. Tem gente que acredita piamente que, não fosse a bronca do chefe da Casa Civil, os juros teriam subido ainda mais, o que não é verdade. O PT também está usando artilharia amiga como arma eleitoral na disputa pelas prefeituras. Um exemplo clássico do fenômeno é o Rio Grande do Sul, onde lidera a corrida em Porto Alegre o radical Raul Pont, que está mais para Luciana Genro que para Olívio Dutra e Tarso Genro. PublicidadeNa página que mantém na internet, o candidato usa termos que desapareceram há muito dos discursos do governo. Ou parece pertencer ao partido do presidente da República o autor dos comentários abaixo? "… milhões de brasileiros continuam sobrevivendo sem direitos fundamentais previstos na Constituição. Seguem formando um crescente exército de excluídos sem direito à voz e à cidadania." "As políticas neoliberais que caracterizam o modelo de globalização excludente implementado em toda a América Latina nas últimas décadas traçaram as linhas gerais dessa caricatura deformada. Nosso desafio central continua sendo a superação desse modelo…" Ainda no Rio Grande do Sul, o político mais requisitado para aparecer nos palanques petistas do estado não é nenhum dos dois ministros gaúchos do governo, mas o senador Paulo Paim (PT-RS), que já chegou até a ser ameaçado de expulsão pelo partido por cobrar a aprovação da PEC paralela da Previdência e se recusar a aprovar o salário mínimo de R$ 260,00. Onde Paim vai é tratado como celebridade e seu apoio vale mais, lá, que qualquer manifestação do Palácio do Planalto. Outro crítico do governo alçado à categoria de cabo-eleitoral imprescindível é o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). O ex-marido de Marta é usualmente brindado com toda sorte de epítetos negativos no Palácio do Planalto e constantemente critica medidas do governo em público. Mesmo assim, sua presença ao lado da ex-mulher nos comícios é fundamental para ajudar a diminuir a rejeição da prefeita, segundo as pesquisas. Ou seja, o PT está permitindo dissidências internas porque elas são úteis. Em 2006, por exemplo, ou nas eleições seguintes, esses dissidentes podem vir a ser a arma do partido na disputa eleitoral, caso as intempéries da vida façam a popularidade do presidente Lula despencar. É uma espécie de salva-vidas para ser usado em caso de emergência. |
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