Eduardo Militão
A Polícia Federal confirmou na tarde desta quarta-feira (20) que o jornalista Amaury Ribeiro Jr. recebeu as declarações de renda de Verônica Serra, filha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, e de outros tucanos ligados ao presidenciável. Em abril, Amaury esteve reunido com a equipe de pré-campanha da candidata do PT, Dilma Rousseff. Segundo a PF, a entrega dos dados foi feita pelo despachante Dirceu Rodrigues Garcia, num encontro no dia 8 de outubro de 2009, em São Paulo. Dirceu diz ter recebido R$ 12 mil para violar o sigilo fiscal dos tucanos, numa operação que envolveu despachantes e funcionários da Receita.
Num depoimento que durou 13 horas, Amaury afirmou à Polícia Federal que fez o trabalho a pedido do jornal Estado de Minas, no qual trabalhava à época. E que, custeado pelo jornal, pagou despesas do seu trabalho como jornalista, mas não para violar o sigilo.
Em coletiva à imprensa, o delegado Alessandro Moretti, um dos coordenadores do caso, preferiu não responder se a polícia tem em seu poder o comprovante de depósito de R$ 12 mil na conta corrente de Darci Garcia. O delegado adiantou que Amaury será ouvido novamente pela polícia. Moretti diz que o jornalista buscou dados “de forma fraudulenta”.
Segundo uma nota divulgada pela PF, “as provas colhidas apontam que o jornalista utilizou os serviços de levantamento de informações de empresas e pessoas físicas desde o final de 2008 no interesse de investigações próprias” e que “os dados violados foram utilizados para a confecção de relatórios, mas não foi comprovada sua utilização em campanha política”.
Grupo de Dilma
Em 2010, o jornalista participou de um grupo ligado à pré-campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República. Em abril deste ano, enquanto fazia parte desse grupo, ele participou de uma reunião. Segundo a acusação feita pelo PSDB, nessa reunião se discutiu a elaboração de um suposto dossiê contra tucanos.
No ano passado, segundo a investigação da PF, a encomenda de Amaury foi repassada pelo despachante Dirceu Rodrigues Garcia ao office-boy Ademir Cabral, que pediu ajuda do contador Antonio Carlos Atella. Este usou uma procuração falsa para violar os sigilos fiscais de Verônica e seu marido, Alexandre, numa agência da Receita Federal em Santo André (SP).
O diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, disse que a decisão de concecer a coletiva foi motivada para esclarecer fatos sobre o inquérito, que corre em sigilo. Ele disse que algumas notícias publicadas sobre a investigação contêm informações e teses que não podem ser atribuídas à PF.
Luiz Fernando disse temer o uso político eleitoral da PF agora, no momento em faltam duas semanas para o segundo turno das eleições presidenciais. A publicação de reportagens antecipou em dois dias a revelação de conclusões do inquérito da PF, disse Luiz Fernando. “Restam algumas diligências que não mudarão a conclusão.”
Aécio e Serra
No seu depoimento à Polícia Federal, Amaury disse que foi sua a decisão de investigar pessoas ligadas a José Serra. A motivação partiu de uma informação que ele obtivera de que estava sendo montado um dossiê contra o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). Na época, Aécio disputava internamente com Serra a indicação para ser candidato do PSDB à Presidência da República. De acordo com o jornalista, no final de 2007, ele recebeu a informação do sargento da reserva Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, de o deputado e delegado federal licenciado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) era quem liderava a produção do dossiê contra Aécio. O fato motivou-o a fazer o mesmo contra Serra.
Segundo o testemunho à polícia, a intenção inicial de Amaury era voltar a investigar o processo de privatização de estatais no governo Fernando Henrique, que ele já investigara entre 2000 e 2003. O jornalista afirma que, em 2008, o foco passou a ser pessoas ligadas a José Serra. No final daquele ano, Amaury conheceu o despachante Dirceu Garcia, na porta da Junta Comercial de São Paulo.
Encontro
Em setembro de 2009, o jornalista encomendou o primeiro pedido de informação ao despachante Dirceu Garcia. Ele queria os dados fiscais de Verônica Serra e seu marido, Alexandre. De acordo com a PF, o despachante acionou Ademir Cabral, que por sua vez pediu ajuda a Antônio Carlos Atella, que usou uma procuração falsa, recebida pela funcionária da Receita Lúcia de Fátima Milan.
De acordo com o delegado Moretti, entre o final de setembro e o início de outubro de 2009, Amaury pediu dados referentes a tucanos ligados a Serra. Desta vez, Dirceu Cabral fez o pedido a Atella, que acionou Fernando Araújo Lopes, que procurou Addeilda Ferreira Leão dos Santos. A PF sustenta que Gláucia Alves dos Santos, então namorada de Fernando, confirma o recebimento dos dados.
O delegado Moretti informa que Gláucia entregou os dados a Ademir Cabral, na presença de Atella e Dirceu. Por fim, em 8 de outubro, diz a PF, o despachante Dirceu Garcia entregou os papéis a Amaury. Moretti diz que há cruzamento de depoimentos e dados de voo que confirmam que o jornalista estava em São Paulo naquela data e fez contatos com o despachante.
Sem publicação
Amaury deixou o Estado de Minas no fim de 2009, sem publicar as reportagens a partir dessa investigação. Mas deixou um relatório completo de toda a apuração, levando uma cópia consigo para futura publicação de um livro. Na sua versão à PF, a inteligência do PT teria tomado conhecimento do conteúdo de sua investigação e o convidou para trabalhar na equipe de campanha de Dilma.
O jornalista afirma que em abril deste ano Luiz Lanzetta, então contratado da campanha de Dilma, o procurou pedindo ajuda para solucionar um problema de vazamento de informações na “Casa do Lago”, comitê da petista. Amaury recorreu a Dadá, que indicou o delegado Onézimo de Souza, que estaria brigado com o grupo do deputado Itagiba. A seguir, aconteceram duas reuniões em Brasília, uma no restaurante Fritz e outra na confeitaria Pralinê.
Amaury diz que Lanzetta o convidou para participar de um grupo de informações de inteligência para a campanha do PT, mas afirma não ter aceito a proposta.
Na tarde de hoje, a reportagem do Congresso em Foco procurou Amaury por meio de contatos em Belo Horizonte, São Paulo e Brasília, mas não o localizou.
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