Época
A maior batalha de Lula
Foi no grito que o operário Luiz Inácio Lula da Silva liderou as assembleias e as greves no ABC paulista no fim dos anos 1970 e começo dos 1980. Uma das imagens mais marcantes do período é Lula discursando para uma multidão no Estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, sem microfone. Cada frase sua era repetida pelos mais próximos, depois repassada para a turma de trás, formando uma onda que levava a mensagem até as bordas mais distantes do estádio. Falando e discursando demais, Lula fundou o PT, defendeu as Diretas Já, chegou à Presidência, foi reeleito e construiu uma sucessora. No gogó, encantou plateias selecionadas até se firmar como um fenômeno de popularidade internacional. Para horror dos detratores e orgulho dos fãs, Lula não consegue ficar calado.
Nos próximos meses, Luiz Inácio Lula da Silva deve falar menos. O câncer de laringe diagnosticado no dia 28 de outubro o obrigará a poupar a voz. Lula tem pela frente uma luta árdua para se manter vivo e preservar sua razão de viver. Num vídeo de agradecimento gravado na última terça-feira, pouco antes de deixar o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Lula dá mostras da importância que atribui A sua capacidade de mobilizar as pessoas por meio da fala. “Lamento não poder dizer um ‘companheiros e companheiras’ bem forte.” Com a voz cheia de falhas, despede-se assim: “Até a primeira assembleia, o primeiro comício ou o primeiro ato público”. Lula tem consciência de que, na essência, é aí que reside seu maior talento.
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A voz do ex-presidente Lula, caracteristicamente rouca, não era a mesma havia cinco semanas, quando ele fez uma palestra remunerada para o Banco Santander, em Londres. Na plateia, estava José Camargo, seu amigo e conselheiro do Instituto Lula. Segundo Camargo, a alteração no timbre de voz era perceptível. Cansado e indisposto, em decorrência de problemas estomacais, Lula fez uma opção pouco fiel a seu estilo: leu um discurso ao longo de quase 60 minutos. Não empolgou. Terminado o evento, saiu rapidamente. “Ele estava muito diferente do orador que, meses antes, arrancou aplausos em pé dos funcionários da Telefônica na mesma Londres”, diz Camargo.
Um dia antes da descoberta do tumor, Lula comemorou 66 anos, com uma festa em seu apartamento, em São Bernardo. Ao cardiologista Roberto Kalil Filho, seu amigo e médico há 22, reclamou: “Estou com um pigarro na garganta há uns 40 dias. Só me dão pastilha”.
PublicidadeKalil disse que ele precisava ir ao Sírio-Libanês no dia seguinte. Fazia um ano e meio que Lula não passava por um check-up. Segundo Kalil, ele respondeu assim: “Não quero fazer exames. Se fizer, vão descobrir que tenho um câncer igual ao do meu irmão”.
Talvez mais que intuição, a desconfiança de Lula baseava-se em probabilidade. Além da mãe, dona Lindu, Lula perdeu os tios maternos e dois irmãos para o câncer. Seu irmão mais velho, Jaime, teve um tumor na laringe semelhante ao que o acomete. Não bastasse o histórico familiar, Lula foi fumante desde a adolescência.
“Ele me contou que, nas fases mais duras da vida, quando estava desempregado e morando com a mãe, não tinha dinheiro para comprar cigarro. Então, saía pegando bituca do chão, na rua mesmo, para fumar”, diz a jornalista Denise Paraná, autora da biografia Lula, o filho do Brasil. Lula abandonou sua cigarrilha apenas em janeiro de 2010, depois de uma crise de hipertensão.
Lula teve sorte de descobrir o tumor de 3 centímetros antes que atingisse as cordas vocais. Tecnicamente, é chamado de carcinoma epidermoide e está bem perto delas. Assim que recebeu o diagnóstico, ao lado de sua mulher, Marisa, Lula avisou os filhos e a presidente, Dilma Rousseff. Em seguida, determinou que a assessoria de imprensa do Sírio-Libanês soltasse uma nota sobre o câncer recém-descoberto. Foi pela imprensa que amigos e colaboradores souberam da doença. Lula será tratado com uma combinação das drogas docetaxel, cisplatina e 5-fluourouracil. É uma quimioterapia pesada, que pode provocar muito cansaço e alterações na voz. Serão três sessões, com intervalo de 21 dias entre elas.
