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Num espaço apertado – uma sala de cerca de 20m² ocupada por duas mesas com seis lugares cada uma – cerca de 30 pessoas se preparam todos os dias, de segunda a sexta-feira, para um ritual. São funcionários da Câmara e do Senado, jornalistas, advogados e parlamentares que preferem degustar uma boa e saudável comida macrobiótica no ambiente informal e descontraído do apartamento de Vera, uma jornalista de 58 anos que não gosta de revelar o sobrenome. Depois de trocar as redações pela cozinha, ela faz há quase 17 anos a cabeça e o estômago de gente ligada ao poder em Brasília. Lá é assim: quem vai sempre pode pendurar a conta e pagá-la no final da semana. Uma refeição fica entre R$ 19 e R$ 23. Mas a popularidade e o segredo do sucesso do restaurante não estão no preço, tampouco na propaganda. Na sala do apartamento de um prédio antigo da Asa Sul, bairro de classe média de Brasília, reinam a discrição, a boa comida e o ambiente quase familiar. Quase familiar, porque ali também se respira política. Que o digam o ministro da Cultura, Gilberto Gil, e outros famosos políticos que não abrem mão do cardápio preparado por Vera. Leia também Publicidade
“Sempre que está em Brasília, ele pede o almoço aqui”, conta ela, que se acostumou a receber o motorista do ministro que sempre vai buscar a encomenda. O menu degustado pelo ministro da Cultura é o mesmo de quem freqüenta regularmente o “apartamento-restaurante”. “Sirvo uma sopa quente, que pode ser de feijão azuki ou de legumes. No prato, sempre combino uma raiz, salada, um tipo de legumes verde e arroz integral”, conta. Publicidade
O endereço, mantido em segredo a pedido da anfitriã, já fez parte do roteiro gastronômico de ilustres personagens da República, como o atual ministro da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, e ninguém menos do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No final dos anos 1980, os dois poderiam ser encontrados ali no início da tarde, enquanto discutiam, na condição de oposição, os rumos da Assembléia Nacional Constituinte. Ainda que apreciado por muitos políticos, que consagraram o local como um dos endereços secretos mais prestigiados de Brasília, o restaurante da Vera não recebe mais tantos parlamentares quanto antes. “Minha bancada se resumiu ao deputado Fernando Gabeira (PV-RJ)”, exagera. PublicidadeDe fato, deputados como Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e Sigmaringa Seixas (PT-DF), que tinham mesa cativa por lá, diminuíram suas visitas este ano. Isso não quer dizer que o relacionamento de Greenhalgh com Vera tenha se abalado. “Íamos até abrir um restaurante em sociedade. Mas, apesar de ele não poder mais vir aqui, quando vai pescar, manda uns peixes para mim”, confidencia. O senador tucano Antero Paes de Barros (MT) e o deputado João Caldas (PL-AL) também já foram vistos por lá com alguma freqüência. Quem sempre chega lá apressado depois das 13 horas é o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ). Gabeira freqüenta o restaurante de Vera há quase dois anos e se comporta como se fosse de casa. Cumprimenta os outros fregueses e se senta para comer quase em silêncio. Para finalizar a refeição, uma compota de maçãs e chá sem açúcar. “Não sou radical, sou um vegetariano que come peixe”, comenta o ambientalista. Antes de sair, Gabeira acerta as contas da semana com Vera e pede um bolo de cacau para comer mais tarde. “Não agüento mais a comida do Congresso, enjoei de tudo”, reclama o ex-petista. |
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