Alexandre Prates *
Especialmente depois do jogo contra o Chile, muitos colocaram em xeque a liderança do capitão da Seleção Brasileira, Thiago Silva. Alguns disseram que ele travou, outros que ele se acovardou diante das dificuldades, enfim, criticaram forte o seu comportamento.
A pergunta que fica é: quem questionou a sua liderança? A imprensa, os torcedores, os comentaristas, os narradores… Sinceramente, não são questionamentos válidos. Não vi os seus colegas de seleção, a comissão técnica e nem o Felipão questionando a liderança do capitão. E é isso o que importa!
E por que não estão questionando? Pelo simples fato de que ele não teve nenhum comportamento que denegrisse o seu posicionamento de líder. Você pode até interpretar o comportamento do jogador de maneira negativa, mas permita-me trazer um pouco da minha experiência e visão para essa história. Vamos aos fatos:
Nervosismo na estreia: de jogador a torcedor, quem não estava nervoso? Aliás, quem não estava tenso só tinha dois motivos: ou não gosta de futebol ou estava torcendo contra a seleção. No mais, estávamos todos apreensivos. Agora imagine quando você tem milhões de pessoas depositando em você a esperança de ganhar um torneio como este em casa. Quem não ficaria nervoso? Pessoas ficam completamente apavoradas com muito menos pressão!
Leia também
Então, leio diversos comentários nas redes sociais que dizem: “Ele ganha milhões para fazer isso. Não pode ficar nervoso assim…”. Quer dizer que se ele ganhasse pouco, a pressão diminuiria? Que hipocrisia! Nessa hora, quando um hino é cantado da forma como foi pela torcida, quando um país inteiro conta com você, ninguém se lembra do quando dinheiro ganha ou tem. Não é isso que importa! O que está em jogo é a honra, a realização, o propósito.
Ficar isolado durante a roda de comunhão dos jogadores: o Thiago Silva estava navegando nas redes sociais enquanto isso acontecia? Por acaso ele estava arrumando o cabelo ou descansando um pouquinho? Claro que não! Ele estava em um momento de oração individual, encontrando a sua maneira de se motivar, de se tranquilizar. Ele estava, a seu modo, mandando fortes energias para os seus companheiros. Quantas vezes você já não quis ficar em silêncio, sozinho, antes de uma importante decisão na sua vida?
Não assumiu a responsabilidade: “O Thiago Silva pediu para não participar das cobranças de pênaltis”, “o capitão da seleção não ofereceu palavras de incentivo a seus companheiros”, “isso não é postura de líder!”. Você sabe qual é a postura de um líder? É não querer ser o astro. É permitir que outras pessoas assumam a liderança quando necessário, é delegar e dar poder evidenciando novas lideranças. Se o Paulinho estava inspirado para motivar as pessoas naquele momento, por que não deixá-lo fazer? Se existem outros jogadores mais preparados para as cobranças de pênaltis, qual o problema de permitir que assumam esta responsabilidade?
Quer saber? O Thiago Silva é um grande líder! Um líder que as organizações precisam ter. Um líder que permite que surjam novas lideranças. Um líder que assume a responsabilidade das críticas e foca mais na vitória coletiva do que em sua vaidade. Um líder que se cobra, que joga com raça, que torce e reza pelos seus companheiros, que assume a responsabilidade… Esse é o Thiago Silva! Isso é ser líder!
Podemos debater várias coisas que podem ser aperfeiçoadas nesse time: estratégia, jogadas ensaiadas, jogadas individuais… Agora, dizer que falta liderança, isso jamais! Em nenhum quesito – nem dento e nem fora dos gramados.
O Felipão construiu um elenco que se gosta muito, de pessoas que se apoiam, que torcem umas pelas outras. Dentro de campo, o Thiago Silva conquistou a braçadeira de capitão – não foi uma imposição – e é respeitado, admirado, seguido. Isso é para poucos! Isso é ser líder! Demonstrar medo, nervosismo, reconhecer que errou. Isso é para poucos. Isso é ser líder!
Antes de criticar o Thiago Silva, muitos líderes deveriam refletir sobre a sua liderança e constatar que têm muito a aprender com o capitão, com o técnico e com todo o elenco da nossa seleção.
* Autor do livro A reinvenção do profissional – tendências comportamentais do profissional do futuro , é especialista em liderança, desenvolvimento humano e performance organizacional, consultor e palestrante.
Assine a Revista Congresso em Foco em versão digital ou impressa
Deixe um comentário