O SUS que funciona; O SUS que fracassa
Na mesma manhã em que a notícia do câncer do ex-presidente Lula foi divulgada, alastrou-se na internet um movimento em defesa de que ele se trate no Sistema Único de Saúde (SUS). O combustível das manifestações é uma mistura de preconceito, falta de conhecimento sobre o serviço público de saúde e boa memória.
O preconceito
Talvez pelo fato de Lula ter uma origem humilde, há quem se incomode ao vê-lo ser atendido no Sírio-Libanês, uma instituição de elite. Segundo o cardiologista Roberto Kalil Filho, Lula e a ex-primeira-dama Marisa têm um plano de saúde da empresa SulAmérica. É difícil conceber, porém, que um ex-presidente mostre a carteirinha do convênio quando é admitido, de braços abertos, num hospital. ÉPOCA fez essa pergunta ao Sírio-Libanês e recebeu a seguinte resposta: “Legalmente, não podemos informar como o paciente paga nem qual é a fonte pagadora”. Os privilégios garantidos às autoridades podem ser questionados, mas não é justo que o ataque seja pessoal. Lula não é o único a desfrutar as prerrogativas do poder. O Senado garante um excelente plano de saúde aos 81 senadores, cônjuges e filhos de até 24 anos que estiverem na universidade. Os ex-senadores têm o mesmo direito. No total, cerca de 400 pessoas colocam na conta do Senado suas despesas de saúde.
E ainda tem mais
Adinâmica dos escândalos em Brasília ensina que, quando o acusado deixa o governo, a situação arrefece. O caso do Ministério do Esporte contraria essa lógica. Orlando Silva deixou o cargo, mas a crise que chegou a seu antecessor, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), está longe do fim. Nos próximos dias, a Justiça Federal receberá um processo em que Agnelo é acusado de receber dinheiro desviado do Esporte para uma organização não governamental – prática denunciada em outros episódios envolvendo a pasta. O caso expõe ainda mais o atual governador, depois de ÉPOCA ter revelado que ele ajudou o policial militar e ongueiro João Dias a montar uma farsa na defesa de um processo sobre desvios de R$ 2 milhões. Agnelo nega a proximidade com Dias, mas foi desmentido pelo conteúdo de gravações telefônicas.
No dia 27 de outubro, o juiz Omar Dantas Lima, de Brasília, determinou o envio do inquérito 018/2008 à esfera federal. Segundo a polícia, o presidente do Instituto Novo Horizonte, Luiz Carlos Medeiros, desviou R$ 3,4 milhões recebidos dos ministérios do Esporte e da Ciência e Tecnologia. De acordo com a testemunha Michael Vieira da Silva, Agnelo recebeu parte dos recursos desviados. Michael diz ter presenciado conversas telefônicas em que Agnelo pedia dinheiro a Medeiros. Diz ainda que Medeiros doou computadores e ajudou a financiar a campanha de Agnelo ao Senado em 2006, ao promover festas com garrafas de champanhe de R$ 300.
“Tal contribuição foi decisiva para que Agnelo repassasse o convênio do programa Segundo Tempo para a ONG”, diz Michael. Medeiros disse à polícia que Agnelo não teve participação na liberação dos recursos para sua entidade. Em nota, Agnelo nega ter recebido dinheiro de Medeiros e diz que não facilitou o convênio. Afirma apenas que Medeiros apoiou sua campanha.
Wanda Engel: “Vai ser uma geração perdida”
Três semanas atrás, a educadora wanda engel levou um susto ao ver a remetente do e-mail em sua caixa de entrada: Hillary Clinton, secretária de Estado dos Estados Unidos. Na mensagem, um convite para fazer parte do exclusivo Conselho Internacional de Liderança Feminina, ligado ao governo americano. Wanda é a única brasileira do grupo – não por acaso. Desde os anos 1980, a professora de geografia que virou ministra da Secretaria de Assistência Social do governo FHC milita pela educação e pela erradicação da pobreza. Foi ela quem unificou o cadastro dos programas sociais que, no governo Lula, deram origem ao Bolsa Família. Filha de um imigrante alemão e de uma servente – ambos só com a 4a série –, essa carioca do Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro, enveredou pela área da assistência inspirada na ajuda que recebeu da escola em que estudou. Eram livros, uniforme, passagens de ônibus e cestas básicas. O doutorado em educação e a experiência em Washington, como funcionária do Banco Mundial, não suprimiram o palavreado de quem já gastou muita garganta e muito giz dando aulas. Ela se refere ao estudante com o termo genérico de “o menino”.
