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Agenda revela influência de Rose no BB e na Previ
Não era bem o que parecia. Quando o nome de Rosemary Nóvoa de Noronha veio a público com a deflagração da Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, a amiga íntima do ex-presidente Lula e então chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo não passava de uma “petequeira”. A expressão, cunhada pelo ex-deputado Roberto Jefferson para designar funcionários públicos que se deixam corromper em troca de ninharia, parecia feita para ela. Rose, como é conhecida, foi acusada de integrar uma quadrilha especializada em fraudar pareceres oficiais para beneficiar empresários trambiqueiros. Defendia os interesses dos criminosos no governo e, em contrapartida, tinha despesas pagas por eles – de cirurgia plástica a prestações de carro. A versão da petequeira foi providencialmente adotada pelo PT. Rose, ventilou o partido, agiria apenas na arraia-miúda do governo e sem nenhuma relação com a sigla. Eis uma tese que os fatos vêm insistindo em derrubar.
No mês passado, VEJA revelou que a amiga de Lula usava o cargo para agendar reuniões com ministros de estado: abria as portas, inclusive de gabinetes no Palácio do Planalto, a interesses privados. Agora, descobre-se que sua área de atuação abrangia também setores de orçamentos bilionários, como o Banco do Brasil (BB) e o fundo de pensão de seus funcionários, a Previ. Rose, a petequeira, participou ativamente das negociações de bastidores que definiram a sucessão no comando tanto do BB quanto no da Previ, defendeu pleitos de caciques do PT junto à cúpula do banco e atuou como lobista de luxo de empresários interessados em ter acesso à direção e ao caixa da instituição. Sua agenda de compromissos como chefe do gabinete da Presidência em São Paulo, obtida por VEJA, mostra que, graças à intimidade com o então presidente, a mulher que num passado não muito remoto era uma simples secretária se transformou numa poderosa personagem do governo Lula.
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Renan, o indestrutível
Há seis anos, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) deixou a presidência do Senado pela porta dos fundos. Acusado de ter despesas pessoais pagas por uma empreiteira, Renan teve suas contas devassadas, perdeu musculatura política e não lhe restou outra saída senão renunciar ao posto. Conseguiu, porém, evitar a cassação do mandato em plenário e, agora, é considerado nome certo para comandar o Congresso até 2014, ano da corrida presidencial. Convencido do seu amplo favoritismo, Renan procurou fugir dos holofotes nos últimos dias. Só uma catástrofe tira a sua vitória. Como maior bancada do Senado, o PMDB tem a prerrogativa de indicar o novo presidente.
Além de não possuir adversários em condições de derrotá-lo no interior do partido, Renan conta com a simpatia de legendas da oposição, como o PSDB, partido que ajudou a fundar na década de 1980. No apagar das luzes de 2012, senadores da chamada ala rebelde do PMDB até ensaiaram lançar uma candidatura alternativa. Foram cogitados os nomes dos senadores Luiz Henrique (SC) e Waldemir Moka (MS), mas eles recuaram, cientes da falta de votos para superar Renan. “Só entro na disputa se tiver a certeza da vitória”, blefou Luiz Henrique, praticamente jogando a toalha.
Embora torçam o nariz para sua eleição, porque sabem que terão de negociar cada votação importante numa mesa de cacife muito alto, integrantes do governo chegaram à conclusão de que Renan é um mal necessário. Concluíram também que o Planalto não tem como atropelar uma bancada experiente como a do PMDB no Senado para fazer valer sua vontade. O Palácio do Planalto até tentou emplacar Eduardo Braga (PMDB-AM) na cadeira de presidente, nomeando-o líder do governo. Não deu certo. O outro plano era trabalhar nos bastidores pelo nome do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Mas Lobão não quis deixar a Esplanada. “Ele quer ficar no ministério. Renan e Lobão já conversaram sobre o assunto e meu pai declinou da candidatura em favor do Renan”, conta o senador Lobão Filho (PMDB-MA). A saída do Executivo foi deixar o jogo correr sozinho. Bom para o indestrutível Renan, acostumado a altos e baixos em sua trajetória.
Oportunismo até o fim
Prestes a cumprir pena de seis anos e 11 meses em regime semiaberto, o petista José Genoino (SP) ignorou o bom-senso, desafiou o Supremo Tribunal Federal e colocou o Legislativo no caminho da desmoralização ao tomar posse como deputado federal na tarde da quinta-feira 3. Mesmo condenado pelo STF pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha, por ter avalizado dois empréstimos fraudulentos feitos pelo PT, Genoino não se constrangeu em assumir o mandato, embora sua cassação seja irreversível, o que o obrigará a deixar o Congresso pela porta dos fundos nos próximos meses. “A Constituição me reserva esse direito e estou em plena capacidade de exercer a função de legislador”, disse. “Minha posse é resultado dos mais de 92 mil votos que recebi.”
Os votos recebidos em 2010, porém, não foram suficientes para elegê-lo e lhe foram conferidos antes que sua participação no mensalão fosse analisada pelo STF. Genoino figurou como suplente da coligação e só conseguiu a vaga depois da vitória do petista Carlinhos Almeida na disputa pela prefeitura de São José dos Campos. Almeida era o titular do mandato e sua renúncia para ocupar o cargo de prefeito deixou o caminho livre para o ex-presidente do PT, que preferiu afrontar o espírito da Lei da Ficha Limpa e manchar ainda mais a sua biografia, em vez de abrir mão do salário de congressista e de outros benefícios.
Os novos prefeitos passam o pires
A cerimônia de posse do petista Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo foi marcada por um alerta de seu antecessor. Ao passar o cargo na terça-feira 1º, o ex-mandatário paulistano Gilberto Kassab (PSD) fez um diagnóstico sobre a condição em que se encontra o caixa da maior cidade do País. “A situação financeira do município é extremamente difícil”, disse Kassab. “A dívida com a União é impagável. As prestações, com juros inadequados, passam dos R$ 4 bilhões anuais, prejudicando nossa capacidade de investimento.”
O alto endividamento não é exclusividade da capital paulista. A maioria dos administradores das grandes cidades brasileiras enfrenta dificuldade em encontrar recursos para obras ou projetos em suas contas. O problema, porém, é mais grave em lugares como Salvador, Curitiba, Campinas e Manaus. Em São Paulo, há meses o staff de Haddad estuda meios para levantar recursos capazes de custear promessas de campanha. Para dar uma ideia da encrenca que o novo prefeito paulistano terá pela frente: um dos carros-chefe da propaganda petista, o plano urbanístico “Arco do Futuro”, que em linhas gerais consiste no desenvolvimento de regiões periféricas, custaria R$ 20 bilhões.
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