Empenhado em não repetir a derrota de fevereiro, o governo fez de tudo para tentar eleger hoje o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) presidente da Câmara. Liberou verbas, negociou ministérios, estimulou a pulverização das candidaturas para dividir os votos do chamado baixo clero – aquele grupo de deputados tradicionalmente sem grande expressão política, mas que age silenciosamente nos bastidores do Congresso – e sinalizou mudanças casuísticas nas regras das eleições gerais de 2006.
Por tudo isso, a sucessão de Severino Cavalcanti (PP-PE) oferece doses ainda maiores de nervosismo e surpresa do que a disputa que submeteu o governo ao vexame inédito de, com dois candidatos de seu partido, perder o comando da Casa. Ao contrário do que ocorreu na eleição anterior, desta vez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se envolveu diretamente nas negociações.
Cofre aberto
Lula pediu empenho aos ministros em favor da candidatura oficial de Aldo Rebelo e convenceu o candidato Luiz Antonio Fleury (PTB-SP) a desistir do acordo feito na véspera com Ciro Nogueira (PP-PI) e João Caldas (PL-AL). Os três haviam decidido fechar questão em torno do nome que se apresentasse mais forte na véspera da disputa. Sinalizou com a liberação de R$ 1 bilhão para o Ministério dos Transportes, em troca do apoio do PL ao comunista e alimentou ainda a esperança dos liberais em ter mais um ministério. Com isso, acabou recebendo à noite o apoio oficial do PL, partido cuja bancada tem 47 deputados, à candidatura de Aldo (leia mais).
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Ao fim do dia, o governo parecia ter, enfim, revertido um quadro que se apresentara até então desolador: a possibilidade de ver o seu candidato fora do segundo turno, num eventual confronto entre Ciro, herdeiro político de Severino, e Thomaz Nonô, ex-líder da oposição na Câmara. Mas como o voto é secreto e nem sempre resiste à vontade da traição, ninguém se arrisca a cravar quem será o novo presidente da Casa, personagem que tem poder, inclusive, para dar início à abertura do processo de impeachment de Lula.
Oposição se une
A oposição também se mexeu e garantiu o apoio de ex-aliados do PT: o PPS, o PDT e o PV. Com o apoio oficial ainda do PFL, do PSDB e do Prona, a candidatura de Thomaz Nonô (PFL-AL) ganhou novo fôlego nas últimas horas. As discussões com o presidente nacional do PMDB, Michel Temer (SP), estão adiantadas para uma eventual aliança no segundo turno. Em meio ao racha da bancada peemedebista, que se divide entre o seu nome e o de Aldo, Temer pode desistir da disputa esta manhã e declarar apoio ao pefelista.
Voto a voto
Nesse roteiro nada previsível, até mesmo os analistas políticos têm optado pela cautela. Os únicos que se arriscam a fazer prognósticos são os próprios coordenadores das campanhas. O Palácio do Planalto aposta que Aldo chegará ao segundo turno com algo em torno de 180 a 200 votos.
A oposição, por sua vez, acredita que Nonô terá entre 120 e 145 votos. Ainda confiante no racha do PL e no poder político de Severino, Ciro conta ter o apoio de 150 deputados. O ex-presidente da Câmara fez do apartamento funcional que continua a ocupar em Brasília um quartel-general da candidatura de seu afilhado político. “Vou estar no segundo turno. Minha conversa com o Lula é para depois da eleição”, esnobou Ciro.
O avanço político e eleitoral do corregedor-geral preocupa o governo, que teme ver se repetir o filme que transformou em presidente da Câmara o auto-intitulado “rei do baixo clero”. Desarticulado, o Planalto assistiu em fevereiro à canalização dos votos oposicionistas e da base aliada insatisfeita com a indicação do candidato oficial Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para Severino.
Quadro indefinido
Ao todo, dez candidatos se registraram à disputa pela sucessão da Câmara. A votação começa às 10h, deve se arrastar até o início da madrugada, quando está prevista a divulgação do resultado final. Os candidatos podem desistir da disputa até as 9h. Diante da pressão de seus partidos, pelo menos dois deles sinalizaram ontem à noite com essa saída: João Caldas (PL-AL) e Francisco Dornelles (PP-RJ). Veja aqui um breve perfil dos deputados que disputam o terceiro cargo mais importante da República.
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