Justiça bloqueia bens de ex-governadores do Amapá
Os bens dos ex-governadores do Amapá Waldez Góes (PDT) e Pedro Paulo (PP) foram bloqueados pela Justiça por improbidade administrativa. A decisão diz respeito ao caso dos empréstimos consignados de funcionários públicos que não foram passados para instituições financeiras. O decreto foi expedido pelo juiz Luiz Carlos Kopes Brandão.
Pela lei que autoriza o empréstimo consignado, o funcionário toma dinheiro emprestado de uma instituição financeira com anuência do patrão. A partir daí, um valor passa a ser abatido mensalmente de seu salário até a quitação da dívida. É possível comprometer até 30% do salário com esses abatimentos. Os juros são de 2% ao mês.
Mas não era isso o que ocorria com os descontos dos servidores públicos do Amapá desde novembro de 2009. Segundo o Ministério Público, Waldez Góes, então governador, determinou que o Estado deixasse de repassar aos bancos os valores descontados na folha de pagamento dos servidores. Fez isso para tentar recompor as finanças do Amapá. Ao assumir o governo no lugar de Góes, que se afastou para se candidatar ao Senado em abril de 2010, Pedro Paulo manteve o procedimento.
IstoÉ
A grande batalha de Lula
Na vida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aquele não seria um sábado qualquer de tempo nublado em São Paulo. Despertado por um celular blackberry, acomodado numa das cabeceiras da cama de seu apartamento de São Bernardo do Campo (SP), Lula, sempre acompanhado por dona Marisa, começou a se preparar às oito horas da manhã do dia 29 de outubro para o início de uma das maiores, senão a mais difícil, batalhas de sua trajetória – uma existência indiscutivelmente marcada pela superação de adversidades. “Hoje será um dia daqueles, galega”, vaticinou o ex-presidente à mulher. “Mas vou tentar ser forte, como sempre”, completou. Lula sentiu medo e até hesitou em sair de casa para realizar o teste definitivo que comprovaria se um tumor, detectado em exames realizados na sexta-feira 28, era maligno ou não. Tumores são a sina da família de Lula. Levaram sua mãe, todos os tios maternos, um meio-irmão, o Lulinha, e a irmã Marinete. A doença também maltratou outros dois irmãos, Jaime e Maria, que conseguiram superá-la. Escaldados com esse dramático histórico familiar, no caminho até o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Lula e Marisa ficaram o tempo inteiro de mãos dadas. Apreensivos, quase não se falavam.
Depois da bateria de exames, o ex-presidente ouviu a confirmação do cardiologista Roberto Kalil Filho, amigo de longa data e médico particular da família há 20 anos. “Presidente, o senhor tem um câncer na laringe”, avisou Kalil, com seu estilo direto. Eram 11 horas da manhã. Ao receber o diagnóstico, o ex-presidente apertou mais forte a mão de Marisa e emudeceu por um instante, como se tomasse fôlego para enfrentar os próximos meses. Marisa, que tinha agendado um check-up no dia anterior para investigar uma dor de cabeça terrível parecida com uma sinusite, se desesperou. Desabou no choro, amparada por Lula. Começava ali a nova e árdua luta pessoal e familiar do ex-presidente.
Menos de uma semana havia se passado desde o momento em que o ex-presidente se queixara de dores fortes na garganta e notara uma rouquidão diferente e mais intensa. O primeiro alerta foi dado, ainda na segunda-feira 24, durante viagem a Manaus, pela presidente Dilma Rousseff. “O homem não está legal”, disse Dilma num telefonema a Kalil. O ex-presidente resistia em ir ao médico. “Você precisa caçar o homem”, insistiu Dilma com Kalil. Lula terminou aparecendo no Sírio para acompanhar Marisa. A esposa também estava achando estranha a rouquidão de Lula e insistiu para que ele fosse examinado. Quem primeiro observou o presidente foi o otorrinolaringologista Rubens Brito Neto, que constatou a existência de uma massa na garganta de Lula. Naquela mesma sexta-feira 28, foi iniciada a investigação médica para determinar o estadiamento e a localização do tumor. As imagens dos exames revelaram um câncer situado na epiglote, em uma região onde as cordas vocais se unem, medindo cerca de três centímetros. A primeira impressão dos médicos foi de que o tratamento poderia ser cirúrgico, algo que Lula aceitou imediatamente. Mas os resultados da biópsia, no sábado 29, e outros exames mudaram as perspectivas da equipe, que optou pela necessidade de sessões de quimioterapia e radioterapia.
