Cláudio Versiani, de Nova York* |
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Nova York é uma cidade na qual os solitários vivem juntos, compartilhando os espaços urbanos. Calçadas, praças, parques e bancos. Não há quem não goste de dar um palpite ou puxar uma conversa. Fotografar pelas ruas da cidade é quase um ato coletivo. Logo aparece alguém perguntando: “Que câmera é essa?”. Ou dizendo que a câmera é muito boa etc. Todos têm necessidade de falar um com os outros, nem que seja só um pouquinho. O telefone celular é o grande instrumento anti-solidão. E tem gente que aproveita a carência da cidade, para ganhar uma grana. No verão é possível encontrar em Times Square um sujeito que cobra US$ 1 por minuto para escutar as pessoas. Não fala nada, só escuta, já esta bom. Literalmente esse sujeito encampou o famoso ditado, “Time is money”. Publicidade Foi pensando na solidão dos nova-iorquinos que Bill Wetzel, arquiteto, e Elizabeth Barry, professora, resolveram colocar em prática o projeto “Talk to Me” ou, em bom português, “Fale Comigo”. Logo após o 11 de setembro de 2001, eles resolveram ir para as ruas com um cartaz no qual se lia “Talk To Me” e ver como as pessoas reagiam. Uma das regras – não escritas mas sabidas – da cidade estabelece que o chamado contato olho no olho é para turistas ou para malucos. Bill acredita que qualquer um tem o que aprender com o outro e que todos nós somos curiosos. Ele diz que Nova York é uma cidade amigável, mas as pessoas quando andam pelas ruas não se olham nos olhos, ninguém quer “perder” quatro segundos. O projeto já completou três anos e meio. Seja inverno ou verão, a dupla está nas ruas com o cartaz, duas cadeiras e muita paciência, aguardando os transeuntes que queiram falar com eles. Nunca tiveram problemas maiores nem com a polícia nem com os meliantes, mas já escutaram alguns impropérios e algumas coisas malucas. Publicidade“Vocês são psiquiatras? Vocês colocam cartas de Tarot? Não dá pra ler as mãos?” Todo ano eles promovem uma festa no Bryant Park, no coração da ilha, para reunir os amigos da rua que falaram com eles. Mas, com certeza, a nigeriana Mary Shodiya é a melhor amiga da dupla. Depois de formada no segundo grau, ela foi aceita em várias universidades mas não tinha dinheiro para pagar as anuidades. Bill e Liz fizeram um cartaz para ela e foram todos para a frente da Bolsa de Valores em Wall Street, porque é lá que o dinheiro está. O cartaz dizia mais ou menos assim: “Eu me chamo Mary e sou uma aluna brilhante. A Universidade Columbia é quem diz. Tudo o que preciso de é um empréstimo”. No fim do dia, uma boa alma se comoveu com a história e ajudou a arrecadar os US$ 20.000 necessários para pagar o primeiro semestre de Mary. Bill e Liz agora estão pedalando pelas estradas do país, ouvindo o que os outros norte-americanos têm a dizer. Eles não pedem doações, mas aceitam. O projeto foi pensado com um custo diário de US$ 7 por pessoa. Montados sobre duas rodas estão gastando US$ 10. Dormem onde dá ou nas casas de quem oferece abrigo. Próxima parada, o mundo. Eles estão animados com a possibilidade de pedalarem por outras partes do planeta. Bill e Liz foram os primeiros amigos que fiz nas ruas de Nova York. Eles já me escutaram um bocado. Eles são curiosos de verdade. O Brasil é novidade para eles. Se você quiser, pode “falar” com eles por e-mail. Diferentemente do que fazem na rua, a dupla nao costuma responder as mensagens. Mas fale com eles. De qualquer forma, o endereço é nyctalktome@yahoo.com. Boa sorte! |
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