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Demorou apenas uma semana a tentativa dos governistas de blindar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios da denúncia de que deputados da base aliada teriam recebido dinheiro em troca de apoio ao governo nas votações. Após lerem as reportagens publicadas no fim de semana relacionadas ao publicitário Marcos Valério Fernandes, o presidente, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e o relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), chegaram à conclusão de que é fundamental ouvir o empresário acusado pelo deputado Roberto Jefferson de ser “operador” do suposto mensalão. Valério é sócio das agências DNA e SMP&B, empresas que registraram saques em dinheiro vivo no valor total de quase R$ 21 milhões, entre julho de 2003 e maio de 2005, conforme revela relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Do total, R$ 16,5 milhões foram sacados em dinheiro vivo das contas da SMPB, e R$ 4,4 milhões de contas da DNA, segundo a revista IstoÉ. A SMP&B detém a conta publicitária dos Correios. Além da estatal, as agências de Valério cuidam ainda da publicidade do Banco do Brasil, da Eletronorte e dos ministérios do Trabalho e dos Esportes. Leia também Publicidade
“Como o publicitário tem contratos com os Correios e como podemos chegar a essa possibilidade de superfaturamento em licitações, vamos proceder à quebra dos sigilos bancário e fiscal dele”, adiantou Serraglio. A Polícia Federal vai pedir a quebra do sigilo bancário da SMP&B e da DNA. A CPI dos Correios vai pedir ao Coaf, órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, os documentos aos quais a IstoÉ teve acesso. O cerco ao publicitário não pára por aí. Reportagem da Folha de S. Paulo mostra que o patrimônio de Valério saltou de R$ 3,8 milhões, em 2002, para R$ 6,7 milhões no ano seguinte. De acordo com a Folha, o retorno financeiro que as empresas proporcionaram ao publicitário no primeiro ano do governo Lula foi quase seis vezes maior do que em 2002. Segundo o jornal, o empresário omitiu quase R$ 1 milhão de sua declaração de renda em 2003. Ele não teria informado à Receita Federal que possuía R$ 960 mil em aplicações num fundo de investimento financeiro do banco Alfa. Publicidade
A Polícia Federal abriu inquérito para apurar as denúncias feitas por Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário, de que Valério manteria relações escusas com dirigentes do PT. Em depoimento à PF, Fernanda reforçou o discurso de Jefferson de que o empresário seria um dos “operadores” do mensalão. Ela será ouvida amanhã pelo Conselho de Ética da Câmara. A comissão de sindicância da Corregedoria da Câmara que apura o caso vai tentar ouvir Valério ainda esta semana. O inquérito também vai apurar a denúncia feita pela secretária de que o empresário se valeria de ligações estreitas com funcionários do Banco Central. Um deles, segundo Fernanda, daria informações privilegiadas a Valério. A PF já está de posse dos documentos do Coaf e deve convocar o publicitário a depor ainda esta semana. PublicidadeApesar da proximidade das denúncias com dirigentes do PT, o presidente do partido, José Genoino, foi taxativo ontem ao negar qualquer envolvimento da legenda com o suposto esquema de compra de deputados. “Isso é uma brincadeira, uma inverdade. Não existe, é uma acusação infundada. Eu nunca ouvi falar dessa história, é uma mentira e não tem nada a ver com o PT”, disse Genoino sobre o suposto mensalão. Contratos sob suspeita nos Correios Reportagem da revista Época trouxe mais uma denúncia sobre negócios suspeitos nos Correios. No centro do caso, sustenta a revista, está uma concorrência realizada no fim de 2003 para escolha da empresa responsável por parte das linhas de transporte de cargas para os Correios. Dono da empresa de transporte aéreo Skymaster – que faturava R$ 105 milhões por ano da estatal desde 2001– Luiz Otávio Gonçalves diz estar disposto a contar o que sabe à CPI dos Correios. Segundo ele, o Ministério das Comunicações decidiu, na gestão Miro Teixeira, renegociar os contratos de carga aérea, sob suspeita de superfaturamento. Todas as empresas do setor baixaram os preços, menos a Skymaster. Com a abertura de nova licitação, a Promodal entrou na disputa. Os Correios teriam contratado um consultor externo para definir quanto cada empresa deveria receber por quilômetro voado, o brigadeiro Venâncio Grossi. A Skymaster obteve recibos mostrando que a concorrente pagava as despesas do brigadeiro em Brasília, entre julho e novembro de 2003. A empresa teria procurado o secretário-geral do PT, Silvio Pereira, e o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que teria tentado interceder em favor da Skymaster junto ao então ministro Miro Teixeira. A empresa, no entanto, acabou perdendo o contrato. Já na gestão Eunício Oliveira, a Skymaster, alegando prejuízo, teria conseguido cancelar o contrato, o que forçou os Correios a abrirem novo pregão. A empresa acabou ganhando a disputa, cobrando mais do que antes: R$ 9,8 milhões por mês. Miro informou à revista que repassou as denúncias de suposto favorecimento à Promodal ao então presidente dos Correios, Airton Dipp. Em entrevista à Época, Dipp afirmou que nunca ouviu falar nas denúncias. |
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