Conhecido nacionalmente como o "Rei da Soja", em menos de três anos de mandato o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi – ainda no PPS, mas negociando com PFL e PMDB – já garantiu mais do que os 15 minutos de fama que o astro-pop Andy Warhol um dia previu que todos teriam direito a ter em vida.
Nos últimos anos, o Mato Grosso de Maggi disparou na frente como o estado líder em desmatamentos na floresta Amazônica. No período entre agosto de 2003 e julho de 2004, os cupins humanos avançaram sobre a floresta e derrubaram mais de 10 mil quilômetros quadrados de mata virgem, abrindo caminho para a expansão da soja. Não foi à toa que Maggi apareceu no New York Times como vencedor do "Troféu Motosserra", outorgado pelos chatos da ONG internacional Greenpeace.
Na semana passada, Blairo Maggi incorporou mais um feito a seu currículo: Mato Grosso também passou a ser o campeão nacional de casos de trabalho escravo, segundo levantamento do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE). Superou inclusive o Pará, que até o ano passado concentrou a maioria dos casos. De janeiro a agosto de 2005, os grupos móveis de fiscalização do Ministério do Trabalho libertaram 3.025 pessoas que trabalhavam em condição análoga à de escravos: dessas, 1.423 estavam sendo exploradas em território matogrossense.
No mesmo período, foram libertados 725 trabalhadores no Pará, 275 no Maranhão, 186 na Bahia, 182 no Tocantins, 19 em Rondônia e 10 em Minas Gerais. O Mato Grosso de Blairo Maggi também responde, há anos, pela maioria dos focos de queimada registrados por imagens de satélite pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos (SP).
Na avaliação da coordenadora do Projeto Nacional de Combate ao Trabalho Escravo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Patrícia Audi, o crescimento econômico propiciado pela expansão da agropecuária em Mato Grosso não se reflete no desenvolvimento social do estado. Principalmente no que diz respeito ao trabalho escravo. Constatou-se também que é nas fazendas que ocorrem as maiores violações dos direitos trabalhistas.
PublicidadeDe acordo com estudo feito pela OIT, 80% das atividades ilegais contra os trabalhadores estão na pecuária, 10% em propriedades de algodão e soja e os 10% restantes em outras atividades afins. Apesar do quadro, as ações desenvolvidas no país desde 1995, segundo Patrícia Audi, são reconhecidas. O Brasil virou referência no combate ao trabalho escravo no mundo. Mato Grosso, porém, coloca-se na contra-mão da história.
Blairo Maggi é um fenômeno. Campeão de maus exemplos. Milionário, cortou os intermediários e se elegeu governador. Desbancou políticos tradicionais de seu estado. Maggi é um dos maiores incentivadores da formação de um consórcio de produtores de soja para, com dinheiro subsidiado do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos fundos constitucionais do Norte e do Centro-Oeste, asfaltar a rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163), abrindo uma nova frente para os desmatamentos na maior floresta tropical do planeta.
Comenta-se no distante Amapá, extremo norte do Brasil, que Maggi está comprando terras por lá, para expandir o plantio da soja num estado que tem a seu favor um porto como o de Santana, com grande calado, bem à porta do oceano Atlântico. Um dos estados da Amazônia Legal com maior cobertura florestal ainda intocada –, o Amapá que se cuide: Blairo Maggi está chegando com seus cupins.
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