Ronaldo Brasiliense * |
Depois de tarrafear peixes graúdos do aquário petista como o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP); o líder do partido na Casa, Paulo Rocha (PA); o ex-líder do governo Professor Luizinho (SP) e o relator da CPI do Banestado, José Mentor (SP), a CMPI dos Correios aperta o cerco contra a jóia da coroa petista – o ex-ministro da Casa Civil da Presidência da República, deputado José Dirceu (SP), que será ouvido hoje no Conselho de Ética da Câmara, num depoimento que poderá definir o seu futuro político. Ex-guerrilheiro nos anos de chumbo da ditadura militar, Zé Dirceu colecionou desafetos em sua passagem pelo Palácio do Planalto, onde recebeu plenos poderes para governar o país do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A situação de Dirceu complicou-se ainda mais com a divulgação de documentos do Banco Rural mostrando que seu assessor Roberto (Bob) Marques teria retirado R$ 50 mil das contas do operador Marcos Valério de Souza. Publicidade
A Dirceu são atribuídas as manobras para aprovar o Conselho Federal de Jornalismo, um cabresto para os jornalistas, e a Lei da Mordaça, para calar os procuradores do Ministério Público Federal, sem falar da arrogância que exibia no próprio trato com seus colegas do Parlamento. Como poderoso ministro da Casa Civil, ele esnobou grande parte dos mesmos deputados que o ouvirão atentamente no Conselho de Ética e, provavelmente na próxima semana, na CPI dos Correios. Apontado como “chefe” da quadrilha do “mensalão” pelo presidente licenciado do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), e acusado por Renilda – “Amélia” – Santiago Fernandes, mulher do empresário Marcos Valério, de saber dos empréstimos do Banco Rural feito para abastecer os cofres do PT, Zé Dirceu terá que enfrentar já na Comissão de Ética um embate que se prenuncia histórico com seu principal acusador. Em jogo, seu mandato conquistado com 556.563 votos em São Paulo e seu futuro político. Publicidade
Para o ex-braço direito do presidente da República, que sonhava em disputar o governo do estado de São Paulo, não haverá segunda chance. Mais do que a mulher de César, Zé Dirceu terá que provar que é honesto, parecer honesto e convencer a todos daquilo que repete à exaustão: que o PT não rouba e não deixa roubar. Algo cada vez mais difícil diante da enxurrada de provas levantadas sobre o envolvimento de estrelas da constelação petista na retirada de dinheiro das contas de Marcos Valério. O ex-ministro Mario Henrique Simonsen escreveu em 1993, em artigo na revista Exame: “Há duas maneiras de interpretar a atual maré de escândalos que inunda a política brasileira. Uma delas, altamente otimista e amplamente sublinhada pela imprensa, exalta a nossa democracia pela capacidade que vem revelando em identificar corruptos e defenestrá-los. Uma outra leitura, insidiosa mas não menos lógica, é que uma democracia que produz tantos casos de corrupção e que só aumentou a inflação e a recessão é um projeto fracassado”. PublicidadeTirando a referência sobre a inflação e a recessão, que estão sob controle no Brasil de hoje, graças à política econômica adotada pelo quarteto mais tucano que petista formado por Pedro Malan, Armínio Fraga, Antonio Palocci e Henrique Meireles, a análise de Simonsen continua atualíssima. Encaixa-se com perfeição ao governo do presidente Lula e de seu ex-braço direito Zé Dirceu, aquele em que a corrupção venceu a esperança. |
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