Em depoimento à CPI dos Bingos, o juiz afastado João Carlos da Rocha Mattos afirmou que integrantes do PT atrapalharam as investigações do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel para evitar que o esquema de corrupção montado na prefeitura fosse revelado às vésperas das eleições de 2002.
Segundo ele, não houve interesse das autoridades nem da polícia civil paulista em apurar o assassinato do petista. O esquema envolvia, de acordo com o juiz, o recebimento de propina por membros do PT lotados na prefeitura. O dinheiro era arrecadado de empresas de ônibus e de lixo da cidade e teria como destino um caixinha político-eleitoral do partido.
Preso por vender sentenças judiciais, o juiz disse que a elucidação do crime passa necessariamente pelo chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho. Rocha Mattos acusou Gilberto de atrapalhar as investigações, ao orientar o comportamento das pessoas próximas ao prefeito em depoimentos à polícia e em entrevistas.
“Até a namorada do prefeito assassinado, Ivone de Santana, era orientada a chorar quando os repórteres a questionavam sobre a morte de Celso Daniel”, afirmou.
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Segundo o juiz, Celso Daniel era “um morto muito pouco querido”. Rocha Mattos teve acesso a 42 fitas gravadas pela Polícia Federal, nas quais ouviu conversas telefônicas de integrantes do PT.
Nos diálogos, de acordo com o juiz, o secretário de Serviços Municipais, Klinger Luiz de Oliveira Sousa, e os empresários Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes da Silva, ”o Sombra”, não demonstravam qualquer tipo de desolação diante da brutal morte de Daniel, “mas apenas interesse em proteger e poupar de futuros problemas o PT, eles mesmos e os membros da agremiação”.
PublicidadeSombra chegou a ser preso, acusado de ser o mandante do assassinato do prefeito. Ele e Klinger, segundo Rocha Mattos, seriam os coordenadores do esquema de corrupção. O juiz sugeriu ao presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), a requerer à 4ª Vara da Justiça Federal cópia das fitas que contêm os diálogos telefônicos entre os envolvidos no caso.
Ele contou que as fitas foram destruídas pela polícia, por determinação da Justiça, assim que apareceram na imprensa, por serem consideradas ilícitas. Duas cópias das fitas, no entanto, ainda estariam em poder da Justiça Federal, segundo o juiz.
“No exercício do cargo de juiz cheguei a ser procurado algumas vezes por uma pessoa chamada Baltazar que, mais tarde, soube era o chefe da segurança do então candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva desde 1989. Ele me pediu que as fitas, por serem gravadas de forma ilegal, deveriam que ser destruídas porque, do contrário, poderiam comprometer e desgastar a imagem do PT”, lembrou Rocha Mattos. O juiz ressaltou que Baltazar não falou, em nenhum momento, em nome de Lula.
Rocha Mattos também criticou duramente a Polícia Federal. Segundo ele, a PF se tornou uma instituição “totalmente política, sendo a polícia do governo, com muito pouca independência”. “(A Polícia Federal) trata bem pessoas ligadas ao governo, e com rigor quem está na oposição”.
O caso Celso Daniel tem novo capítulo na CPI nesta quarta-feira, quando o chefe de gabinete do presidente Lula vai ficar cara a cara com os irmãos Bruno Daniel e João Francisco Daniel, irmãos do prefeito assassinado. Em depoimento à própria comissão, eles contaram que o próprio Gilberto Carvalho lhes contou que o petista foi morto por se rebelar contra o esquema de corrupção montado na prefeitura. Gilberto, no entanto, nega o relato.
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