As suspeitas sobre o dono do cofre
O senador Cícero Lucena (PSDB-PB) é um parlamentar de atuação discreta. Não faz discursos que se destacam e tampouco tem projetos de maior impacto na vida do País. Mesmo assim, o tucano da Paraíba conseguiu se tornar o primeiro-secretário do Senado, com a função de administrar a conta bancária da Casa, cujo orçamento anual chega a R$ 3 bilhões. Além do prestígio entre seus pares, Lucena tem autonomia para atuar nas contratações e nas compras feitas para o Senado com recursos da União. O problema para os contribuintes é que por trás dessas tarefas executivas está um político que é alvo de investigações em diferentes esferas da Justiça. No último dia 27 de outubro, a ficha corrida do senador ganhou um novo capítulo. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentou denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) acusando Lucena de fraudar licitações e beneficiar duas empreiteiras, quando era prefeito de João Pessoa, entre 1997 e 2004.
O novo inquérito reacende um problema do qual Cícero Lucena pensava já ter se livrado em 2009. Naquela ocasião, o Tribunal de Contas da União (TCU) arquivou um processo que envolvia suspeitas de superfaturamento e repasse irregular de recursos federais para obras da capital da Paraíba. As acusações de sobrepreço arquivadas pelos ministros do TCU envolviam as empresas Coesa Engenharia e Coeng Construções, exatamente as citadas na denúncia apresentada ao STF este mês. O TCU havia baseado sua decisão em pareceres dos órgãos técnicos do Tribunal de Contas da Paraíba, que alegaram diversidade de interpretações sobre os custos de materiais e serviços de engenharia. Mas, se os ministros do TCU se convenceram há dois anos de que era impossível comprovar o crime contra os cofres públicos, agora o Ministério Público Federal não aceitou os argumentos apresentados por Lucena e pelas empresas. A PGR juntou novas provas, anexou documentos e enviou 650 páginas de acusações ao Supremo. No processo, constam dados fiscais e citações sobre a conduta dos agentes públicos envolvidos nas contratações. Pesam contra o senador suspeitas de beneficiamento nos contratos e inobservância da lei de licitações.
As acusações da PGR à conduta de Cícero Lucena recheiam ainda mais o currículo judicial do parlamentar, composto por outro inquérito, uma ação penal e uma dezena de processos na Justiça Federal da Paraíba. Hoje, o paraibano é o senador com o maior número de acusações por mau uso do dinheiro público. Procurado por ISTOÉ, o senador não deu nenhuma resposta. Lucena parece ser o homem errado no lugar errado.
O drama que empurrou um deputado para o exílio
Em três anos, a polícia ficou sabendo de 27 planos para assassinar o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL/RJ), 44 anos. Quase uma ameaça de morte por mês. Mas foi só no mês passado que soou o alarme máximo: os órgãos de inteligência da Polícia carioca detectaram sete planos para acabar com a vida dele, todos encomendados por milicianos. Mesmo para alguém como Freixo, que já havia incorporado a ameaça de morte à rotina, foi um baque violento. O deputado, segundo depoimentos de seus amigos e familiares, ficou muito abatido. Em meados de outubro, quando compareceu à Câmara dos Vereadores para ser homenageado como cidadão honorário da cidade do Rio de Janeiro não conseguia mais disfarçar a emoção. Engasgou na introdução de seu discurso: “A minha mãe… a minha mãe… a minha mãe e os meus filhos nunca me pediram para recuar, porque eles sabem que se isso acontecer, eles (os milicianos) teriam conseguido me matar, mesmo sem tirar a minha vida.” Na terça-feira, 1o de novembro, mesmo depois de ter visitado o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que lhe prometera mais segurança, Freixo foi obrigado a desistir. O crime tinha vencido: o deputado que combateu as milícias cariocas embarcou numa viagem organizada às pressas para destino ignorado no Exterior, com a família, a convite da Anistia Internacional. Começou, assim, o exílio forçado do homem que serviu de modelo para o professor ético do filme “Tropa de Elite”.
