Cláudio Versiani, de Nova York*
O técnico da seleção brasileira de futebol, Carlos Alberto Parreira (Parreira, para os íntimos), ficou irritado com a tal da leitura labial da Rede Globo. Sobre Gilberto Silva ele teria dito: "Gostei muito. Pena, se nós tirarmos o Emerson, vai ser foda". E logo após o segundo gol de Ronaldo, o Fenômeno, contra o Japão, disparou: "Agora vamos ver. Filhos da puta… ainda pedem para o Ronaldo ir embora".
Irritados estão os 180 milhões de brasileiros. De futebol todo mundo entende, menos o Parreira.
Depois do jogo contra Gana em que o Brasil, só jogou 20 minutos, dez no começo do primeiro tempo e dez no final do segundo, Parreira mais uma vez sacou suas brilhantes declarações. O problema da seleção foi a falta de paciência dos jogadores e o excesso de passes errados, decretou o técnico. Haja paciência! Paciência para agüentar o Parreira.
Parreira disse que é preciso ter nervos de aço. E nós não sabemos? Ora, como sabemos.
"Por que o Brasil tem que jogar bonito?", perguntou o gênio Parreira. Ele mesmo respondeu: "Apreciamos isso, mas queremos ser campeões mundiais. Já conseguimos cinco títulos e estamos no caminho para conseguir mais um".
É melhor alguém avisar à Nike, patrocinadora da seleção até 2018. A empresa aposta na beleza do futebol brasileiro e mantém um site chamado "Joga Bonito" sobre o time dos Ronaldos e cia. E, por favor, que esse alguém aproveite e avise ao seu Parreira que, mesmo que não jogue bonito, o time tem a obrigação de pelo menos jogar. Porque, até agora, a seleção só fez de conta.
PublicidadeAqui de longe, ainda não consegui ver um jogador brasileiro mais ou menos suado. O velho Zidane terminou o jogo contra a Espanha encharcado em suor. Os jogadores de Portugal e Holanda quase se mataram em campo. E em vários outros jogos foi possível ver empenho e determinação. Ou como se dizia antigamente, jogadores com a alma na ponta da chuteira.
Essa história de time que dá para o gasto vamos deixar para os outros. O Brasil é o melhor do mundo e assim tem que jogar. Tomara que a França obrigue o time do Parreira a jogar bola. O nosso problema é que o time do Brasil é bom demais ou deveria ser, a julgar pelos jogadores. Contra essas babas que pegamos até aqui na Copa da Alemanha não deu nem para esquentar. Só deu para sofrer um pouquinho contra o Gana, como havia previsto o técnico daquela equipe. Mas nosso sofrimento foi causado pelos jogadores brasileiros.
O porteiro do meu prédio aqui em Nova York não entende por que eu reclamo do time do Brasil. Ele me disse que eu parecia um fã do Yankees, o melhor time de beisebol dos EUA. O time ganha e a torcida não perdoa, está sempre exigindo um pouco mais. É o preço que se paga por ser o melhor.
Ainda bem que o gordo Ronaldo anda falando menos e marcando os seus golzinhos, já são três, estou contando e esperando mais. Dida esteve tranqüilo, o mesmo se pode dizer de Lúcio e Juan. Quando os melhores do Brasil são jogadores de defesa, é porque algo muito errado está acontecendo. O time de Gana é bonzinho, mas incompetente nas finalizações. Austrália, Japão e Croácia não são diferentes.
Só faltam três jogos. Será que é pedir muito para os milionários da bola jogarem 270 minutos? Robinho deve estar recuperado, Gilberto Silva merece ficar, Cicinho e Gilberto loucos para participar da festa, sem falar no Fred que jogou cinco minutos e deixou a sua marca.
O Brasil é o time dos recordes. Ronaldo é o artilheiro das Copas, o Brasil já fez 201 gols em mundiais, Cafu jogou 19 partidas e a seleção disputou todas as edições do mais importante torneio esportivo do mundo. Tudo isso só vai valer se pudermos colocar a sexta estrela no peito. E, para isso, o Parreira tem que contribuir ou pelo menos não atrapalhar.
Do contrário, chame o Felipão, aquele que manda dar botinadas ou bater acima da medalhinha. Deu gosto de ver Portugal lutando em campo para conseguir a classificação. Não se trata aqui de fazer a apologia da violência. Mas, sim, de ver jogadores se esforçando na sua profissão, fazendo das tripas coração, só para citar mais um chavão do tempo do onça.
Jogo é jogado, e lambari é pescado. Tenho dito.
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