Cláudia Durans *
Comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. O dia da Imortalidade de Zumbi de Palmares, herói do povo negro, o maior exemplo de luta contra a escravidão no Brasil. 320 anos após a sua morte, em 16 estados, em 20 cidades do país, estaremos marchando e denunciando o racismo, o genocídio da juventude negra, a violência policial, a violência à mulher negra que só cresce (um aumento de 54,6%, enquanto que para as brancas decaiu 9,2%, segundo o Mapa da Violência – Homicídio de Mulheres no Brasil 2015), a precariedade e dificuldade de acesso à saúde e educação públicas, e todos os cortes nas políticas públicas destinadas ao povo negro em razão do ajuste fiscal do governo Dilma.
Neste ano, na Marcha da Periferia Zumbi e Dandara + 20, buscamos colocar em primeiro plano Dandara de Palmares, companheira de vida, lutas e combates de Zumbi, guerreira e estrategista. Destacamos assim a resistência e a história de luta das mulheres negras do passado, mas também do presente.
Nas ruas da periferia, vamos desmistificar a ideia de que a situação do negro do Brasil seria resultado do fracasso individual e da incompetência de um povo que possui maior quantidade de melanina na pele. Não, isso não é verdade! É preciso que se diga às crianças negras, aos jovens negros, às mulheres negras, aos LGBTs negros e negras, aos operários e a todos os trabalhadores negros, que isso é consequência da ação deliberada e consciente do Estado brasileiro. O povo negro neste país foi trazido à força da África, através dos cruéis navios negreiros, para a exploração sem limites nos latifúndios escravistas de café, cana de açúcar, arroz, na mineração e para servir à casa grande, etc. Por quase quatrocentos anos, durante o período da Colônia e do Império, construímos a riqueza do país.
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Por quase quatro séculos também lutamos, resistimos, construímos quilombos. Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, com cerca de trinta mil habitantes, entre negros e negras, índios e brancos pobres, com quase um século de existência; o Quariterê no Mato Grosso, Lagoa Amarela no Maranhão, entre muitos outros, dando exemplo de convivência comunitária de seres humanos de diversas origens. Lutamos na Cabanagem, na Balaiada, Malês, entre muitas outras insurreições.
A classe dominante, branca e escravocrata, na transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado tratou de nos excluir da dita cidadania burguesa, impedindo-nos do acesso à terra (Lei de Terras, de 1850), trazendo imigrantes europeus, visando o branqueamento da população. Ainda criou o mito da democracia racial para justificar e esconder o racismo cruel vigente até hoje neste país.
Apesar das conquistas, fruto da luta do movimento negro, como a conquista da Lei 10.639 (que institui o ensino de História e Cultura Africana e dos afrodescendentes no Brasil), do Estatuto da Igualdade Racial, das cotas nas universidades, da titulação das terras dos remanescentes de quilombos, enfrentamos a sanha dos herdeiros dos escravocratas para retirar essas frágeis conquistas.
Garis do Rio de Janeiro, quilombolas no Maranhão, a juventude dos rolezinhos e que ocupam escolas públicas em São Paulo, operários da construção civil do Comperj, de Belém do Pará e de Fortaleza, trabalhadores e trabalhadoras do telemarkentig de Porto Alegre, mulheres de todo o Brasil contra a violência e o retrocesso nos direitos contraceptivos que lutam pra botar o conservador e corrupto Cunha pra fora, estão mostrando o caminho: A LUTA!
Para resgatar nossa identidade e autoestima negras. Por condições de vida e trabalho dignas. Resgatar as lições de Palmares, inspirados nos exemplos de Zumbi, Dandara, Tereza de Quariterê, de João Cândido vamos construir um novo quilombo, livre e socialista!
* Ex-candidata à vice-Presidência da República pelo PSTU e membro do grupo Quilombo Raça e Classe.
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