Cada vez mais fascistóide, o governo Geraldo Alckmin lança, de afogadilho, uma retumbante operação policial para dispersar viciados em crack por toda a cidade de São Paulo, apenas mudando de lugar um problema social.
As otoridades batem cabeça: enquanto o comandante geral da PM promete extinguir o tráfico de drogas na cracolândia em 30 dias, o comandante do policiamento na região central reconhece o óbvio ululante: “É utopia dizer que vai acabar”.
A mesma coisa fez o hediondo delegado Sérgio Fleury, quando ainda atuava no radiopatrulhamento, lá por 1966: com a truculência que lhe era inerente, barbarizou a boca do lixo – que, por sinal, localizava-se em área de abrangência da atual cracolância.
As prostitutas apenas passaram a atuar em outros sítios e a darem menos bandeira por uns tempos, até tudo voltar ao normal.
Este filme está em vias de ser reprisado. Já foi medíocre da primeira vez.
Governo que não tem realizações mais expressivas para mostrar nem recursos em caixa para lançar obras majestosas apela para factóides. Isto é tão velho quanto andar para a frente.
Quando presidente da República, Jânio Quadros proibiu o monoquíni (um tipo de maiô que deixava os seios das mulheres descobertos) e a rinha de galo.
Décadas depois, na prefeitura de São Paulo, desfez uma obra antiga que escondera belos arcos e os restaurou.
São besteirinhas que custam pouco e rendem muito em divulgação.
Outro mote permanente é o combate à corrupção, igualmente velho como andar para a frente. Há mais de meio século, por exemplo, o rouba-mas-faz Adhemar de Barros teve de escafeder-se para a Bolívia, caso contrário seria preso. Não se passaram dois anos e ele já se elegia prefeito paulistano.
Desde os tempos da agourenta UDN, uns políticos corruptos açulam o povo contra outros, com máxima cobertura da imprensa, pois as pequenas besteirinhas rendem grande audiência: os humilhados e ofendidos sentem-se vingados ao ver figurões na berlinda – e depois ainda podem extravasar seus rancores, indignando-se por eles não terem sido verdadeiramente punidos.
Tais catarses apenas mantêm os explorados longe, muito longe, da solução dos seus males. À esquerda competiria, pelo contrário, conscientizá-los de que a corrupção é intrínseca ao capitalismo, um sistema que prioriza a ganância, a busca da diferenciação, o privilégio e o êxito individual em detrimento do bem comum e da cooperação entre os homens.
Enquanto existir o capitalismo, haverá quem utilize expedientes teoricamente ilícitos para levar vantagem sobre os outros. Ambiciosos amorais que têm coragem buscam atingir tal objetivo pelo banditismo. Ambiciosos amorais sem coragem apelam para a política oficial.
O verdadeiro antídoto se encontra alhures.
Ou seja, na política revolucionária, com a qual poderemos dar um fim ao capitalismo, que esgotou seu papel positivo há muito e tende a tornar-se cada vez mais nocivo e destrutivo, constituindo-se na maior ameaça atual à sobrevivência da espécie humana. O resto é desconversa de quem prefere jogar para a galera a fim de conquistar nacos de poder sob o capitalismo.
* Jornalista, escritor e ex-preso político, Celso Lungaretti mantém o blog Náufrago da Utopia.
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