Renata Camargo
Um relatório sobre os possíveis impactos econômicos das mudanças climáticas no Brasil, divulgado ontem (25), mostra que o país pode perder R$ 3,6 trilhões em 40 anos, o que significa descartar um ano inteiro de crescimento econômico. O relatório prevê que cada cidadão brasileiro pode perder entre R$ 534 e R$ 1.603 de PIB per capita em 2050.
Além do bolso do cidadão brasileiro, há também os aspectos sociais. Nesse âmbito, a alteração climática caminha no sentido de agravar a desigualdade social no país. O relatório é claro: “os custos e riscos potenciais da mudança de clima no Brasil pesariam mais sobre as populações pobres do Norte e Nordeste, de modo que as políticas de proteção social nestas regiões devem ser reforçadas”.
No Norte, a temperatura pode aumentar de 7º a 8º C em 2100, o que acarretaria a redução de 40% da cobertura vegetal na Amazônia. No Nordeste, as chuvas tendem a diminuir de 2 a 2,5 mm/dia – com a previsão de reduzir em 25% a capacidade da pecuária bovina. Sul, Sudeste e Centro-Oeste também teriam consequências como enchentes e aumento insuportável da temperatura nas cidades. Mas no Norte e Nordeste as consequências seriam ainda mais graves.
Os custos acarretados pelos impactos das mudanças do clima trariam perdas para vários setores e demandariam grandes investimentos do governo, por exemplo, no setor de energia e na área social. Os gastos com ações de gestão costeira e políticas públicas para desabrigados por causa de deslizamentos nos morros, por exemplo, é estimado na cifra de R$ 3,72 bilhões até 2050. (veja as principais conclusões do relatório elaborado pela USP, INPE, UFRJ, UFMG, IPEA, CNPq, BNDES, entre outras)
Há controvérsias entre cientistas em relação às mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global. Alguns desconsideram a teoria de que a terra está se aquecendo além dos níveis normais (O outro lado: a grande farsa do aquecimento global). Outros consideram que o aquecimento global é consequência das ações humanas – especialmente após a segunda revolução industrial (1850-1870) – e outros ainda, um efeito natural decorrente de alterações cíclicas do planeta. Independentemente da posição, no entanto, é possível vislumbrar implicações decorrentes de um aumento da temperatura do planeta.
Veja um vídeo em inglês sobre mudanças climáticas:
Crescimento do mundo e seus desdobramentos:
É sobre essas implicações que os presidentes e líderes mundiais vão se debruçar na reunião de Copenhague. De 7 a 18 de dezembro, chefes de Estado de diversos países membros da ONU participam da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 15) na capital da Dinamarca. No encontro, as nações devem discutir soluções para as mudanças do clima causadas pelo aquecimento excessivo da Terra. O tema é bastante complexo. Mas, para compreendê-lo, o primeiro passo é entender que não se trata apenas de um debate ambiental.
A incógnita agora é o que sairá de Copenhague. Há poucos meses, a expectativa era que os países se comprometeriam com percentuais de redução de emissão de gases do efeito estufa. Na prática, assumiriam o compromisso de modificar as fontes de energia, reduzir o consumo, buscar alternativas de captação de água e outras formas alternativas para poluir menos.
Veja o que atribuem como consequências do aquecimento no Brasil:
O Brasil se comprometeu voluntariamente a reduzir em até 39% a poluição. Essa postura voluntária se dá pelo fato de os países em desenvolvimento terem responsabilidades diferenciadas em relação aos países ricos. Os países desenvolvidos, que compreendem cerca de 20% da população mundial, são responsáveis por três quartos das emissões de CO2 na atmosfera desde o início do processo da industrialização.
China e Estados Unidos são os maiores poluidores mundiais. Na semana passada, os chefes das duas nações jogaram um balde de água fria nos interessados em avançar nas negociações de Copenhague. Decidiram (e levaram juntos outros 19 países) que não se comprometeriam em diminuir a poluição. Nesta semana, os Estados Unidos voltou atrás e disse que vai apresentar uma obrigação pública de reduzir a emissão de gases.
A mudança de postura do presidente norte-americano, Barack Obama, deveu-se, claramente, às pressões da opinião pública, sem desconsiderar, é certo, interesses econômicos por trás desse recuo. Os norte-americanos e pessoas de outras nações reagiram. Protestaram porque acreditam que não se deve menosprezar, do dia para a noite, um encontro que decidirá os rumos do planeta.
A questão é que, independentemente do que se venha a decidir em Copenhague, será preciso que cada país, internamente, reveja suas responsabilidades. O Brasil está entre os cinco maiores poluidores do mundo. A maior culpabilidade recai sobre o setor produtivo no campo: agricultura e pecuária são responsáveis por cerca de 70% das emissões de gases de efeito estufa. Mas as cidades também têm aumentado consideravalmente suas emissões.
Reduzir o desmatamento é consenso. Mas é preciso insistir em uma conjuntura maior: na mudança de hábito no campo e na cidade. Diminuir o consumo e o desperdício. Os hábitos de consumo estão diretamente ligados às mudanças climáticas que serão discutidas em Copenhague. Avaliar os impactos das próprias atividades cotidianas não custa nada e contribui para a melhor qualidade de vida de todos.
Calcule o quanto de CO2 você emite
A seguir, textos e vídeos que ajudam a entender melhor o que está em jogo:
Entenda o aquecimento global sob uma ótica bem humorada
Caminhos para uma economia de baixa emissão de carbono no Brasil
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