Ronaldo Brasiliense*
Não há neste país nenhum jornalista com alguns anos de profissão que não tenha encarado um “dossiê” no meio do caminho, principalmente em tempos de campanha eleitoral.
Sempre aparece alguém mostrando informalmente que fulano está envolvido em falcatruas acolá, cicrano roubou sei-lá-aonde e beltrano nomeou a mulher e a amante para ocupar cargo público, sem trabalhar.
Com um intróito destes, é claro que estou querendo colocar na roda o dossiê dos Verdoin sobre o suposto envolvimento dos tucanos Geraldo Alckmin e José Serra com a máfia das ambulâncias. Minha amiga Tânia Fusco vivia falando dos “doziês” que rolavam, quase sempre, naquelas famosas peregrinações pelos setores que comandam as informações sobre investigações em curso.
E, justiça seja feita, o Ministério Público Federal transformou-se, depois da Constituinte de 1988, numa ponta de lança no combate à roubalheira neste país. A Polícia Federal, na gestão do eficiente delegado Paulo Lacerda, agora no governo Lula, tem dado lições públicas de como se deve atuar no ataque à corrupção. Lacerda só consolida a imagem que dele sempre tive: é um profissional.
Nunca, em todo esse tempo de Brasil que vi e vivi, tantos corruptos de alto coturno acabaram atrás das grades, mesmo que às vezes tenham sido soltos pela Justiça pouco depois. Mérito para o presidente Lula e seu ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, que conheci defendendo a família do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria (sul do Pará), João Canuto, assassinado a tiros em 1985, e também como advogado do banqueiro Ângelo Calmon de Sá, ex-dono do falido Banco Econômico.
No episódio atual, envolvendo Freud Godoy, assessor de segurança do presidente da República, está claro que, como teria dito Lula, “fizeram cagada”. Quem pagaria R$ 1,8 milhão por uma foto de Serra numa cerimônia de entrega de ambulâncias ou por uma foto de Alckmin ao lado de um suposto sanguessuga? Domingos Alzugaray, dono da IstoÉ, divulgou nota dizendo que sua revista não se vende.
PublicidadeImpressiona o valor supostamente pago pelo dossiê Serra. E olha que eu pensava que, depois das falcatruas envolvendo a dupla Marcos Valério de Souza e Delúbio Soares, o PT estaria endividado pelas próximas três décadas! Ingenuidade minha! Só falta a PF descobrir de onde saiu o dinheiro que pagaria os Verdoin, que a cada semana dão uma entrevista a uma revista nacional e – durma-se com um barulho desses! – acabam se desmentindo em seguida.
Lula viajou para Nova Iorque, para discursar na Assembléia Geral da ONU, puto da vida. Nunca, nos últimos meses, abriram tanto o caminho para que seus adversários na corrida presidencial chegassem ao segundo turno.
Deve ter pensado, a bordo do Aerolula, o avião de US$ 156 milhões que comprou apesar das críticas gerais: “Para quem tem aliados como esses, quem precisa de adversários?”
É vero…
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