Edson Sardinha
O
ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) adotou um tom conciliador no
discurso de lançamento de sua pré-candidatura à Presidência da República,
realizado há pouco em Brasília. Serra evitou fazer ataques frontais ao governo
Lula e à ex-ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT, e optou por críticas
veladas aos petistas. O tucano disse que o Brasil “não tem dono” e que quer ser
o “presidente da união”.
“Não aceito o raciocínio do nós contra eles. Não
cabe na vida de uma nação. Somos todos irmãos na pátria”, declarou. “Ninguém
deve esperar que joguemos o governo contra a oposição, porque não o faremos.
Jamais rotularemos os adversários como inimigos da pátria ou do povo. Em meio
século de militância política nunca fiz isso. E não vou fazer. Eu quero todos
juntos, cada um com sua identidade, em nome do bem comum”, afirmou.
Leia
o discurso de Serrra
Aécio
sinaliza que aceita ser vice de Serra
“Somos todos irmãos na pátria.
Lutamos pela união dos brasileiros e não pela sua divisão. Pode haver uma
desavença aqui outra acolá, como em qualquer família. Mas vamos trabalhar
somando, agregando. Nunca dividindo. Nunca excluindo. O Brasil tem grandes
carências. Não pode perder energia com disputas entre brasileiros. Nunca será um
país desenvolvido se não promover um equilíbrio maior entre suas regiões”,
acrescentou.
Falanges do ódio
O discurso de
Serra havia sido procedido por críticas mais ácidas ao governo Lula,
como as feitas pelo ex-presidente Fernando Henrique, o presidente do PSDB,
Sérgio Guerra, e o presidente do DEM, Rodrigo Maia.
O pré-candidato
tucano disse que durante a campanha vai responder com serenidade aos
ataques dos adversários. “Às falanges do ódio que insistem em dividir a nação,
vamos responder com nosso trabalho presente e nossa crença no futuro. Vamos
responder sempre dizendo a verdade. Aliás, quanto mais mentiras os adversários
disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre eles.”
O ex-governador
paulista afirmou que o país acumulou muitas conquistas nos últimos 25 anos,
desde a redemocratização. E que essas transformações, como a estabilidade da
economia, a responsabilidade fiscal e a melhora da qualidade de vida da
população, não podem ser atribuídas a um único partido ou governo.
“Tudo isso em 25 anos. Não foram conquistas de um só homem ou de um só
governo, muito menos de um único partido. Todas são resultado de 25 anos de
estabilidade democrática, luta e trabalho. E nós somos militantes dessa
transformação, protagonistas mesmo, contribuímos para essa história de progresso
e de avanços do nosso país. Nós podemos nos orgulhar
disso.”
“Brasil não tem dono”
O tucano foi
adiante: “O Brasil não tem dono. O Brasil pertence aos brasileiros que
trabalham; aos brasileiros que estudam; aos brasileiros que querem subir na
vida; aos brasileiros que acreditam no esforço; aos brasileiros que não se
deixam corromper; aos brasileiros que não toleram os malfeitos; aos brasileiros
que não dispõem de uma ‘boquinha’; aos brasileiros que exigem ética na vida
pública porque são decentes; aos brasileiros que não contam com um partido ou
com alguma maracutaia para subir na vida”.
Por nove vezes, o
pré-candidato usou aquele que deve ser um dos principais bordões de sua
campanha: “O Brasil pode mais”. Em um momento de improviso, quando enaltecia as
transformações do país nos últimos anos, disse que os tucanos têm orgulho do
governo Fernando Henrique. O ex-governador paulista criticou a “omissão” do
governo federal no combate ao crime organizado e nas áreas da saúde e da
educação.
“Se tem área em que o Estado não tem o direito de ser mínimo,
de se omitir, é a segurança pública. As bases do crime organizado estão no
contrabando de armas e de drogas, cujo combate efetivo cabe às autoridades
federais”, afirmou.
Trajetória
Serra
também destacou a trajetória humilde de seu pai, feirante e imigrante italiano,
de quem diz ter tirado as maiores lições de vida. “Lembro-me do meu pai, um
modesto comerciante de frutas no mercado municipal: doze horas de jornada de
trabalho nos dias úteis, dez horas no sábado, cinco horas aos domingos. Só não
trabalhava no dia 1 de janeiro. Férias? Um luxo, pois deixava de ganhar o
dinheiro da nossa subsistência. Um homem austero, severo,
digno.”
Ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Serra
lembrou seu passado de exilado político e se classificou como um “sobrevivente”.
“Eu fui perseguido em dois golpes de estado, tive dois exílios simultâneos, do
Brasil e do Chile. Sou sobrevivente do Estádio Nacional de Santiago, onde muitos
morreram. Por algum motivo, Deus permitiu que eu saísse de lá com vida.”
Antes de começar seu discurso, o tucano pediu um minuto de silêncio às
vítimas das fortes chuvas que castigaram o Rio ao longo da semana. Durante sua
fala, o ex-governador prestou homenagem à médica sanitarista Zilda Arns, morta
em janeiro durante o terremoto que devastou o Haiti, e a ex-primeira-dama Ruth
Cardoso, que morreu em 2008. Ele apontou as duas como símbolo da luta pelo
direito à educação e à saúde no país.
Homenagem e
confusão
Em momento de improviso, Serra cometeu uma gafe
ao ignorar a origem do ex-governador do Pará Simão Jatene (PSDB). “Eu
aprendi a fazer política quando vivi no Rio, quando fiz política na Bahia, em
Pernambuco”, disse o governador, em alusão ao estado de companheiros presentes.
“Aprendi política em Rondônia, com o Jatene”, emendou, em referência ao
ex-governador tucano. Alertado pelo público, tentou corrigir. “Jatene é do
Pará? Ele me disse que era de Rondônia”, disse, ensaiando um sorriso.
O
discurso de Serra durou cerca de uma hora e foi encerrado sob aplausos
entusiasmados de políticos, militantes partidários e cabos eleitorais. O evento,
apresentado pela modelo Ana Hickmann, terminou em meio a tumulto dos
presentes, que se acotovelavam no auditório, com capacidade para 1,5 mil
pessoas. Ao fundo, um jingle de campanha: “Serra é do bem, Serra é do
bem”.
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