Ronaldo Brasiliense*
Bem mais novo que o Carlos Heitor Cony, sou do tempo em que a Central Única dos Trabalhadores (CUT) enchia as ruas das principais cidades brasileiras com outdoor e cartazes denunciando deputados e senadores envolvidos em atos de corrupção, compra e venda de votos ou mesmo por votarem contra os interesses dos trabalhadores.
Bons tempos aqueles, antes do deputado Ricardo Berzoini, recém-eleito presidente do PT, como ministro do governo Lula, mandar os velhinhos do Brasil com mais de 90 anos se recadastrar nas filas do INSS, e de o presidente da CUT, Luiz Marinho, virar ministro do Trabalho. Também em meu tempo, como delegado eleito pelos meus companheiros jornalistas do Pará, estive em São Bernardo do Campo (SP) participando do processo de fundação da CUT, no início dos anos 80. Quem não cometeu erros, que atire a primeira pedra…
Essas reminiscências me levam ao processo de cassação dos 13 deputados federais envolvidos com o escândalo do mensalão, particularmente aos cinco deputados do PT que recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para retardar o processo de cassação. Todo mundo está careca – igual ao Marcos Valério – de saber que esses deputados já foram condenados pela opinião pública. E, com processos individualizados ou não, serão sumariamente cassados pelo Plenário da Câmara, que ou cassa agora ou, então, terá de prestar contas ao eleitor em outubro de 2006.
Todos os especialistas consultados até agora são unânimes em afirmar que o Congresso Nacional terá uma renovação recorde em 2006, provavelmente superior a 60% da atual bancada. E falam que o PT, desgastado até a medula com o caixa dois – o tal de dinheiro não contabilizado – será o maior perdedor.
Alguns argumentam que o Professor Luizinho não merece ser cassado por ter sido beneficiado com apenas R$ 20 mil do propinoduto montado pela dupla Marcos Valério-Delúbio Soares. Luizinho virou até piada: “Como professor é mal remunerado neste país!”. No Brasil ainda tem disso: alguém argumentar que quem embolsou R$ 3,7 milhões, em 2004, das contas de Marcos Valério, como o deputado Vadão Gomes (PP-SP), cometeu irregularidade maior do que aquele que embolsou 20 dinheiros. É tentar colocar diferença entre o ladrão de galinha e o criminoso do colarinho branco. A diferença de fato existe: no Brasil, só o ladrão de galinha vai para a cadeia.
O ex-líder Paulo Rocha, que conheci como líder do Sindicato dos Gráficos do Pará e reputo como honesto, teve uma evolução patrimonial de 1.089% entre 2002 e 2004, mostram dados da Receita Federal publicados pelo Correio Braziliense. Declarou patrimônio de R$ 12 mil em 2002 e, em 2004, seus bens chegaram a R$ 140 mil. Agora vá entender como um deputado com quatro mandatos nas costas declarou, três anos atrás, um patrimônio que não representa sequer um carro popular, 1.0, de segunda mão?! Rocha seria candidato ao governo do Pará em 2006. Seria…
Publicidade“Vocês não são corruptos”, inocentou-os o presidente Lula, ao receber os deputados petistas no Palácio do Planalto. “Menas”, presidente… Quem recebeu mensalão ou dinheiro “não contabilizado” para pagar dívidas de campanha eleitoral ou se locupletar é tão responsável como são os fazendeiros responsabilizados pelo mesmo Lula pelos casos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul.
Neste filme de faroeste, evidentemente, está faltando mocinho.
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