Miguel, o fraudador
Ao montar o esquema que drenou milhões do Ministério do Esporte para os cofres do PCdoB, o atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), recorreu a um especialista. Trata-se do comerciante maranhense Miguel Santos Souza, 56 anos, uma espécie de empresário do setor de fraudes, muito requisitado em Brasília. Homem assíduo de gabinetes de ministros e parlamentares e visto com regularidade em licitações públicas na Esplanada, Miguel opera há mais de dez anos uma verdadeira fábrica de empresas laranjas usadas em contratos e convênios com o governo. ISTOÉ descobriu que várias dessas empresas, mesmo incluídas na lista negra de fornecedores da União, conseguiram entrar em pelo menos cinco ministérios comandados pelo PT e base aliada. Também abocanharam contratos no STF, na Câmara e no Exército. Miguel operou até para o ex-governador do DF José Roberto Arruda, que foi obrigado a renunciar no ano passado depois de ser flagrado em vídeo recebendo propina. Miguel e Arruda são réus num processo que corre na Justiça de Goiás. Documentos em poder do Ministério Público, obtidos por ISTOÉ, revelam que o atual operador de Agnelo fraudou convênio com o Incra e repassou parte do dinheiro para o caixa 2 da campanha de Arruda a deputado federal em 2002.
O organograma do esquema de Agnelo, revelado por ISTOÉ na última edição, ensejou um pedido de convocação para o governador do DF depor na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados. Na organização, Miguel Santos Souza ocupa o cargo de coordenador do núcleo de fraudes, responsável por criar empresas e recrutar ONGs. As falcatruas são tantas que parlamentares, com base na reportagem de capa de ISTOÉ feita semana passada, passaram a articular, além do depoimento de Agnelo, a abertura de uma CPI para apurar os desvios do programa Segundo Tempo. Miguel está diretamente ligado ao PM João Dias, homem de confiança de Agnelo. Assim como o PM, que ergueu uma mansão e comprou carros esportivos com dinheiro desviado, Miguel também investiu. Comprou uma chácara no Lago Norte, com cascata e viveiro de animais raros, um apartamento no Plano Piloto e um prédio de quitinetes, que utiliza como sede de suas empresas-fantasmas. O comerciante também é um dos donos da construtora Citel. Na semana passada, a reportagem procurou Miguel em todos os seus endereços. Só conseguiu localizá-lo em Alagoas, para onde foi depois que surgiram as denúncias envolvendo seu nome. Ele negou ter participado dos desvios no Segundo Tempo e se irritou quando questionado sobre o processo que responde na Justiça ao lado de Arruda. “É tudo uma grande mentira”, disse.
Conspiração de Garotinho
Um relatório reservado da Agência Central de Inteligência da polícia do Rio de Janeiro informa que no Estado há um grupo formado por políticos e delegados interessado em boicotar o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). No documento que contém o carimbo de “urgentíssimo” e recebe o número 463/11-0007/S12, os agentes da Central de Inteligência relatam que o principal objetivo do grupo seria desgastar publicamente a imagem do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e provocar a exoneração de toda a cúpula da Secretaria de Segurança Pública para colocar nos cargos disponíveis pessoas que possam “vir a atender interesses escusos e particulares de seus membros”. Assinado em 28 de setembro, o relatório é parte de uma investigação ainda em curso, mas que já detectou como membros do grupo o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), ex-governador e ex-secretário de Segurança; e os antigos chefes da Polícia Civil Álvaro lins e Ricardo Hallak. Segundo as investigações, o grupo força a divulgação de notícias negativas e chega a fabricar fatos para provocar um noticiário contra o secretário e seus principais auxiliares.
Para chegar às conclusões apresentadas no relatório preliminar, os agentes da Central de Inteligência acompanharam as investigações e a divulgação de diversos casos policiais e até processos judiciais. Um dos primeiros movimentos a despertar a atenção dos policiais foi a greve dos bombeiros de junho último. De acordo com as informações do serviço reservado da Polícia Militar, o movimento salarial foi apenas o pano de fundo para uma operação política liderada pelo cabo Daciolo, ligado ao ex-governador Garotinho, e que levou os bombeiros a uma mobilização contra o governo estadual. Na ocasião, a população manifestou apoio aos grevistas, mas o movimento perdeu credibilidade quando coordenou a distribuição de adesivos na zona sul do Rio com os dizeres “Fora Cabral”, numa alusão ao governador Sérgio Cabral.
Carta Capital
Doentes de ódio
As reações ao câncer de Lula expõem um Brasil tosco
Um míssil contra a corrupção
Henrique Fontana, relator da reforma política, defende o financiamento público
Coronelismo à paulista
Deputados sepultam de vez a investigação sobre a venda de emendas no estado de São Paulo
Veja
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