Marcos Magalhães*
Apostar em uma nova onda de cooperação internacional, neste momento, pode soar tão inútil quanto nadar contra a corrente em um mar de ceticismo. Os atentados terroristas, a guerra no Iraque e o impasse entre o Norte e o Sul nas negociações para a liberalização do comércio internacional são exemplos de um cenário pouco inspirador. Mesmo assim, parece promissora a proposta de realização, em 2012, de uma nova conferência internacional do meio ambiente, a Rio+20.
Apresentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a última sessão da Assembléia-Geral da Organização das Nações Unidas, a proposta tem o mérito de pelo menos indicar data e local para uma nova rodada de debates sobre o futuro do planeta. A Rio + 10, realizada em 2002 na África do Sul, não pode ser considerada exatamente um sucesso.
Pouco se avançou no estabelecimento de novas metas de proteção ao meio ambiente e de estímulo ao desenvolvimento – temas principais da conferência realizada no Rio em 1992, quando ainda era presidente o atual senador Fernando Collor – primeiro, aliás, a lançar a idéia da Rio+20.
É verdade, também, que até o momento nada indica que uma nova conferência, dentro de cinco anos, tenha destino mais brilhante que a de Joanesburgo. Até porque a principal potência do planeta permanece, até o ano que vem, nas mãos de um presidente que, além de ajudar a espalhar o ceticismo no cenário internacional com a sua política externa, ainda alimenta um olímpico desprezo em relação às denúncias de aquecimento global e à busca de um modelo econômico e energético menos prejudicial ao meio ambiente.
O cenário pouco favorável, porém, não pode ser desculpa para o imobilismo. Se não existe mais aquele discreto otimismo de 1992, por outro lado há indicadores mais definitivos e contundentes em relação à saúde do planeta. Há 15 anos, Bush pai dizia que os Estados Unidos não mudariam seu modo de vida para proteger o meio ambiente. Ou seja, os americanos continuariam alegremente a queimar gasolina. Bush filho diz o mesmo, em outras palavras, ao questionar as pesquisas que indicam a gravidade do aquecimento global.
O quadro ambiental é grave e o cenário internacional não ajuda, mas a iniciativa do governo brasileiro merece ser levada em consideração. Para que ela represente mais do que uma iniciativa diplomática, porém, o Brasil precisa mostrar por que deveria sediar uma nova conferência mundial sobre o tema. Ou seja, precisa investir na construção de uma nova imagem ambiental – imagem até hoje arranhada pelas repetidas cenas de queimadas na Amazônia divulgadas em todo o mundo a cada ano.
A redução das queimadas e do desmatamento, anunciada pelo governo, é certamente um bom começo. Mas seria necessária a adoção de metas mais ambiciosas, menos defensivas e mais propositivas. Até hoje, o país se viu muitas vezes na situação de se defender – com maior ou menor sucesso – em relação às denúncias apresentadas por organizações internacionais de defesa do meio ambiente. Ao adotar a bandeira dos biocombustíveis, o presidente Lula deu um passo além e passou a apresentar uma alternativa ao mundo na área de energia. Recebe críticas e elogios por isso, mas tomou uma iniciativa. O momento, agora, é o de elevar o tom propositivo.
PublicidadeEm primeiro lugar, é preciso mesmo apresentar o chamado dever de casa. Reduzir drasticamente o desmatamento, como uma política de governo, ajuda bastante. Definir um novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia, por meio de zoneamento econômico-ecológico, deve ser o passo seguinte.
Com ênfase, por exemplo, para o turismo ecológico, que atrai cada vez mais gente de todo o planeta. Mais que tudo, será preciso conquistar os agentes econômicos para a idéia de que se pode ganhar dinheiro com a floresta em pé. Ou, como bem definiu na Câmara o ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, apostar na biotecnologia como o melhor caminho para aproveitar o vasto potencial econômico da floresta.
A nova menina dos olhos dos adeptos do turismo ecológico se chama Costa Rica. Este pequeno país da América Central dispõe de 1,3 milhão de hectares de áreas protegidas em reservas e parques naturais, além de hotéis que adotam práticas como a reciclagem de água e a economia de energia. Até 2021, segundo anunciou à revista Veja o presidente Oscar Arias, a Costa Rica pretende tornar-se o primeiro país neutro em carbono no mundo. Ou seja, suas árvores serão capazes de captar da atmosfera a mesma quantidade de gás carbônico emitida por fábricas e automóveis. Meta ambiciosa, mas simpática. O Brasil teria dificuldade em alcançá-la tão cedo, mas poderia eleger metas realizáveis e igualmente simpáticas. Desta forma, acolheria com tranqüilidade uma nova conferência mundial de meio ambiente e desenvolvimento.
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